Skip to content

Se você bebe, o seu bebê bebe também!

Por Alessandra Diehl

Psiquiatra, Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) (gestão 2021-2023).

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) ocorre devido ao consumo de álcool durante a gestação. O uso de álcool durante a gravidez é bastante prevalente, uma vez que 22% das grávidas relatam consumir álcool durante este período. Todo e qualquer padrão de ingesta de álcool na gestação representa risco e não existe até o momento um padrão de consumo de álcool seguro durante a gestação. Daí a necessidade de triagens direcionadas e intervenção precoce para o consumo de álcool para todas as grávidas pelo risco de desenvolvimento da SAF.

As evidências mostram que o cérebro no bebê é o órgão mais afetado. No entanto, a exposição pré-natal ao álcool causa também várias mal formações craniofaciais, microcefalia, anormalidades no coração, nos rins, no fígado, no trato gastrointestinal e nos sistemas endócrinos. Além disto, a SAF é uma das principais causas não-genéticas de déficit cognitivo nas crianças em idade escolar, associado a prejuízos comportamentais e do neurodesenvolvimento, os quais tendem a gerar um alto custo para as esferas da saúde, social e econômica do país, além do alto impacto psicológico e afetivo para muitas famílias.

A SAF é grave problema de saúde pública, mas ainda subdiagnosticada e subinvestigada em vários lugares do mundo. Soma-se o fato de que esta condição não vem recebendo a devida atenção em nosso país, uma vez que apesar de não haver dados nacionais do real número de pessoas afetadas acredita-se que cerca de 1.500 a 6.000 crianças nascem com SAF todos os anos no Brasil. Outros pesquisadores são mais enfáticos em afirmar que a estimativas brasileiras giram em torno de 10 a 15 casos para cada 1000 nascimentos vivos, o que representa cerca de 45 a 50 mil por ano, ou ainda dizer que a cada hora nascem cerca de 4 a 5 crianças portadoras de SAF.

Trata-se, portanto, de uma condição que é 100% passível de prevenção. Daí a importância de ações como a obrigatoriedade de os rótulos de bebidas haver mensagens advertindo sobre os riscos de desenvolvimento da SAF em caso de consumo de álcool durante a gravidez, bem como programas de acompanhamento psicológico e cuidados em saúde para as gestantes e mulheres consumidoras de bebidas alcoólicas. Vários países, tais como Lituânia, México, Turquia e Reino Unido, por exemplo, já possuem rótulos com tais advertências nas bebidas alcoólicas.

Neste momento, está tramitando um PL 4259/2020 que institui o sistema de prevenção à SAF, bem como dispõe sobre a obrigatoriedade de advertência dos riscos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. Este PL merece o nosso apoio, visto que uma vez aprovado tem a chance de colocar o nosso país na vanguarda dos cuidados em saúde para com os portadores de SAF e as gestantes que consomem bebidas alcoólicas na gestação e, sobretudo, melhorar o sistema de vigilância epidemiológica desta condição ao mesmo tempo promover ações de prevenção para evitar novos casos.

A ABEAD lançou em setembro a campanha “Se você bebe, o seu bebê bebe também” com material para aumentar a conscientização sobre a questão e está disponível para compartilhamentos em nossas redes. Esta é uma causa que merece o envolvimento de toda a sociedade! Então, envolva-se também!

Foto: Daniel Reche no Pexels

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Designed using Magazine Hoot. Powered by WordPress.