Diário de uma paralisada facial – parte I – Como a UPA me ajudou mais que o plano de saúde

paralisia

Quero registrar aqui, nessa coluna, como vai ser minha luta contra a paralisia de Bell. Talvez isso possa ajudar alguém também

Telma Elorza

Equipe O LONDRINENSE

Há oito anos, quando ainda existia o Jornal de Londrina e eu trabalhava lá, tive um episódio de paralisia facial. Uma otite causou uma inflamação do nervo trigêmeo e fiquei com a metade esquerda do rosto totalmente paralisada. Não mexia nada lá. Até piscar o olho tinha que ser forçado. O lado direito estava normal e isso dava impressão que o problema era nele, porque “repuxava” quando eu sorria.

Fui em neurologista, fiz ressonância magnética para descartar um acidente vascular cerebral (AVC), não tinha nada. O tratamento foi a base de fisioterapia e acupuntura. Levou três meses e voltei praticamente 95% – fiquei com uma leve sequela no olho esquerdo que fazia com eu saísse nas fotos com o olho mais fechado que o direito e um sorriso ligeiramente torto.

Francamente, foi uma experiência assustadora. Porque você fica com medo de nunca mais voltar ao normal. Qualquer dorzinha que começasse a sentir no ouvido, eu corria para o médico, embora nem tenha sentido dor nenhuma naquela vez. Simplesmente acordei com a cara torta. E cara torta não é bonito de ver. Naquela época, o médico me mandou tirar 15 dias de licença. Mas voltei ao trabalho assim que pude ainda tortinha. E foi difícil ver os entrevistados – ou até pessoas na rua – olhando de forma esquisita para seu rosto.

Bom. Na última quarta-feira, acordei assim de novo. Dessa vez, com o lado direito paralisado. A primeira coisa que pensei foi: “Ah, merda, de novo não!” A segunda foi: “Bom, pelo menos agora vou ficar com os dois olhos fechadinhos nas fotos e o sorriso vai endireitar”. Se não tem o que fazer, faça piadas. Melhor que chorar.

Fui para o médico, mas, dessa vez, sem plano de saúde, tive que apelar para o SUS. Fui lá na UPA  da Leste-Oeste esperando ficar oito horas na fila. Em uma hora, saí de lá com receitas e remédios. A triagem deles funciona melhor que nas emergências de alguns hospitais. E, olha, fui melhor tratada do que quando paguei neurologista. A médica, muito bonita, muito simpática, muito atenciosa, doutora Mariana, fez vários testes, inclusive de força nas mãos para descartar um possível AVC. E foi ela – e não o neurologista lá atrás  – quem me disse que o que eu tinha chamava  paralisa de Bell. E explicou direitinho o que era.

Não existe uma causa exata da paralisia de Bell, mas é o resultado de um inchaço ou inflamação do nervo que controla os músculos de um lado do rosto. Pode ser uma reação que ocorre depois de uma infecção viral, pode ser um choque térmico, pode ser até stress. Bom, na semana anterior eu tive uma gripe muito forte, costumo tomar banho e sair com o cabelo molhado para a rua e tô sob forte stress para dar conta dO LONDRINENSE. Trabalhar de 10 a 14 horas por dia, todos os dias não é pra qualquer um. Enfim. A causa podia ser qualquer uma.

Para a maioria das pessoas, a paralisia de Bell é temporária. Mas raramente acontece uma segunda vez. Oh, como sou sortuda! Os sintomas geralmente começam a melhorar dentro de algumas semanas, com recuperação completa em cerca de seis meses. A fisioterapia, acupuntura e eletroestimulação ajudam a apressar. No meu primeiro episódio levou três meses para eu voltar a 95% do que era.  Um pequeno número de pessoas continua a ter sintomas de paralisia de Bell durante toda a vida. Espero que não aconteça comigo e essa seja a última vez que eu tenha. Enfim.  

Embora a gente fique preocupada, a paralisia de Bell não tem nada a ver com AVC ou um ataque isquêmico transitório (AIT). Apesar de essas doenças causarem paralisia facial, não há nenhuma ligação entre elas e a paralisia de Bell. Mas é preciso que um médico descarte essas possibilidades.

Bom, saí da UPA com um dos remédios que preciso tomar por 10 dias  e a receita para outro antiviral, mais a de um colírio e um antibiótico para a área dos olhos. Sim, o problema maior da paralisa facial é que você, além de estar com a boca torta e, portanto feia e falando meio enrolado (metade da língua tá paralisada, lembre-se), é que as pálpebras do olho também são afetadas. Elas ficam totalmente relaxadas e você não consegue fechar o olho direitinho. Até piscar é difícil.  Isso significa que não tem lubrificação correta e a “secura” pode causar ulcerações na córnea.

Meu oftalmologista me disse, uma vez, que em casos mais graves, a pálpebra precisa ser costurada para preservar a córnea. Brrrrrr! Então uso tampão parte do dia e à noite toda, para obrigar o olho a ficar fechadinho. Incomoda? Incomoda. Mas eu quero muito preservar meu olhinho. Gosto muito dele, somos apegados. Aliás, de tudo, ele é minha maior preocupação. E se sair dessa só com olhos mais fechados na foto, vou é agradecer

Ayrton Senna teve um episódio de paralisia facial causada por choque térmico. O lado do rosto sem rugas é o que está paralisado. Foto: instituto Ayrton Senna

Enfim, agora vai é começar minha batalha. Estou procurando fisioterapia, acupuntura e tudo mais que eu puder fazer para ajudar a esse nervo se recuperar. E vou contando aqui, para vocês, como vai ser cada etapa. Estão preparados? Então vamos lá. Até a próxima novidade.

Foto: Visual Hunt – na foto, o lado afetado é o direito. O que está contraído é o normal

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