Por Renato Munhoz
Estamos vivenciando no Brasil um período de grandes desastres naturais. Mas o que está acontecendo? Por que parece que a intensidade destes desastres tem aumentado?
Não é de agora que os grandes cientistas do mundo têm alertado sobre os efeitos do aquecimento global e que ninguém no planeta escapará de sentir mais ou menos estes impactos.
O que está acontecendo na verdade é uma alteração significativa, da ordem natural das coisas. É como diz a canção: “onde a chuva caia, quase todo dia já não chove mais”. Nas regiões amazônicas por exemplo é comum os rios encherem mais em determinados períodos e, em outros, passarem por período de seca. A natureza se adaptou, se recria e reinventa a cada período, é claro que dentro de uma ordem natural.
Nós, brasileiros, não estamos preparados para estes fenômenos. Veja o caso do Rio Janeiro em 2011, onde houve um dos os maiores deslizamentos e alagamentos de sua história. Em muitos lugares do Brasil, muitas barragens foram construídas muito perto das cidades, muitas cidades de Santa Catarina foram se constituindo a margem dos rios. É o caso de Rio do Sul, por exemplo, que por diversas vezes passou por grandes alagamentos.
O fato é que as casas muitas vezes são construídas com material de segunda ou de refugo, ou com tecnologias que não suportam alta precipitação das chuvas, sobretudo nas regiões mais pobres. São atingidas em cheio pelas águas. O fato de os trabalhadores decidirem morar perto do local de trabalho, evitando custos e grandes locomoções colocam muitas vezes em situação de vulnerabilidade. É o caso dos vilarejos e cidades de Minas Gerais, onde as pessoas moram perto das mineradoras e, consequentemente, das barragens e de todas as formas de possíveis riscos.
Mas o que mudou?
O que mudou foi a intensidade dos fenômenos. Primeiro, no tempo. Têm se tornado cada vez mais cotidianas estas realidades. Segundo, na proporção. Os fenômenos de alta precipitação de chuvas e secas poderão cada vez mais ser aumentar sua intensidade. Terceiro, na sua geografia. Locais que aparentemente pareciam livres, estão sendo atingidos em cheio.
Outro fator é de que, como não há mudança de rumo na governança ambiental do mundo, como prova o resultado frustrante da Conferência do Clima a COP 26, onde não há nenhum apontamento para a alternância de modelo. Desconsiderando todos os desastres ambientais ocorridos no mundo por conta do Aquecimento Global.
Qual a saída?
Como os resultados são de médio e longo prazo, isso se houver alternância de modelo, é preciso construir uma relação de convivência. Isso não significa que tenhamos que aceitar como natural. Mas é importante estarmos preparados. Em muitos lugares do mundo existem os comitês gerenciadores de crise que, diante da aproximação dos períodos ou do anúncio de possíveis desastres naturais, se articulam e determinam as ações que minimizem os possíveis impactos.
Muitos países do mundo criaram uma relação de convívio com os desastres naturais. As construções, por exemplo, já são pensadas de forma a garantir a segurança das pessoas em tempos de enchentes, tornados, furacões. Em regiões onde há muitos terremotos, por exemplo, muitas casas já contam com espaços de abrigo, para fugir no momento em que isso acontecer.
É preciso também que o haja celeridade na gestão de um fundo nacional de desastres ambientais. Uma politica pública com investimentos para trabalhar na prevenção, na mitigação e na minimização dos impactos causados por tais fenômenos.
Embora possa parecer um pouco conformista, a verdade é uma só. Os fenômenos de desastres ambientais já são uma realidade, o que muda é a forma de como lidamos com estas situações. Ou encaramos de uma vez por todas e podemos com isso ter dois tipos de atitude. Uma no sentido de começarmos a construir ações práticas que mudem a realidade do Meio Ambiente. De ações cotidianas até as ações estratégicas na busca de novos modelos de desenvolvimento sustentável. Outra na direção de estarmos preparados e exigirmos de que nossas cidades, estados e Brasil, nos garantam o mínimo de proteção social e ambiental e também façam sua parte no que diz respeito aos desastres naturais, na sua prevenção e no enfrentamento.
A natureza está reagindo àquilo que nós seres humanos estamos fazendo com ela. Não que ela esteja com raiva ou esteja fazendo isso de forma proposital. Ela também sofre. Porque se altera e se perde na sua ordem natural. Tratar a natureza como parte de nós, sentir o que ela sente, para que ela também sinta o que sentimos. Não é o fim dos tempos. É apenas uma oportunidade.

Renato Munhoz
Professor, teólogo historiador. Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Coordenador de Projetos do COPATI (Consórcio para Proteção Ambiental do Rio Tibagi)
Foto: Isac Nóbrega/PR
Uma resposta
Ótimos apontamentos, Renato. Realmente temos um grande desafio no Brasil sobre a adaptação às mudanças climáticas. Esse tema é urgente!