Por Alessandra Diehl
Não sei se isso é uma tendência ou não, mas o fato é que depois que a comediante e influenciadora norte-americana Hope Woodard, 27 anos, criou o termo “boysober” e passou a falar sobre ele, o assunto de fato está virando uma trend entre algumas mulheres heterossexuais que se identificaram com Woodard e decidiram parar de se relacionar e transar com homens por um ano.
LEIA TAMBÉM
O termo envolve dar um tempo de relacionamentos amorosos, sexo causal ou até mesmo paquera com homens por um período determinado. Esse “detox de boys”, vamos dizer assim, é entendido por suas adeptas como uma forma de redirecionar energia para o desenvolvimento pessoal e a buscar dar mais sentido em questões espirituais e de autoestima, afastando-se de relacionamentos tóxicos ou fusionados.
O importante aqui parece ser repensar as relações de forma mais equilibrada e construtiva. A comediante chega a usar a seguinte expressão para poder justificar a sua escolha: “Depois de tanto date senti que precisava de uma purificação”, diz Hope Woodard.
Penso que muitas de nós já vivemos relacionamentos muito adoecidos, tóxicos, pegajosos e que nos trouxeram exatamente esta ideia de necessidade de purificação; não no sentido de que estávamos vivendo um pecado, mas sim a necessidade de nos “limpar” ou de mandar para longe toda a sujeira que estávamos carregando em relacionamentos pouco saudáveis.
Muitas mulheres têm dificuldades de estar sozinhas sem um relacionamento amoroso ou sem sexo, e não tem nenhum problema com isso! A questão é que aprender, por vezes, a ficar sozinha e reconhecer em você mesma os seus próprios potenciais sem a necessidade de validação do masculino para os nossos desejos e afetos pode ser libertador.
Parece existir uma crença de sucesso feminino de que você só é bem-sucedida se estiver com a vida profissional caminhando e, necessariamente, encontrou o namorado maravilhoso para chamar de seu e poder apresentá-lo nas festas de aniversários das crianças das amigas casadas. Soma-se a tudo isso, a necessidade se estar “no padrão” do que é gostosa, bonita, elegante e chique para os dias atuais. Isso tudo pode ser muito cansativo!
Boysober = desintoxicação emocional
Estar aberta a um novo relacionamento conhecendo-se melhor, amando-se mais e, sobretudo, tendo vivido a experiência de poder gostar de você mesma e gostar da sua própria companhia isso pode abrir uma janela de oportunidades de que os novos relacionamentos, namoros, ficadas ou pegações tenham outro significado e prazer. Ahhh, isso também vale para os relacionamentos virtuais através de aplicativos.
Mas, principalmente, as chances de sabermos os limites do que é abuso ou tóxico pode ser muito maior. Saber o significado de respeito a nós mesmas. É o tempo que podemos ganhar para elaborar e repensar os lutos, os términos e não ficar num looping de um boy para outro boy simplesmente porque a sociedade assim nos força a fazer ou porque acreditamos na máxima de “que o amor é líquido mesmo” ou a “fila anda” a qualquer custo.
Então, antes que alguém lhe diga que Boysober é “escapismo” ou coisa de mulher “encalhada” ou “mal-amada”, ignore! Faça o que é melhor para você! #ficaadica
Alessandra Diehl
Psiquiatra, doutora em Sexualidade Humana, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
Leia mais matérias sobre OPINIÃO
Foto: Freepik
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.