Por Renato Munhoz
No Brasil, são gerados cerca de 79 milhões de toneladas de resíduos. Disso, apenas cerca de 4% é reciclado. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil deixa de ganhar R$14 bilhões com a reciclagem adequada dos resíduos sólidos.
Segundo a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos, de 2010, é obrigação dos municípios a gestão destes resíduos. Isto geralmente é feito através de um contrato com alguma empresa ou cooperativa que coleta, separa e comercializa. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o Brasil conta com mais de 1.100 cooperativas de reciclagem que são responsáveis por cerca de 30% de todo material reciclado. Existem também os coletores autônomos que, na maioria das vezes, realizam a coleta sem nenhuma forma de organização e nenhum tipo de proteção social.
A reciclagem tem se tornado cada vez mais um campo de exploração capital. Muitas empresas tem enxergado as cifras por detrás deste segmento. Existe uma ideia de que o serviço prestado pelas cooperativas deixa a desejar. Porém, o que faz com que as cooperativas muitas vezes tenham maiores dificuldades, é que elas dependem muito das políticas públicas. Ou seja, se as prefeituras não entram efetivamente no ambiente dos resíduos sólidos, deixam as cooperativas a mercê das dificuldades impostas muitas vezes pela ausência de estruturas e reféns do mercado. No entanto, é importante entender que, para além do mercado, a questão dos resíduos sólidos é obrigação dos governos como execução de políticas públicas. E, muitas vezes ao direcionar este tipo de trabalho através de contratos para as empresas, muitas prefeituras “lavam as mãos” de suas obrigações e deixam de operar um sistema interessante com impacto social importante.

Outro ponto é a Educação Ambiental. Nem empresa nem cooperativa alcançam a consciência das pessoas na separação correta dos resíduos, sem um trabalho efetivo de formação de consciência. A Educação Ambiental é o único caminho capaz de transformar qualquer realidade ambiental. Sem ela, a possibilidade de que as pessoas possam enxergar melhor como fazer e qual o impacto e importância disso em suas vidas. Sem isso não há engajamento que alcance sentido.
É preciso que a Política de Resíduos Sólidos tenha estes dois braços: a organização da coleta e um Programa de Educação Ambiental efetivo. Para que a médio prazo tenhamos um melhor aproveitamento e melhor impacto na gestão dos resíduos sólidos. Envolver as comunidades e territórios na gestão dos seus resíduos é outra forma com resultados importantes, possibilitando um aumento de volume por conta da separação e uma melhor qualidade, pois os resíduos reciclados chegam melhor preservados e secos, agregando valor.
Um caminho adotado em muitos lugares do Brasil é ter, na grade curricular das escolas, a Educação Ambiental, fortalecendo a criação de uma nova cultura e desde já a criação de projetos com impactos ambientais. As novas gerações têm maior facilidade de assimilação, pois estão herdando as consequências de todo trabalho que não foi realizado anteriormente.
Para além das oportunidades sociais e de mercado que a questão dos Resíduos Sólidos é capaz de gerar, existem as questões de responsabilidade com tudo aquilo que vem acontecendo no planeta pela inoperância dos atores que tem a responsabilidade de garantir um mundo mais sustentável que garanta a sobrevivência das espécies.
Assim não é dá para separar a pauta dos Resíduos Sólidos, da Educação Ambiental e da questão humana como um todo, pois só existirá humanidade se houver práticas que garantam de que as condições e vida existam. E isso depende muito das escolhas que fazemos hoje em detrimento do amanha que desejamos.

Renato Munhoz
Professor, teólogo historiador. Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Coordenador de Projetos do COPATI (Consórcio para Proteção Ambiental do Rio Tibagi)
Foto: Cocap