Com certeza você já viu um meme sobre isso nas redes sociais: é preciso naturalizar o pijama! Volta e meia aparecem piadas e postagens sobre isso. Nos dias mais frios do inverno (e alguns foram BEM frios), várias pessoas postaram fotos de si mesmas saindo para o mercado ou realizar outra atividade e trajando um pijama quentinho porque se recusava a passar frio para tirar a roupa mais confortável que existe apenas por razões sociais. Teve gente que foi além: uma foto mostrava duas senhoras em um ponto de ônibus enroladas em cobertas, enquanto aguardavam a chegada do ônibus.

Apesar das piadas e dos flagras, sair bem vestida ou vestido, ainda é tido como uma regra social forte – arrisco a dizer que é tipo um mini tabu. É como usar calcinha e sutiã na praia – por alguma razão bizarra se convencionou que não pode. Qual a diferença entre calcinha e sutiã e biquíni, alguém explica? Se o tecido é grosso o suficiente para não te deixar nua publicamente depois de um banho de mar, qual o problema? Ninguém consegue me dar uma resposta diferente de “não é o mesmo tecido” ou “não é apropriado”. Tem roupa de banho que mostra quase tudo ou que tem transparências bastante estratégicas, não entendo mesmo qual é o lance. E parece que ainda acontece algo parecido com a questão pijama x roupa de sair – sendo que muitos pijamas são roupas de sair que ficaram velhas (eu mesma tenho vários assim).

Um pequeno avanço nesse sentido pôde ser sentido com a pandemia: muitas pessoas passaram a sair menos, mas também a se arriscar mais nesse sentido: o ato de sair de casa vestindo as mesmas roupas confortáveis que você usa dentro dela foi bastante naturalizado. Teve muito mais gente saindo com a calça cheia de bolinhas ou com aquela camiseta de gola esgarçada e dois furos na lateral – e muita gente registrou isso também.
Agora chego na Chez Moi: é a coleção de pijamas, lenços e roupões sofisticados da Dior, que leva esse nome e recentemente ganhou novas peças (inclusive bolsas e outros acessórios de sair). O que dizem sobre ela por aí? Que são trajes leves e perfeitos para ficar em casa – e até sair dela com eles se quiser. Uma “ode ao conforto”.

A coleção é bonita – mas bastante comum, diga-se de passagem. Entre as estampas das peças tem animal print, constelações, monogramas… não tem nada que surpreenda ali além do corte e da modelagem impecáveis (Dior, né?). Mas claro, são pijamas e lenços de seda finíssimos.
E, finalmente, entro na questão: precisa fazer pijama de seda pras pessoas terem coragem de sair por aí usando roupa de dormir e se sentirem descoladas? Por que tanta gente ainda sente vergonha por sair de casa usando a roupa que quiser? Se o look é apresentável, qual o problema?
Eu uso pijamas para ir ao mercado ou outros lugares perto de casa (não durmo com eles depois de usar fora de casa, óbvio) e faço coro com o meme: enquanto a gente não naturalizar pijama e roupa amassada para sair de casa (outra convenção que deveria cair por terra, dependendo da ocasião é super aceitável sim, mesmo quando não é trend tipo amassado de butique), a sociedade não vai evoluir!

Obviamente aqui estou exagerando; é meme, provocação. Mas a gente precisa mesmo repensar certas coisas que faz apenas por hábito ou convenção, e se permitir fazer e vestir aquilo que a quiser, que der na cabeça.
Ana Paula Barcellos

Escritora, designer de joias artesanais, marketeira e pesquisadora de tendências. Trabalha com as marcas Pinacola e Ana Diana.
Foto: Divulgação/Laura Sciacovelli