Por Telma Elorza
O LONDRINE̅NSE
A recente decisão do prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), de unificar as Secretarias Municipais de Assistência Social, de Políticas para Mulheres e do Idoso em uma única estrutura administrativa levanta sérias preocupações. Embora a premissa da gestão seja otimizar recursos e garantir maior integração entre as políticas públicas, os perigos dessa fusão não podem ser ignorados, especialmente para os grupos mais vulneráveis da sociedade: mulheres e idosos.
O retrocesso na luta por equidade
A criação de secretarias específicas é resultado de anos de luta por reconhecimento e dedicação a demandas exclusivas de diferentes populações. No caso das mulheres, uma secretaria focada em políticas públicas é essencial para enfrentar questões como a violência de gênero, a desigualdade no mercado de trabalho e o acesso a serviços de saúde. Numa cidade onde nem a Delegacia da Mulher – que deveria fucionar 24 horas por dia, sete dias por semana de acordo com legislação federal – realmente cumpre sua função, reunir essa pasta com outras pode diluir a atenção a essas questões e prejudicar a efetividade das ações.
A Secretaria do Idoso, por sua vez, desempenha um papel crucial em uma sociedade que está envelhecendo rapidamente. Garantir o bem-estar, a segurança e a inclusão social dessa população exige uma abordagem especializada. Integrar essas demandas em uma estrutura ampla corre o risco de colocar os idosos à margem das prioridades administrativas.
Sobrecarga e invisibilidade
Uma estrutura unificada provavelmente enfrentará uma sobrecarga de funções. Ao tentar abarcar todas as demandas sociais em uma única pasta, há o perigo de que as especificidades de cada grupo sejam negligenciadas. As mulheres, por exemplo, já enfrentam grandes desafios para acessar serviços públicos direcionados, como abrigos para vítimas de violência doméstica e programas de empoderamento econômico. Com a fusão, esses projetos podem perder espaço para outras demandas consideradas mais “urgentes”.
O mesmo ocorre com os idosos, que precisam de políticas próprias para prevenção de abusos, promoção de atividades sociais e suporte em áreas como saúde e transporte. Uma secretaria conjunta corre o risco de transformar demandas específicas em meros apêndices de programas mais amplos, deixando os mais vulneráveis invisíveis.
Premissa duvidosa
Argumentar que a fusão dessas secretarias resultaria em economia é uma visão limitada. É verdade que unificar estruturas administrativas pode reduzir custos, mas isso não compensa o impacto social negativo de enfraquecer as políticas públicas. Quando as demandas específicas deixam de ser atendidas, o custo social é muito maior, com reflexos em áreas como saúde, segurança pública e qualidade de vida.
Além disso, a economia gerada com a fusão pode ser irrisória diante dos prejuízos para grupos que já enfrentam vulnerabilidades. Mulheres e idosos representam parcelas significativas da população, e investir em suas demandas é investir em uma sociedade mais justa e equilibrada.
Uma agenda de retrocessos?
A decisão também pode ser interpretada como um retrocesso simbólico. A fusão das secretarias transmite uma mensagem de que demandas sociais específicas são secundárias ou dispensáveis. Isso desmotiva movimentos sociais e profissionais que dedicaram anos ao fortalecimento dessas políticas.
O Brasil já enfrenta desafios significativos na área de direitos humanos, e medidas como essa podem enfraquecer ainda mais a capacidade dos governos locais de atender às necessidades da população. Londrina, uma cidade conhecida por sua dinâmica progressista, não pode se dar ao luxo de retroceder nessa área.

Um apelo à reflexão
Diante desse cenário, é fundamental que a sociedade londrinense, bem como especialistas e movimentos sociais, se posicionem e reflitam sobre os impactos dessa fusão. Políticas públicas voltadas a grupos específicos só são eficazes quando há dedicação e foco. Diluir responsabilidades em nome de uma suposta eficiência pode comprometer o progresso que tanto custou a ser alcançado.
É hora de cobrar transparência, exigir que estudos sérios sejam apresentados e debater alternativas que não comprometam os direitos e o bem-estar das populações vulneráveis. Londrina pode e deve ser exemplo de gestão que prioriza a dignidade humana e a inclusão social. Para isso, é necessário que cada cidadão se envolva na construção de um futuro mais justo.
Ainda há tempo de reconsiderar, já que antes de tudo é preciso aprovar um projeto de lei na Câmara Municipal de Londrina. Vamos nos unir para que esse retrocesso não seja confirmado.