O impacto das tecnologias na saúde mental

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Por Márcia Huçulak 

Os grandes avanços da Humanidade costumam vir acompanhados de novos desafios, normalmente também enormes. O desenvolvimento das tecnologias digitais – nela embutidas as onipresentes redes sociais – é um desses casos. Nunca houve um crescimento tão rápido e impactante na História.

Evidentemente, há inúmeros impactos positivos nesse processo, até porque sem eles não haveria crescimento tão acentuado.

Ganhos de produtividade, eficiência, conectividade, comunicação, inovação nos serviços etc. As redes sociais, por sua vez, carregam inúmeras possibilidades aos usuários: compartilhamento de informações, expressão cultural ou artística, divulgação, interação social etc.

A partir do início da década passada, tecnologia e redes sociais escalaram de forma impressionante, no que pode ser resumido num dado simples: há hoje mais smartphones do que gente no Brasil (são quase 250 milhões de aparelhos em uso para uma população de 200 milhões de pessoas).

Chegamos com isso a um dos grandes e crescentes problemas de nosso tempo: o impacto das tecnologias na saúde mental, especialmente entre os jovens e adolescentes.

Ele vem se mostrando gigantesco. O modus operandi das Big Techs e o amplo acesso a equipamentos têm demonstrado cada vez mais danos graves a saúde mental, especialmente dos adolescentes e pessoas jovens, e em grande escala, de acordo com vários estudos já publicados.

Estamos falando de:

• Depressão

• Ansiedade

• Baixa autoestima

• Déficit de atenção

• Transtorno de sono

• Problemas na saúde física, como obesidade

Ciberbullying

• Insatisfação corporal

• Dependência digital

• Comparação social nociva

• Isolamento social e falta de interações na vida real

• Comprometimento do desempenho escolar.

Cada um desses problemas, entre outros, tem seus próprios e sérios desdobramentos. Mas quase todos convergem, principalmente, para uma questão de saúde pública.

É um problema global. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, aponta que o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens (15 a 29 anos) – as estatísticas apontam um total de 700 mil mortes por ano (das diferentes idades).

Há diversos fatores de risco para o suicídio, e entre eles estão a depressão, o isolamento e a exposição a ideias nocivas nas mídias sociais.

Dê uma olhada novamente na lista ali de cima. Todos os itens reforçam o potencial de uma pessoa sofrer com depressão, principalmente entre as crianças e jovens, que estão em pleno processo de formação individual – o que inclui uma boa dose da necessidade de se sentirem aceitas em seus grupos de convívio.

Meninas instadas a se comparar com corpos e tipos físicos que só existem nas fotos filtradas, editadas e produzidas das redes sociais – fruto muitas vezes de um séquito de profissionais. Ideais de “sucesso” divulgados como se todos os momentos da vida fossem imunes a qualquer deslize. Lugares paradisíacos. Restaurantes irretocáveis. Baladas maravilhosas.

Isso tudo existe com a mesma intensidade na vida real? Claro que não.

Como também não é próprio da vida real a avalanche de xingamentos e críticas pesadas disparadas nos espaços de comentários dos conteúdos publicados – o chamado cyberbullying.

São situações que estão jogando a autoestima dos jovens no lixo e gerando depressão, ansiedade, isolamento, insegurança…

As tecnologias e os adolescentes

O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo. São mais de 131 milhões de contas ativas. A média de uso é de 10 horas por dia na internet e 3h41min nas redes sociais. Esses números, já elevados, são uma média. Portanto, há muito gente passando muito mais tempo conectadas.

Pense comigo:

• seu filho/a adolescente ou pré-adolescente passa 4, 5 ou 6 horas por dia vendo videozinhos e postagens de “influencers” nas redes sociais;

• esses vídeos são reproduzidos em espiral contínua determinada por algoritmos que reforçam comportamentos de acordo com o consumo anterior;

• você conversa com ele/a, digamos, 1 hora por dia?

Quem está contribuindo mais para a elaboração de conceitos e princípios dessa pessoa em pleno processo de formação para a vida?

Vale reforçar que é nessa fase que os adolescentes e jovens compreendem e aprendem a lidar com os desafios e frustrações que vida nos impõe.

Por certo, o isolamento (embora possam receber milhares de cliques nas suas postagens) e a falta de interação com pessoas reais e com a vida real fazem muita falta para a formação dos nossos adolescentes e jovens.

No mundo virtual posso ignorar o que não quero ou pretendo confrontar. Na vida real não há essa opção de rolar a página para frente.

Não custa lembrar que toda a tecnologia do mundo não vai mudar aquilo que a vida exige da maioria das pessoas: esforço, resiliência, iniciativa, força de vontade.

Pouco ainda se fala do impacto das tecnologias e das redes sociais virtuais na nossa sociedade.

Diversos países já estão limitando ou banindo o uso de smartphones nas instituições de ensino. No Brasil temos o caso de estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Norte que já possuem legislação nesse sentido.

Um relatório global da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), divulgado em julho de 2023, chegou a conclusões alarmantes acerca dos efeitos do uso excessivo do celular no desempenho educacional e na estabilidade emocional de crianças e adolescentes. 

Portanto, é urgente a adoção de medidas efetivas que venham a enfrentar esse problema. Não se pretende ignorar o potencial das tecnologias no mundo moderno, mas há de se ampliar o debate para lidar com esse cenário complexo.

Um futuro mais saudável para todos depende disso.

Márcia Huçulak

As tecnologias digitais tiveram um crescimento rápido e impactante, nas últimas décadas. Mas, ao lado de ganhos de produtividade, eficiência e outros, vieram também problemas, principalmente sobre a saúde mental entre jovens e adolescentes
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

Foto: Canva

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