O trabalho e os impactos na saúde, em especial das mulheres

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Por Márcia Huçulak

Não é de hoje que se estudam e debatem as relações de trabalho e seus impactos na saúde física, mental e emocional das pessoas. Os dados do terceiro trimestre de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que havia no Brasil 89,6 milhões de mulheres com 14 anos ou mais, sendo que 47,9 milhões faziam parte da força de trabalho e, destas, 43,3% delas no trabalho informal. Sem falar na diferença salarial, o rendimento médio mensal das mulheres era 21% menor que o dos homens no país.

Afora essas diferenças no mercado de trabalho, a mulher tem desafios ainda mais complexos relacionados à maternidade. Quando engravidam não são bem vistas por algumas empresas e muitas perdem o emprego em razão disso. Sem falar nas condições de trabalho que interferem muito na saúde materna e infantil. Muitas horas em pé ou sentada, trabalho que exige força física constante, pressão por resultados, para citar alguns, são situações que podem contribuir para uma gravidez de risco e, mesmo, um parto prematuro. Mulheres que permanecem muito tempo em pé ou não conseguem ir com a frequência necessária ao banheiro ao longo de seu turno laboral, por exemplo, são mais susceptíveis a infecção urinária, que está entre as causas do parto precoce.

Além de infecções e doenças crônicas, a prematuridade também é influenciada por fatores como estresse, estilo de vida, posturas e movimentos repetitivos, esforço físico excessivo, longas jornadas de trabalho, entre outros.

Fala-se pouco a respeito da sobrecarga ou inadequação do trabalho feminino e suas consequências, especialmente no período gestacional.

O nascimento antes de se completarem 37 semanas de gestação voltou a crescer nos últimos anos no Brasil. Entre 2017 e 2021, chegou a 11,7% do total, voltando ao patamar de 2014.

Em Curitiba, que é referência nacional de bom atendimento durante toda a gestação, no pós-parto e nos cuidados com mamães e bebês, o índice ficou em 10,6% (2022), ou 1.900 bebês prematuros; no Paraná, eles somaram 15.681; e no país, 303 mil.

O recrudescimento geral – registrado não só no Brasil – foi influenciado pela covid-19, mas é necessário analisarmos outros fatores que impactam a prematuridade.

Trabalho invisível e o nascimento precoce

O estresse físico e mental, por exemplo. Com 10,6 horas a mais de trabalho doméstico por semana, o tempo para atividades de lazer e cuidados pessoais é, obviamente, muito menor para as mulheres, o que afeta também seu estilo de vida.

Além disso, as mulheres estudam mais, mas têm salário médio menor e trabalham mais na informalidade do que os homens. Podemos chamar essa situação de “estresse geral e permanente”? Podemos.

A situação agrava ainda mais os impactos decorrentes das desigualdades de gênero, com desdobramentos que complicam um dos momentos mais importantes na vida de qualquer família: a chegada de um(a) filho(a).

Vejam, o chamado “trabalho invisível” das mulheres também pode contribuir para ao nascimento precoce de bebês, que traz mais riscos e pressões ao sistema de saúde, exigindo mais cuidados para a mãe e para a criança.

Por óbvio, um nascimento prematuro gera um sem número de inseguranças frente a situações futuras incertas. Maior tempo de internação, eventuais riscos de sequelas, necessidade de cuidados que irão demandar mais uma vez a “mulher cuidadora”, que não raro renuncia ao trabalho formal.

De maneira geral, a prematuridade é a principal causa de morte de crianças até cinco anos – está associada a um em cada cinco óbitos nessa faixa etária e também ao maior risco futuro de doenças cardiovasculares e diabetes, por exemplo.

O tema, portanto, pede nossos melhores esforços para baixar os índices de partos prematuros.

(É importante deixar claro que prematuridade não é um atestado de problema vitalício. Com o passar do tempo, a maioria dos prematuros se ajusta aos marcos de desenvolvimento dos não prematuros.)

Estou levando este assunto para debate no parlamento. Propus, e a Assembleia Legislativa do Paraná realiza nesta segunda-feira (20/11) uma audiência pública sobre o tema, reunindo especialistas dos setores público e privado. Precisamos atuar para que sociedade, instituições e empresas tenham um olhar diferente quando se trata da reprodução. Afinal, estamos falando dos cidadãos e cidadãs do futuro – e de vida.

Penso que, enquanto sociedade, o maior valor que podemos oferecer às pessoas é garantir que a vida gerada nasça com saúde.

Márcia Huçulak

A sobrecarga de trabalho, as condições de trabalho e o estresse constante em que as mulheres estão submetidas interferem na saúde materna e pode ser causa do parte precoce
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

Leia mais colunas de Márcia Huçulak – Mulher na Política

Ilustração: Canva

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