Por Telma Elorza
Carnaval passou, muita gente se divertiu, todo mundo ficou feliz. Menos, é claro, os londrinenses que não teve nem um bloco na rua para animar a multidão na folia de Momo. As lojas abriram, sim, mas ficaram às moscas. Deu tristeza ver o Calçadão vazio e os vendedores nas portas dos comércios, vendo as moscas passarem.
Mas por que eu volto ao tema agora, uma semana depois do fim do Carnaval? Explico: a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abasel) divulgou, na última segunda-feira, um estudo – com números – mostrando que cidades que abraçaram o Carnaval viram suas economias pulsarem e crescentes. No Rio de Janeiro, o faturamento de bares e restaurantes cresceu 20%; em Belo Horizonte, 25%. No Nordeste, estados como Bahia e Rio Grande do Norte registraram alta de 15% nas vendas. E Londrina? Silêncio.
Enquanto cidades em todo o Brasil colheram os frutos econômicos do Carnaval, Londrina seguiu na contramão, sem uma programação oficial ou incentivo para a festa popular. Tirando os comerciários que se viram obrigados a ficar de braços cruzados nas lojas, quem pode viajou para lugares onde a festa é estimulada e onde os foliões são bem vindos. Até o secretário de Cultura de Londrina, Marcão Kareca, foi curtir a folia em Cornélio Procópio. Lógico que deixou dinheiro londrinense lá. Você não vai a uma festa assim e não compra, no mínimo, uma água ou come alguma coisa.
A ausência de blocos e eventos oficiais não só deixa a cidade vazia e silenciosa como também representa um prejuízo econômico considerável. Em São Paulo, o fluxo de turistas durante a folia garantiu um crescimento de 10% no faturamento. Por aqui, comerciantes amargaram um feriado sem movimentação, enquanto cidades vizinhas, como Ibiporã, lucraram com visitantes, consumo e visibilidade.


Cenas do Carnaval do Bloco Vê se Pode, que levou a festa para Ibiporã – Fotos @blocovesepode
Sem folia, esvaziada
Além do impacto financeiro, da falta de visão comercial (e não a visão comercial equivocada de manter lojas abertas sem fluxo de clientes), a falta de Carnaval nas ruas reflete uma perda cultural. Em vez de ocupar os espaços públicos com música, cor e alegria, trazendo visitantes de toda região para cá, Londrina optou por um esvaziamento simbólico. É como se o município fizesse questão de ignorar o potencial transformador da festa, que não só movimenta a economia, mas também fortalece a identidade local e o senso de pertencimento.
O argumento de que Carnaval gera custos e insegurança não se sustenta diante dos números. As cidades que investem na folia recebem de volta em tributos, turismo e empregos temporários. Blocos de rua exigem estrutura, sim, mas o retorno em movimentação financeira e cultural compensa – como provam os resultados de outras regiões.
Enquanto Londrina permanecer alheia a esse fenômeno, presa num conservadorismo retrógrado, continuará perdendo economicamente e culturalmente. Em um momento em que cidades brasileiras celebram a potência do Carnaval como motor de desenvolvimento, cabe perguntar: até quando Londrina seguirá de costas para a folia – e para as oportunidades que ela traz?
Foto principal: Desfile de bloco no Rio – Alexandre Macieira / Riotur