Na verdade, não é sobre quantos looks. Um dos erros mais comuns sobre a “tendência minimalista” é acreditar que, sua máxima, o famoso “MENOS É MAIS” está no contexto: ser chique e elegante com poucas peças e peças básicas no guarda roupa.
Mas não, não é sobre isso. O minimalismo surgiu como um estilo de vida que rejeita o Fast Fashion e a obsolescência programada da indústria de consumo. Está intimamente ligado ao conceito de Slow Life que, resumidamente, é diminuir agentes estressantes e a ansiedade da vida contemporânea com escolhas mais conscientes.
E friso: diminuir, porque sabemos que é impossível viver sem estresse e alguma ansiedade, mas sim, existem algumas escolhas que podem melhorar nossa qualidade de vida, individual e sem pretensões românticas de salvar o planeta, como por exemplo não se deixar levar por promoções, ofertas, lançamentos, passeios a shoppings, redes sociais etc.
Falar sobre o modo de vida minimalista é extenso e possui vários recortes, logo, para nossa coluna retorno ao vestuário.
A Moda mainstream enquanto indústria, tem como regra a produção em massa com preço baixo e mais coleções em curto tempo – tudo isso envolto em estratégias de marketing e inteligências de mercado que nos seduzem a comprar roupas e coisas que não precisamos. Convido o leitor ao nosso primeiro texto que trata sobre a individualidade.
Quando entendemos que o mercado estudou o nicho ao qual pertencemos, para criar produtos nos quais nos reconhecemos e, assim, despertar em nós aquele propósito do gastar, o minimalismo vem para trazer equilíbrio com vários questionamentos: você realmente precisa desse item? Pense em quantas peças você tem no seu guarda-roupa. Estão novas, nem tão usadas, muito usadas ou em fase terminal? Quantas combinações consigo fazer com esse novo item e as peças que já possuo? Esse item tem boa qualidade e vai durar mais que suas parcelas no boleto? Qual frustração estou tentando recompensar com esse item? Vou usar muito?
Antes de efetivar uma compra tente responder com muita sinceridade cada uma dessas questões. Entender a subjetividade de cada indivíduo e suas escolhas no vestuário é o que justifica o porquê ser minimalista não é tentar montar um guarda-roupa coringa, porque não existe UM guarda-roupa coringa, não existe uma fórmula – o que é fundamental para o vestuário de um não vai ser para outro.
Você quer um guarda-roupa Minimal? Você já tem. Olhe para suas roupas como novidades todos os dias, use-as à exaustão, repita looks, seja criativo e combine peças incombináveis e chame isso de “seu estilo”, sem medo de críticas, seja ousado. Diga que você é retrô ou vintage se o que tiver já está datado. Está manchada? Que tal um Tie-Dye? Furada? Faça mais furos criando simetrias, doe peças com as quais não se identifica mais.
Aos poucos seu guarda- roupa vai diminuir e você só irá sentir necessidade de repor peças que fazem falta no seu cotidiano, e não estou falando do “pretinho básico”, mas talvez de uma peça com estampa engraçada de ovos fritos usada até acabar porque aquela peça PARA VOCÊ era coringa, era seu básico .
O ponto é: ser minimalista é não precisar de tanto, é não ter tanto, é não ter que comprar nada para ter um guarda-roupa minimalista , é não ter que avaliar se o que você está usando compõe looks estratégicos porque a Moda lhe diz o que é estratégico em um look. Ser Minimal é cada vez mais entender e suprir suas reais necessidades – e não as necessidades do Mercado – e finalmente entender que o que precisamos é menos, e que menos é mais… mais nós mesmos.
Esther Eugenia Martins
Graduada em Moda pela UEL e Técnica em segurança do trabalho pelo Senac. Atuo no Mercado de Moda há 10 anos com ênfase em PCP e Desenvolvimento. Pesquisadora da contracultura, underground e estereótipos, amo as danças árabes, música, meditação, plantas e a bicharada. Minhas referências estéticas preferidas são a Art Nouveau e a Art Déco.
Foto principal: Visual Hunt
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