Por Ana Paula Barcellos
Você compra roupas com etiqueta de “tamanho único”? Pra mim, essa etiqueta, tão misteriosa quanto bizarra, serve para apenas uma coisa: forçar a venda de peças de roupa de modelagem duvidosa ou que sofreram algum tipo de falha no momento da produção e, portanto, não se enquadram nem na numeração padrão da marca.
Porque, pra começar, nem as etiquetas com numeração padrão (34, 36, 38 ou PP, P, M…) são realmente padrão. Se você pegar uma camiseta M de uma loja de departamentos e comparar com uma M de outra loja, vai ver que muito dificilmente o tamanho vai ser equivalente.

A tabela padrão de medidas para confeccionar roupas começou a surgir no século XVIII, junto com a necessidade de produzir uniformes militares e outras peças em série. Isso, claro, quando as roupas ainda eram feitas sob medida. Foi a partir do século seguinte que surgiu a ideia de roupas “prontas”, que serviriam para vestir a população urbana de forma geral.
Só no século passado, em 1968, a International Organization for Standardization (ISO) determinou que as medidas das peças devem ser adequadas ao biotipo de cada país – outra norma que, na prática, não vale nada, só lembrar que no Brasil os tamanhos mais vendidos são o M e o G. e o que a gente mais encontra por aí nas lojas é peças para gente minúscula, mesmo com esses tamanhos escritos na etiqueta.
E as roupas de tamanho único, mesmo para quem tem um corpo bastante padrão, são difíceis de servir. Não existe uma altura padrão e mesmo que o tecido seja mais maleável, não tem como servir em todo mundo, isso é simplesmente impossível!
Claro, existem grifes e ateliês especializados em modelagens pensadas para se encaixar em um número muito maior de corpos, com uma proposta realmente inclusiva. É um trabalho artesanal, manual, do tipo slow fashion. São as chamadas peças híbridas, que não apenas podem ser vestidas por um grande número de pessoas como também possuem várias formas de vestir e usar. Mas esse é um trabalho sério, embasado e, infelizmente, ainda não tão acessível.

A gente sabe que é muito difícil para uma marca, principalmente se ela for pequena, englobar todos os tamanhos de roupa. Mas as grandes marcas, como as disponíveis em lojas de departamento e afins, não só podem como devem fornecer uma grade realmente inclusiva, com peças até pelo menos o número 52 (ou equivalente: XXG, XXXG, G1, G2 etc.). E o tal do tamanho único deve cair em desuso, ser proibido mesmo. Já passou da hora!
Comecei a parar de experimentar. A maioria não serve mesmo, costuma ser pequena pra mim. E eu peguei uma birra tal que já dispenso de cara. Quando a lojas, nessa hora eu sorrio e já mando: impossível a mesma peça servir em você, em mim e na minha mãe, né? Pois é.

Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate.