O papel do Sagrado Feminino na sustentabilidade

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Por professor Renato Munhoz

No mês em que celebramos as mulheres, para além das homenagens, é preciso pensar nas contribuições que elas podem trazer para a sociedade em que vivemos, como sujeitas e protagonistas da própria história e da nova história humana. Você já pensou na possibilidade de enxergarmos Deus a partir da dimensão do feminino?

Esta é uma dimensão cada vez mais aceita dentro da teologia cristã. Diversos teólogos já se debruçaram sobre esta dimensão que é conhecida, dentro da teologia, como o sagrado feminino.

A teóloga Maria Clara Bingemer, em uma entrevista à revista IHU on-line da Unisinos, aponta que “não se pode, porém, negar a necessidade e a urgência de apresentar a dimensão feminina de Deus. A própria Bíblia fala de Deus pai em linguagem feminina. Na Bíblia, por diversas vezes, Deus é apontado como aquele consola o povo como a mãe consola o filho. Outras vezes comparado a mãe que nunca abandona o filho. O Papa João Paulo I, conhecido como papa do sorriso, já afirmou que Deus é pai e mãe”.

Há um aceite teológico também que, na dimensão criacionista, Deus no Genesis é gerador da obra, ou seja, gerou como em ventre matriarcal a criação e os seus seres.

Sagrado feminino: Pachamama e natureza

Pensando a sustentabilidade na perspectiva do pensamento do sagrado feminino, é capaz de gerar uma contribuição na convergência de um pensamento que leve em consideração a natureza, meio ambiente e o ecossistema como gerador de vida. Além do que a dimensão de sagrado feminino pode ser um despertar de cura, conexão e empoderamento de mulheres e uma proposta que resgata a promoção da vida.

A “Pachamama”, como é chamada a terra pelos indígenas da região dos Andes, preserva uma cosmovisão de mundo, onde o protagonismo e a dimensão do sagrado passa essencialmente pelo ventre da terra.

A sustentabilidade, na perspectiva do sagrado feminino, é capaz de gerar uma contribuição na convergência  que leve em consideração a natureza, meio ambiente e o ecossistema como gerador de vida
Foto: Pexels

A Agroecologia é a dimensão mais próxima desta compreensão porque, segundo Ana Primavese – uma das matriarcas da agroecologia no Brasil -, aponta as dimensões de sintropia (ordem na confusão), de permacultura (planejamento e execução de ocupações sustentáveis, unindo práticas ancestrais aos modernos conhecimentos das áreas), de troca e simbiose (interação entre duas espécies que vivem juntas entre os elementos da natureza. Estas dimensões são relacionadas às capacidades femininas a capacidade de gerar, cuidar e promover.

Nas religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda, e nas comunidades tradicionais, o feminino tem tido um papel muito interessante na ideia da promoção de uma cultura onde os saberes ancestrais estão sendo preservados e compartilhados. É cada vez mais comum em aldeias indígenas brasileiras encontrarmos mulheres desempenhando o papel de cacique e pajés.

É interessante perceber a importância da mulher como líder de seu povo, detentora de uma energia vital, capaz de agregar a todos sem distinção.

É um novo paradigma que enfrenta a sociedade eurocêntrica do machismo e do androcentrismo (huminadade centrada na figura do humano macho): apontando uma saída pela “matriarcalidade”, superando a visão reducionista do papel da mulher, colocando-as como sujeitas e protagonistas de um novo pensamento global.

Sustentabilidade sem mudança de pensamento  é balela ou, como diria Chico Mendes, é apenas jardinagem.  

Professor Renato Munhoz

Educador, historiador, teólogo. Pós graduado em juventude gestão de programas e projetos sociais e educação ambiental. Me siga no Instagram: @profrenatomunhoz

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Foto principal: Pexels

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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