Por Alessandra Diehl
Quem nunca sofreu ghosting que atire a primeira pedra! Muitos que estão lendo esta matéria agora já viveram uma situação assim: você estava saindo de vez em quando com aquele boy superinteressante, rolava um beijinhos e até aquele sexo maneiro, estavam conversando com frequência por Whatsapp, trocando likes, vendo os stories um do outro, trocando mensagens pelo direct ou fazendo vídeo chamadas e, de repetente, do nada…. ele some, ele desaparece da face da terra! Pois é, esse tipo de comportamento tem nome e vem sendo estudado gradativamente por alguns pesquisadores de vários lugares do mundo.
O que é ghosting?
Ghosting é um termo derivado da palavra inglesa “ghost”, que significa “fantasma”. Refere-se ao ato de uma pessoa terminar um relacionamento ou interromper a comunicação, em geral, de forma abrupta e sem explicações, simplesmente desaparecendo como um fantasma. Portanto, uma estratégia silenciosa para dissolver relacionamentos indesejados sem precisar terminá-los abertamente. Isso pode acontecer em qualquer tipo de relação, seja romântica/amorosa, sexual, de amizade ou até mesmo profissional. O indivíduo “desfaz amizade” ou “desfaz correspondência” nas redes sociais e passa a ignorar as ligações telefônicas, e-mails e mensagens de texto da pessoa que ele costumava antes se relacionar ou conviver. Trata-se, na verdade em si, do uso extremo do chamado tratamento silencioso; uma tática que tem sido considerada por alguns especialistas como uma forma de crueldade emocional.
Ghosting e o advento das plataformas de redes sociais
O conceito de ghosting surgiu quando as tradições e costumes, particularmente a comunicação, mudaram e isso tem impactado a saúde mental devido às implicações que a rejeição tem no contexto dos encontros. O surgimento da mídia, notadamente das plataformas de redes sociais, mudou tudo. Como já sabemos, a tecnologia permite uma comunicação global e rápida. Relacionamentos à distância agora podem ser estabelecidos por mensagens e videoconferências. Celulares e apps são agora umas das maneiras de as pessoas se conhecerem para estabelecer relacionamentos significativos. O aumento da “vigilância on-line”, ou seja, o monitoramento de eventos on-line, como a atividade em aplicativos de encontros, minimizou as interações “face to face” nos primeiros dias de um relacionamento, por exemplo.
Formas de ghosting
O ghosting pode se manifestar de várias formas. Cada tipo de ghosting reflete dinâmicas de relacionamento e contextos sociais distintos. Um tipo comum é o ghosting romântico, onde um parceiro em um relacionamento romântico interrompe abruptamente toda comunicação, deixando o outro parceiro confuso e angustiado. O ghosting em amizades ocorre quando uma pessoa em um relacionamento platônico se retira do contato sem explicação. Isso muitas vezes leva à ruptura de laços sociais de longo prazo. No ghosting profissional, colegas ou potenciais empregadores cessam a comunicação de repente. Esta é outra variante do ghosting que afeta a confiança e as oportunidades de carreira.
Possíveis causas do ghosting
Para algumas pessoas parece mais fácil e menos estressante encerrar relacionamentos sem explicar e defender a sua opinião perante o outro sendo sincero e, sobretudo, fazendo isso de forma responsável e menos infantil. Quem pratica ghosting pode ter uma ausência de algo essencial para relacionamentos adultos, principalmente responsabilidade emocional. Em outras palavras, falta-lhes a capacidade de reconhecer e respeitar os sentimentos e necessidades emocionais do outro, além de ser honesto e transparente sobre os seus próprios sentimentos.
Algumas pessoas apresentam esse comportamento, porque possuem extrema dificuldade de lidar com confrontos emocionais. Outras pessoas com certos traços de personalidade (principalmente as com traços narcisistas) podem ter esse comportamento por falta de empatia ou timidez extrema.
Os comportamentos e motivações por trás do ghosting também podem diferir significativamente entre as sociedades. Nas culturas ocidentais individualistas, o ghosting pode ser visto como uma maneira conveniente de encerrar relacionamentos desconfortáveis ou evitar conflitos. Pode ser motivado pelo desejo de autonomia pessoal e mínima carga emocional. Em contraste, nas sociedades coletivistas, o ghosting pode ter consequências sociais mais significativas devido à ênfase na interconexão, nas obrigações familiares e nas expectativas comunitárias. Compreender essas variações culturais é essencial para desenvolver intervenções culturalmente sensíveis e expandir os quadros teóricos em torno do ghosting.
Algumas dicas para ter um relacionamento emocionalmente responsável
Honestidade e Sinceridade: Ser claro sobre suas intenções e expectativas desde o início, evitando criar falsas esperanças.
Empatia: Colocar-se no lugar do outro e considerar como suas ações podem afetar os sentimentos dele ou dela
Comunicação assertiva e não violenta: Expressar seus sentimentos e necessidades de maneira clara e respeitosa, sem agressividade
Respeito mútuo: Respeitar os limites e sentimentos do outro, reconhecendo que cada pessoa tem suas próprias experiências e emoções
Autoconfiança: Ter segurança em si mesmo para lidar com as emoções de maneira saudável e construtiva
E, sobretudo, é importante lembrar que o ghosting diz mais sobre a pessoa que o pratica do que sobre você.

Alessandra Diehl
Psiquiatra, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
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