Você sabe o que é Racismo Ambiental?

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Por professor Renato Munhoz

Está na moda falar em racismo ambiental. Mas você sabe o que realmente isto significa?

O Brasil carrega a triste  marca da escravidão, vivenciada durante mais de 300 anos, formalmente e aparentemente encerrado em 1888. Esse processo, durante muitos séculos, gerou a marginalização da população negra escravizada através da diáspora forçada pelos colonizadores. Também um processo de perseguição, destruição e marginalização dos povos originários do país, os povos indígenas.

O racismo é o preconceito em relação a cor raça etnia, sobretudo das populações mais vulneráveis mais pobres, ou que historicamente foram colocadas a margem de todo o processo de organização da sociedade brasileira. Hoje, a população de pretos e pardos representam mais de 56% da população brasileira e, mesmo assim, ainda é minoria nos espaços de decisão e é maioria nos espaços de vitimização e exclusão social.

O racismo ambiental está interligado diretamente ao mesmo processo da estruturação do racismo no Brasil. As populações que foram escravizadas, ou que sofrem efetivamente com racismo no Brasil, foram sendo colocadas à margem da sociedade. No pseudo fim do processo de escravidão, os negros e negras não tiveram outra escolha, a não ser ocupar espaços que não tinham nenhum tipo de condição humana de sobrevivência e que, muitas vezes, embora livres da escravidão viviam em lugares que reproduzia ambientes até piores do que a própria senzala.

Foram empurrados para lugares que até hoje não tem condições humanas cidadãs de vida. De outro lado, a população mais pobre, muitas vezes para sobreviver, acessou e viveu às portas e, até mesmo, dentro dos lixões do Brasil. Com a implementação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, através da lei 12.305 que obrigou o fechamento dos lixões, essa população não foi realocada, foram para lugares sem as mínimas condições de vida.

Racismo ambiental: recorte racial e de classe

Outra característica do racismo ambiental é o recorte racial e de classe: quem se beneficia e quem sofre com a destruição da natureza.

Quem se beneficia são as grandes empresas que têm os seus lucros através da destruição da natureza e do clima.

Os 10% mais ricos no Brasil e no mundo emitem mais de 50% de todo carbono gerador de toda poluição existente no planeta. Os 50% mais pobres emitem apenas 10% de carbono. A população mais pobre sofre muito mais com as consequências ambientais da destruição da natureza e são os que menos impactam o ambiente.

Racismo ambiental está interligado diretamente ao racismo. As populações que sofrem com o racismo foram obrigadas a ocuparem espaços que não tem nenhum tipo de condição humana de sobrevivência
Foto: Freepik

As barragens das grandes mineradoras, Brasil afora, colocam em risco comunidades pobres e os trabalhadores que se sujeitam ao trabalho inseguro, para garantir o sustento. Como maior exemplo disso, estão Mariana e Brumadinho, onde o rompimento das barragens da Vale, impactaram e mataram centenas de vida, afetando a população mais pobre de Minas Gerais.

As consequências do racismo ambiental são vividas todos os dias:  falta de água nos períodos de seca, queimadas, enchentes, deslizamentos. A destruição ambiental recai sobre os mais pobres gerando ainda mais vulnerabilidades.

E o que fazer para mudar essa realidade? Mais uma vez o papel das políticas públicas e da organização de um sistema ambiental, que considere o acesso à moradia digna em lugares dignos, a alimentação saudável, o acesso universal ao direito à água, o direito universal à terra e a propriedade que não pode ser apenas de alguns, mas sobretudo daqueles que de fato precisam da terra para produzir o seu alimento com segurança.

Sem a efetivação dos direitos básicos de todos os seres humanos, preconizados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, não haverá a superação do racismo ambiental.

Professor Renato Munhoz

Educador, historiador, teólogo. Pós graduado em juventude gestão de programas e projetos sociais e educação ambiental. Me siga no Instagram: @profrenatomunhoz

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Foto principal: Freepik

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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