Por Alessandra Diehl
O alcoolismo é um transtorno crônico e recidivante e uma das principais causas de morte e de doenças evitáveis em todo o mundo. Apesar da elevada morbidade e mortalidade associadas ao alcoolismo, existem apenas alguns poucos fármacos eficazes já aprovados para esta condição. Portanto, o alcoolismo é indiscutivelmente a área mais premente de necessidades médicas não atendidas em psiquiatria já que apenas uma pequena fração dos pacientes recebem tratamentos eficazes baseados em evidências.
Os medicamentos atualmente aprovados para o tratamento do alcoolismo têm tamanhos de efeito pequenos e sua absorção clínica é praticamente insignificante. Nenhum medicamento novo foi foi aprovado desde 2004 (acamprosato), e os resultados pré-clínicos promissores falharam em se traduzir em novos tratamentos.
No entanto, evidências crescentes indicam que o sistema do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) está envolvido na neurobiologia de comportamentos de dependência, e análogos do GLP-1 podem ser usados para o tratamento do transtorno pelo uso de álcool. Os efeitos da semaglutida, um análogo do GLP-1 de ação prolongada, usado para tratar diabetes, tem sido testado em modelos animais nos correlatos biocomportamentais do uso de álcool em roedores.
O GLP-1 é um peptídeo produzido nas células L endócrinas intestinais e nos neurônios do núcleo do trato solitário, que exerce efeitos insulinotrópicos em pacientes hiperglicêmicos e diminui a ingestão de alimentos através de mecanismos centrais e periféricos.
Esperança para o alcoolismo
Evidências crescentes também sugerem que o GLP-1 modula o estresse, o humor, a cognição e o processamento de recompensas. Foi demonstrado que a administração do próprio GLP-1 ou de análogos do GLP-1 em roedores reduz os efeitos recompensadores de drogas que causam adição, incluindo estimulantes, opioides, nicotina, cocaína e o álcool.
No geral, alguns dados mostram que a semaglutida reduz os comportamentos de consumo de álcool, possivelmente através de uma redução na recompensa induzida pelo álcool e mecanismos dependentes de NAc. Como a semaglutida também diminuiu o peso corporal dos ratos de ambos os sexos que bebem álcool, os próximos estudos clínicos devem testar a plausibilidade de que a semaglutida reduz ingestão de álcool e peso corporal em pacientes com alcoolismo e com excesso de peso.
Alessandra Diehl
Psiquiatra, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
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