Duas londrinenses, Natasha de Caiado Castro e Marina Danielides, ajudarão a escolher as mulheres que receberão Prêmio “Rise and Raise Others” que marca trajetória de mulheres que ajudam outras mulheres. Marina é designer do “troféu” que será entregue às premiadas
Telma Elorza
O LONDRINENSE
Celebrar a conquistas de mulheres que apoiam mulheres e meninas em todo o mundo. Esse é o objetivo do “United Nations Women USA Rise and Raise others Award” (Prêmio ONU Mulheres Uma Sobe e Puxa Outras) criado no pós-pandemia pela ONU Mulheres dos Estados Unidos, uma organização independente ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). E no júri, que vai ajudar escolher as 32 iniciativas – quatro delas brasileiras – selecionadas entre outras seis mil, estão duas londrinenses: a CEO da Wish International e presidente do júri Natasha de Caiado Castro e a designer Marina Danielides, responsável pela criação do troféu que será entregue às premiadas, um bracelete de alumínio reciclado que transmite a ideia de união e transferência de conhecimentos.
Segundo Natasha, a premiação surgiu da ideia de agradecer o trabalho desenvolvido por mulheres emponderadas que dedicam tempo, conhecimento, experiências e paixão para ajudar a desenvolver outras. “O movimento Uma Sobe e Puxa a Outra da ONU Mulheres, do qual faço parte, decidiu instituir a premiação para reconhecer as conquistas de mulheres, depois de um período difícil como foi a pandemia, para valorizar o trabalho desenvolvido e inspirar outras a fazerem o mesmo”, disse.
Radicada nos Estados Unidos desde 2009, Natasha conheceu Marina recentemente, numa visita que fez a cidade onde morou durante toda a infância e adolescência. “Fui visitar uma feira e vi os produtos que a Marina faz, joias e objetos decorativos que seguiam vários dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU. A convidei a participar da seleção que iria escolher o troféu a ser entregue ao prêmio. No mesmo dia, ela elaborou o projeto, mandou para a comissão organizadora e ele foi o escolhido. E, com isso, conquistou um lugar no júri”, conta.
Marina diz que se sentiu muito honrada em feliz em ter sua peça escolhida para premiar essas mulheres extraordinárias. “Quando a Natasha viu nossas peças, feitas de 100% de alumínio reciclado, me perguntou se eu gostaria de criar uma peça com o tema Uma Sobe e Puxa Outras. E foi uma coisa que brotou no mesmo dia, desenhei um rascunho num papel qualquer e, no dia seguinte, montei essa peça em cerâmica e apresentei o conceito para ela. Aí foi todo o trâmite de mandar o projeto. Parece que concorremos com centenas de projetos”, diz
O troféu é um bracelete em alumínio 100% reciclado, no qual Marina queria mostrar o movimento contínuo de força e união das mulheres. “A essência é a ligação e a conexão entre elas. São dois meio corpos de mulheres opostos entre si, mas elas têm uma convergência única entre seus braços, que se tornam um só. E esses corpos também tem uma ligação pelos cabelos, que são um elo de transmissão de força, de sinapses, de trocas de experiências. Unindo esses dois corpos, vai ter um elástico, que faz que haja um movimento contínuo de suporte, união e ajuda”, explica. Os oito braceletes – um para cada categoria – serão feitos um a um artesanalmente que, no final, são peças únicas já que nunca vão ser igual um a outro. Eles ainda estão em fase de elaboração.
Premiação
A eleição das iniciativas é feita tanto por um júri formado por mulheres de carreira consolidada
oriundas de vários países (50%) quanto por votação popular (os outros 50%). A votação está aberta ao público até o dia 25 de outubro de 2022, no site do prêmio.
Este ano, concorrem mulheres de Alemanha, Bahrein, Brasil, Estados Unidos, Hong Kong, Índia, Indonésia, Islândia, Myanmar, Nepal, Nigéria, Polônia e Reino Unido. São quatro indicadas em cada uma das oito categorias. As categorias escolhidas este ano são: “Erradicação da pobreza”, “Saúde e bem-estar”, “Educação de qualidade”, “Igualdade de gênero”, “Indústria, inovação e infraestrutura”, “Redução das desigualdades”, “Ação contra a mudança global do clima” e “Paz, justiça e instituições eficazes”.
As premiadas serão reveladas no dia 26 de outubro, durante a programação da manhã da conferência Makers 2022, um dos mais importantes eventos de empoderamento da atualidade. A conferência acontece no hotel Waldorf Astoria Monarch Beach Resort, em Dana Point, na Califórnia, e haverá transmissão ao vivo da premiação pelo site do evento.
