Por Suzi Bonfim
Viajar de ônibus é uma das alternativas mais viáveis neste país continental. Distâncias enormes e horas e horas dentro de um ônibus com mais de 40 pessoas, no mesmo veículo, é a rotina de milhares de brasileiros que se arriscam pelas rodovias federais e estaduais.
Diante do valor inacessível das passagens aéreas, algumas empresas de ônibus até investem na oferta de veículos novos e na infraestrutura nas rodoviárias dos grandes centros. Nas demais, quanto maior a distância, maior a precariedade e o abandono. Quem usa este meio de locomoção sabe bem o que isso significa. E não é preciso ir muito longe, não. Há muitos exemplos nos municípios do eixo Londrina-Maringá.
Na minha última viagem, vivi situações que me deixaram com um misto de indignação e medo diante das circunstâncias no trajeto Londrina-Florianópolis pela empresa Brasil Sul/Viação Garcia, saindo à noite e chegada prevista na manhã seguinte.
Assim que entrei no ônibus, o mau cheiro dos produtos de limpeza do banheiro impregnava o ambiente – já era um sinal de que algo estava errado, mas só iria entender meia hora depois.
Na estrada, por volta das 9 da noite, o ônibus para no acostamento e fica completamente às escuras. O motorista informou os passageiros que havia um problema e o mecânico foi chamado pra fazer o conserto e, caso não fosse solucionado o problema, seria enviado outro veículo.
Ao invés de mandar um ônibus para continuar a viagem, a orientação da empresa aos motoristas é primeiro chamar o mecânico para fazer o diagnóstico e, só então, definir pela troca. Ou seja, não há nenhuma preocupação com homens, mulheres (muitos idosos) e crianças parados no acostamento da rodovia no escuro, sem nenhuma segurança.
Os sinais de que o ônibus não estava em condições de ir para a estrada foram dados ainda na rodoviária. Uma senhora comentou que, quando entrou no ônibus, viu que as luzes estavam apagadas e, assim, como o mau cheiro do banheiro indicava que a ventilação do ambiente também não estava funcionando. Portanto, uma provável pane elétrica estava em andamento.
Resumindo, até que os passageiros fossem transferidos para outro veículo e continuassem a viagem foram duas horas de espera. Espera que poderia ser bem menor, se houvesse bom senso e respeito pelo consumidor que pagou pelo serviço.
Outra situação que reflete o descaso com o bem estar do passageiro é o espaço do assento das poltronas. Fiz questão de medir: dois palmos e cinco dedos (sem uma fita métrica ou régua, minha mão foi o parâmetro, o que deve dar uns 35 centímetros). Eu e a senhora ao meu lado mal podíamos mexer na poltrona e os braços grudados no corpo.
Assim, o número de poltronas do chamado semi-leito na parte superior do ônibus foi otimizado e agora, são duas poltronas de tamanho reduzido em cada lado do veículo. Uma pessoa maior que eu (1,58 de altura e 65 kg) vai ter dificuldades em fazer uma viagem de 12 horas de duração como esta.
Porém, não há outra opção a não ser viajar enfrentando o perrengue dos ônibus, quando a gente quer matar as saudades da filha, a gastróloga Ester Bonfim, que trabalha na capital catarinense em uma jornada 6×1, não é mesmo?
Foto principal: Vivian Honorato/N.COM
Suzi Bonfim
Jornalista, formada na UEL, por quase 30 anos morou em Cuiabá -MT. De volta a Londrina-PR, vive a fase R de reencontros e renovação, respirando novos ares. Escreve sobre o que acredita por um mundo melhor. Instagram @suzi.bonfim
Leia mais colunas Na minha opinião…
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE