Por professor Renato Munhoz
Em Londrina, nos últimos dias, as notícias dão conta da situação da reciclagem no município, que está caótica na questão da coleta.
São vários pontos de vista que devem ser considerados neste processo:
Primeiro, a população que se queixa da não coleta do reciclado nas programações agendadas. Tarefa essa que é das cooperativas contratualizadas com o Município, para separação e a destinação correta destes resíduos.
Segundo, a fala das cooperativas que estão com uma série de dificuldades no processo de coleta e destinação, que se dá sobretudo pela dificuldade de estruturação. As cooperativas se queixam sobre a ausência de políticas públicas evidentes e voltadas a este segmento tão importante para a cidade.
Por fim, a fala do poder público, de que todas as coisas estão dentro de alguma ordem porque, apesar de tudo, a coleta está acontecendo, e aquilo que corresponde a responsabilidade do Município, no sentido de garantir os contratos e de que a coleta seja feita de alguma forma, está sendo feito.
O Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos da UEL (NINTER), que faz parte de uma rede de apoio para as cooperativas e que tem colaborado na organização de um sistema que garanta de fato aquilo que precisa ser feito na cidade, apresentou, já há algum tempo, relatório de uma pesquisa, onde vários desafios e várias questões se apresentam.
Apenas contratos de coleta e destinação
Segundo as pesquisas do órgão, Londrina ainda não tem um sistema organizado e estruturado. O que existe são os contratos com as cooperativas para que façam a coleta e a destinação. Em Londrina, as cooperativas recebem um valor que, segundo a fala das cooperativas e a fala do grupo de estudo, não tem sido suficiente para manutenção do sistema e da estrutura dessas cooperativas.
É importante ressaltar que as cooperativas são compostas, na maioria das vezes, por pessoas em situação de vulnerabilidade social e que se utilizam da coleta do reciclado e da separação para garantirem seu sustento. São dezenas de famílias no Município que estão sobrevivendo do seu trabalho através das cooperativas. A reciclagem tem um impacto que vai além da questão ambiental. Quando se garante que este serviço seja prestado por cooperativas, estamos falando de um impacto social importante.
Pensar o cooperativismo de reciclagem no município de Londrina não é apenas pensar o impacto ambiental, mas é pensar nos sujeitos que estão por detrás desta coleta. Além do serviço ambiental prestado pelas cooperativas, existe também o serviço social que minimiza muitos impactos públicos.
É importante que a política pública de reciclagem de Londrina não seja apenas uma responsabilidade da CMTU e nem apenas uma responsabilidade da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. É preciso modernizar e inovar na gestão de resíduos. Pensar de forma intersetorializada, envolvendo diversas secretarias e diversos parceiros, dentro de um grande programa de reciclagem, que passa pelo processo de educação ambiental das crianças nas escolas, pelo atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade social e pelo processo de geração de renda dentro das políticas públicas de inclusão produtiva do município.
É importante que as cooperativas não sejam responsabilizadas por esta crise em Londrina. Aliás, o que estamos vivendo é consequência daquilo que não foi feito e que ainda é possível ser feito.
Professor Renato Munhoz
Educador, historiador, teólogo. Pós graduado em juventude gestão de programas e projetos sociais e educação ambiental. Me siga no Instagram: @profrenatomunhoz
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