Brasileiras indicadas
Camela Borst (Indicada na categoria “Educação de qualidade”)
Ela tem como propósito combater o desemprego por meio da educação e da tecnologia, transformando desempregados em profissionais digitais e fazendo a ponte com as empresas para a empregabilidade. Há muitos anos, desde que ninguém falava no termo ESG, Carmela Borst trabalha para levar educação digital para as favelas e periferias. Como CEO e fundadora da edtech SoulCode Academy, foi responsável por tirar mais de mil pessoas da pobreza – 90% dos alunos saem do curso empregados.
Agora, a SoulCode se prepara para receber investimentos e multiplicar seu alcance, com o objetivo de formar 100 mil pessoas vindas das comunidades mais carentes para fazer parte do crescente mercado de tecnologia.
Com formação em Administração de Empresas e mais de 25 anos de experiência em tecnologia, Carmela foi vice-presidente da Oracle e da AON na América Latina. Atualmente também é conselheira das ONGs Gerando Falcões, Casa do Zezinho e Instituto Ser+.
Carolina Videira (Indicada na categoria “Redução de desigualdades”)
Depois de 13 anos no mercado corporativo, Carolina Videira fundou a ONG Turma do Jiló em 2015. Com formação em fisioterapia e estudos na área de neurociência, Carola, como é conhecida, dedica-se a aprender e a ensinar empresas e pessoas a ver o mundo de diferentes perspectivas. Sua organização faz projetos de inclusão em escolas públicas, com um trabalho de conscientização de professores e funcionários, mudanças estruturais (obras de acessibilidade e instalação de salas sensoriais, por exemplo), orientação sobre vieses, assistência jurídica e aulas de empreendedorismo para pais.
O programa, que consiste em acompanhar as escolas públicas gratuitamente durante um ano, prepara a comunidade escolar para acolher a diversidade em qualquer aspecto: social, física, racial ou de gênero.
O nome da ONG veio do apelido do filho João, “João Jiló”, que aos 3 anos foi diagnosticado com uma síndrome que limitava seus movimentos e que se divertia muito com a história de um jiló contada por uma professora. Mesmo após o luto com a perda de João, Carola trabalha incansavelmente para que nenhuma outra criança sofra as dores da exclusão.
Marienne Coutinho (Indicada na categoria “Igualdade de gênero”)
A advogada Marienne Coutinho começou a trabalhar aos 15 anos e se tornou sócia da KPMG muito nova, em 2002. Tem um duradouro trabalho de fomento à diversidade racial e de gênero em conselhos de administração das maiores empresas brasileiras. Figurou na lista da Forbes Brasil como uma das mulheres mais poderosas do país, em 2016.
Na KPMG, ajudou a fundar a iniciativa de equidade de gênero, para incentivar a carreira das mulheres na empresa. Também criou o Know (KPMG’s Network of Women), uma rede entre executivas C-level do mercado. Na época em que quase não existiam grupos de afinidade, Marienne procurava por anos as executivas em jornais e revistas de negócios e, assim, foi montando uma base de contato para troca de experiências.
Ela é conselheira consultiva da WCD (Women Corporate Directors) e, durante a pandemia, fundou o Programa Conselheira 101, com outras mulheres negras e não negras, para fomentar a diversidade racial nos conselhos de administração. Marienne tem sido uma mentora para centenas de mulheres que querem ocupar cadeiras no topo da liderança corporativa.
Regina Pekelmann Markus (Indicada na categoria “Saúde e bem-estar”)
Formada pela segunda turma de Ciências Biomédicas da Escola Paulista de Medicina, Regina Markus trabalha em ciência básica e educação e quer incentivar o empreendedorismo. Introduziu uma nova forma de integrar o tempo biológico e as respostas de defesa do organismo. Sonha transformar alguns desses achados em práticas nas áreas de saúde e agricultura. Suas pesquisas terão impacto em transplante de medula óssea, Alzheimer, câncer e doenças inflamatórias e respiratórias.
Regina completou a gradução em 1970 e também obteve um doutorado em Farmacologia. É professora titular do Instituto de Biociências da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências. A professora tem grande contribuição para o desenvolvimento da ciência no país e é reconhecida nacional e internacionalmente. Além de suas pesquisas, criou um programa para incentivar jovens líderes, que graças ao seu trabalho podem estudar no Instituto de Pesquisa Weissman em Israel e daí partir para outros lugares do mundo.
Foto: UN Women USA