Por professor Renato Munhoz
A maior religião do planeta conta hoje com mais de dois bilhões de pessoas que professam a fé nas religiões que derivam do cristianismo. O ponto de partida para a relação dos cristãos com o Meio Ambiente talvez seja uma das compreensões mais antigas, oriunda da tradição judaica, derivadas das religiões monoteístas, que atribuem a Deus o papel da criação, ou seja, ele é o criador de todas as coisas. Dando origem inclusive a corrente filosófica conhecida como criacionismo.
A fonte desta narrativa está contida na Bíblia Sagrada no chamado livro da criação, o Genesis. Ali conta a história de que, antes de qualquer coisa, o Espirito de Deus pairava sobre as águas, e que em 7 dias ele criou todas as coisas, sendo a última delas o ser humano, que recebeu a tarefa de cuidar de tudo. E o relato preserva a ideia de que, no último dia, o Criador descansou.
A fonte sagrada da Bíblia faz, dali para diante, o relato da história de um povo que recebe a missão de preservar todas as obras de Deus, aprecia-las e honrar o nome de quem o criou. Isso aparece fortemente nos escritos como no Salmo 92: “como são belas tuas obras ó Senhor”.
Para isto, Deus faz uma aliança com seu povo, desde Abraão. Esta aliança representa o compromisso deste povo em fazer plenamente a vontade do criador.
Durante muito tempo, e muitas vezes ainda hoje, na cultura popular, as tragédias ambientais, são vistas como sinal de castigo, pelo fato de muitas vezes o povo não fazer vontade de Deus.
Maior exemplo disso é a literatura da Arca de Noé, que está no livro de Gênesis, demonstrando ainda mais a aliança com toda a criação. E que diante do dilúvio, Deus pede a Noé que construa uma arca e que preserve dentro dela diversas espécies, para que a criação se perpetue. Esta aliança cosmológica do Criador com a criatura demonstra o amor e o cuidado para com cada ser que vive na terra.
A ética inaugurada por esta cosmovisão possibilita uma relação ao qual, em sua obra, Leonardo Boff teólogo cristão, chama de é de ética do cuidado. O atual papa Francisco, não por menos, fez a escolha do seu nome relacionado a uma missão, baseada na missão de São Francisco de Assis, de resgatar a defesa integral da vida humana, a partir inclusive dos aspectos ambientais. Não por menos lança como primeiro documento a encíclica Laudato Si (Louvado Seja), que trata dos grandes desafios ambientais do planeta, promovendo uma visão estratégica de preservação e lançando duras críticas ao modelo atual de desenvolvimento que, no ritmo que caminha, poderá inclusive conduzir a sociedade a uma barbárie.
É necessário e urgente mudar o modo de visão de desenvolvimento que atenda os interesses de apenas alguns grupos, corporações e nações para um modelo pautado na ideia de um desenvolvimento que considere novas formas de relação econômica. Que esteja pautado no desenvolvimento integral considerando, inclusive, todos os seres que compõem ao que Francisco chama de Casa Comum, na ideia justamente de que o Criador de todas as coisas é o guardião, mas conta com cada um e cada uma de nós para que façamos a nossa parte.
Professor Renato Munhoz
Teólogo e Historiador. Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade.
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