Tiago Amaral e o governo para elites

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Por Telma Elorza

A gente até tenta não ser muito crítica, afinal uma pessoa que nunca governou anteriormente pode cometer erros. Mas quando os erros vão se acumulando para uma única direção, dá para perceber que eles não são casuais e, sim, intencionais. O governo do prefeito Tiago Amaral está assim. Cometendo erros seguidos que prejudicam apenas a parcela mais vulnerável da população londrinense.

Não é nenhum acaso: parece cada vez mais clara que a prioridade do prefeito é beneficiar quem já vive com conforto, as elites que o elegeram. Os recentes movimentos políticos da Prefeitura e do Legislativo local (que está mais para cachorrinho do prefeito do que o órgão fiscalizador que deveria ser) mostram isso com clareza: a gestão não está apenas “desconsiderando” os pobres. Está, de fato, produzindo políticas que os excluem, invisibilizam ou tratam como incômodos.

O veto parcial do prefeito ao projeto que proíbe pessoas de morar na rua (ele vetou o artigo que obrigava encaminhamento compulsório ao Centro POP porque sabe que não há estrutura para atender a todos, mas manteve a proibição de dormir/cozinhar/higienizar-se em vias públicas) é um sinal claro: a prefeitura evita a remoção forçada só onde a pressão jurídica existe, mas aprova regras que empurram a população vulnerável, em situação de rua, para a invisibilidade. Isso mostra a opção por “ordem urbana” em vez de garantia de direitos, uma criminalização com viés jurídico.

Isso só vem corroborar o que escrevi no meu penúltimo artigo, “Londrina, a cidade que odeia pobres“, no qual denunciei vários cortes de benefícios, projetos que proíbem doações de comidas nas ruas, as restrições de uso de espaços público, os atrasos em programas de transferência de renda, cortes no orçamento da Secretaria de Assistência Social e as dificuldades (por falta de funcionários) para famílias vulneráveis se inscreverem no CadÚnico e receber verbas como o Bolsa-Família, que é um programa federal.

Governar para as elites: os sinais claros

A criminalização da pobreza: Quando políticas públicas começam a sancionar o simples ato de estar na rua ou depender do que pessoas caridosas distribuem (seja uma sopa, uma marmita, um sanduíche ou uma cesta básica), elas deixam de ser assistência social e viram repressão. Proibir dormir em praças ou cozinhar em espaços públicos são gestos simbólicos fortíssimos: o pobre vira “problema de estética”, de trânsito, de incômodo urbano. Deixa de ser um ser humano em extrema necessidade para se tornar “criminoso”.

Prioridades invertidas: guiar uma gestão por planilhas de equilíbrio financeiro é normal, inevitável até. Mas quando o “equilíbrio” é alcançado tirando de quem mais precisa, enquanto se preserva ou se amplia salários de secretarios municipais ou privilégios institucionais, algo está MUITO ERRADO.

Assistência social ou mitigação estética? A promessa de “saúde como prioridade” ou “vamos ouvir o povo”, etc, que Tiago Amaral usou na campanha soou bem, mas o cotidiano neste primeiro ano de mandato está mostrando que as decisões tomadas por ele está jogando para longe a população, principalmente a mais pobre. Muitos esperavam mudanças, mas não viram resultados substanciais na melhoria de vida de quem sofre com os problemas da cidade. Cadê os empregos? Cadê a atração de indústrias? Cadê geração de renda, mais investimentos em saúde, educação? Só cortes e mais cortes em áreas prioritárias.

A legalidade vs a moralidade: o prefeito usa justificativas jurídicas – para vetar o encaminhamento compulsório (com uso de força da Guarda Municipal) das pessoas em situação de rua, por “ser inconstitucional” – para não enfrentar frontalmente os problemas sociais e falta de infraestrutura em saúde mental e assistência social para acolhimento dessa população. Mas, contudo, todavia, entretanto, se a lei está errada ou injusta, espera-se que um bom governo lute para mudá-la, ao invés de simplemente de apoiar-se nela para manter a exclusão.

E o governo das elites, como fica?

O prefeito Tiago Amaral vem mostrando que está mesmo interessado em só governar para elites. Todas suas ações, até o momento, mostram que ele quer tornar invisíveis os pobres e vulneráveis
Imagens geradas por IA/Grock

Elites não são só quem tem muito dinheiro sobrando no bolso. São também os grupos sociais que têm acesso político, influência, conforto institucional. E elas, evidentemente, saem ganhando com esse modelo. Mantém-se uma cidade “arrumada” aos olhos de quem paga imposto, de quem vive na Gleba Palhano e adjacências, de quem frequenta espaço públicos “bem cuidados” como o Lago Igapó (mesmo que este esteja cheio de esgoto vindo justamente dos residenciais chiques ao seu redor). Uma “arrumação” para “inglês ver”.

Os discursos de “cidade modelo”, de “qualidade de vida”, de “urbanidade”, de “cidade inteligente” servem apenas para mascarar medidas que expulsam os vulneráveis do centro, para agradar as elites que não querem vê-los, muito menos conviver com eles.

Sim, há bases sólidas para afirmar que Tiago Amaral, na prática, governa para as elites de Londrina. Ele, foi eleito com promessas que soam inclusivas, mas que, no dia a dia, marcham no sentido oposto. Governar para elites não é só uma acusação moral, é uma constatação a partir das escolhas políticas que ele vem fazendo: o que se prioriza, o que se restringe, a quem concede poder de visibilidade. Se o mandato continuar nessa trilha, vai gerar mais desigualdade, mais exclusão, mais pobreza, mais invisibilidade social. E isso, nem preciso dizer, é ruim para a cidade, para todos. Inclusive para quem hoje vê os cortes e se cala, mas que amanhã pode pagar o preço da deterioração do tecido social.

Telma Elorza é jornalista, escritora e contadora de histórias, trabalhou na Folha de Londrina por quase 20 anos e no Jornal de Londrina por outros 10 anos, locais onde atuou como repórter, redatora e editora nas áreas de Economia, Política e Agronegócio, entre outras. Em 2019, fundou seu próprio jornal, O LONDRINE̅NSE, e se tornou entrevistadora do O LONDRINE̅NSE POD.

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