Por Márcia Huçulak
Os acidentes de trânsito são um grave problema de saúde pública no Brasil, que convive com números assustadores de mortes, sequelas graves e custos para o sistema de saúde, previdência social e para a economia em geral.
O cenário piora porque a impressão que se tem é que os brasileiros, de modo geral, parecem ter naturalizado o problema, como se fosse uma situação normal, um acidente “que acontece”.
Não é. Na esmagadora maioria das vezes, os acidentes de trânsito são evitáveis. Bastaria prudência, mais atenção, seguir as normas de trânsito, não beber ou usar drogas antes de dirigir e respeitar o pedestre sempre. Ou seja: depende de cada um ter a consciência da sua responsabilidade.
Esse deveria ser um comportamento corriqueiro, mas como sabemos é burlado diariamente.
Por certo, o setor público tem grande responsabilidade em assegurar a segurança do trânsito, que precisa de ruas e estradas em boas condições, sinalização e controles adequados, campanhas permanentes de educação, além de políticas que valorizem o transporte coletivo e outras formas de mobilidade nas cidades, como as bicicletas.
Investimento, enfim, em educação, infraestrutura, transporte público e saúde. Não é o que vemos na dimensão que seria necessária.
Em países mais avançados nesta área, não são as pessoas com menor poder aquisitivo que compram carro para não precisar usar o transporte coletivo, mas o transporte coletivo que atende a todos. Um país desenvolvido, portanto, não é onde o pobre tem carro; é onde o rico usa transporte público – como já disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Tarefa complexa, que exige planejamento, tempo, recursos e esforços.
Há vários exemplos de países que superaram o caos e transformaram o trânsito. O Japão é um caso clássico, cujos resultados se deveram em grande parte à população ter mudado de comportamento, induzida por sólidas ações governamentais.
Muitos países desenvolvidos já têm como meta o trauma zero no trânsito – casos de Suécia, Noruega, Austrália e Canadá. Trauma zero!
É um cenário que traria grande impulso a uma enorme melhoria qualitativa na expectativa de vida da população, já que pouparia esforços e recursos hoje necessários para tratar e salvar vítimas de acidentes.
O que para nós virou rotina, cidadãos do chamado Primeiro Mundo, especialmente profissionais de saúde, têm dificuldade de entender: nossos prontos socorros são um verdadeiro cenário de guerra, resultado dos números do problema no Brasil – distantes, muito distantes, do zero.
De acordo com estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), o país perdeu na década passada cerca de 40 mil vidas no trânsito por ano – 2/3 delas de pessoas com menos de 50 anos. Outras 300 mil pessoas ficaram feridas.
Não há como calcular o que representa a perda de uma vida humana e os danos familiares dela decorrentes. São tragédias que destroem famílias, acabam com trajetórias pessoais, transformam sonhos em pesadelos.
Há sequelas que o acidentado leva para o resto da vida (caso das amputações e lesões permanentes), com perda de potencial produtivo, dificuldades variadas e estresse psicológico.
Acidentes de trânsito lotam prontos socorros. Quem trabalha com saúde conhece bem o movimento nos fins de semana e feriados.
Vidas precisam ser salvas com urgência e depois disso dá-se início a tratamentos que podem levar dias, semanas, meses ou até anos – período em que a pessoa ficará longe do trabalho.
Custo dos acidentes de trânsito é muito alto
Vida não tem preço, mas o Ipea calculou o custo econômico dessa tragédia: em torno de R$ 50 bilhões por ano.
Os gastos anuais do SUS (Sistema Único de Saúde) com o tratamento de feridos em acidentes de trânsito no Brasil geraram custo de R$ 36 milhões apenas entre 2022 e 2023, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares (SIH). Para cada morte em acidente, há 4,3 internações.
O valor estimado pelo Ipea (R$ 50 bi) refere-se a um cálculo mais amplo, que inclui também os gastos com previdência, redução da renda das famílias atingidas e danos patrimoniais.
A ordem de grandeza desses dados dá bem a dimensão do desafio que enfrentamos. Mudar esse cenário significa termos uma sociedade muito mais saudável.
Entramos no Maio Amarelo, a bem-vinda campanha anual de conscientização sobre o trânsito, que este ano propõe sensibilizar os condutores de motos – veículo que mais contribuiu para o aumento recente de acidentes.
É uma boa oportunidade para reforçar a conscientização sobre o assunto.
Precisamos debater com a sociedade para mudar esse padrão equivocado. Acidentes podem, sim, ser evitados. Depende de políticas públicas eficientes, respeitar as normas de trânsito e de uma sociedade que respeite a vida acima de qualquer outra escolha.
Paz no trânsito começa por você!
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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