Por Edra Moraes
Desde sempre, os artistas têm utilizado ferramentas para ampliar suas expressões criativas. A invenção da tinta, do papel, do pincel e, mais tarde, da máquina de escrever mudou a forma como as ideias eram registradas e compartilhadas. O computador, com sua capacidade de processamento e armazenamento, trouxe novas possibilidades para escritores e criadores de conteúdo.
Recentemente, a revista Veja trouxe um artigo sobre um estudo curioso em que um grupo de pessoas tentou identificar quais poemas haviam sido escritos por humanos e quais foram produzidos por inteligência artificial. Sempre que surge uma nova ferramenta, surgem também dúvidas, questionamentos e até julgamentos. Foi assim com a máquina de escrever, que teve tanto seus entusiastas quanto poetas antigos que continuavam com suas penas. E hoje, mesmo com o computador, ainda há poetas que preferem a máquina de escrever, criando uma aura de romantismo em torno dela. Com o surgimento da IA, não seria diferente.
O preconceito e a IA no contexto artístico
A introdução da IA na criação artística, no entanto, não está livre de controvérsias. Muitos artistas e escritores veem a IA como uma ameaça à autenticidade e à originalidade, temendo que os algoritmos possam substituir o toque humano na arte. Esse medo, embora compreensível, é semelhante ao receio que surgiu em outras épocas, quando novas tecnologias começaram a ser adotadas.
A grande questão é: “A inteligência artificial pode substituir a criatividade humana?” Até agora, os resultados são, na maioria, insatisfatórios, como em boa parte da música e pintura, onde as falhas são perceptíveis. Mas será que não encontramos falhas também em poetas e pintores humanos? O medo, talvez, seja o de plágios difíceis de detectar. O estudo mencionado inicialmente tinha como objetivo identificar se os poemas eram de IA ou de autores consagrados, e os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que muitas pessoas não apenas acreditavam que os poemas da IA eram humanos, mas também os avaliavam de forma mais positiva. “Não esperávamos que a predileção pela IA fosse tão consistente”, disse Cross Porter.
Para alguém como eu, que estuda e vive a literatura há anos, isso não é surpresa. Afinal, quem de nós reconheceria um poema original de Gregório de Matos de um feito ao “estilo” da IA? Além disso, com a queda no número de leitores no Brasil, segundo o Mapa da Leitura, a familiaridade com a literatura está cada vez mais distante. Outra questão que poderia ser levantada é: se o objetivo da escrita é comunicar ideias e nos humanizar, qual a importância da qualidade, se a obra cumpriu seu papel?
E assim abrimos outra discussão: a da qualidade literária
Essa discussão sobre a qualidade literária foi abordada brilhantemente por Márcia Abreu em seu livro Cultura Letrada, Literatura e Leitura. Ela critica a forma como a literatura é julgada e hierarquizada, defendendo que cada obra deve ser entendida dentro do contexto e valores de sua época. Segundo Márcia, há quem acredite que a “grande literatura” tem o poder de transformar, mas estudos mostram que leitores de best-sellers também podem expandir suas percepções. Afinal, grandes vilões da história são frequentemente retratados como grandes leitores de clássicos. Abreu também reflete sobre como os critérios para avaliar a literatura mudam ao longo do tempo, influenciados por dinâmicas culturais e políticas.

Minha experiência pessoal com a IA na literatura
Este artigo veio a calhar, pois já uso a IA há algum tempo para correção e pesquisa de projetos não criativos, como documentos e textos para projetos culturais. No entanto, há apenas um mês comecei a usar a ferramenta para corrigir meus poemas e até para sugerir melhorias nos textos já finalizados. E confesso: gosto dos resultados. Nem todas as sugestões são aceitas, mas algumas são tão precisas quanto as de um editor amigo. Jamais usaria a IA para criar, afinal esta é minha paixão, mas ela me ajuda na pesquisa. Sim, poetas pesquisam. Desde buscar palavras alternativas até explorar novos conceitos, a IA tem me ajudado a economizar tempo. Agora, com a possibilidade de revisão, me sinto mais segura para finalizar um livro e enviá-lo para um revisor humano, este sim, preparado para uma análise crítica e sugestões dentro do que considero meu estilo.
IA como aliada dos escritores
Defender o uso ético da IA na escrita envolve reconhecer que, assim como qualquer ferramenta, ela deve ser utilizada com responsabilidade e discernimento. A IA pode ser uma poderosa aliada para escritores, oferecendo sugestões de palavras, correções gramaticais e ajudando a organizar ideias. Ela não substitui a criatividade humana, mas pode ampliá-la, oferecendo novas perspectivas e insights.
A ética no uso da IA na escrita envolve transparência e honestidade. Dessa forma, a IA não precisa ser vista como uma ameaça, mas como uma extensão das capacidades humanas, enriquecendo o panorama artístico com novas possibilidades.
E para você, como se sente em relação ao uso dessa ferramenta? Já utilizou? Conta pra gente.
Edra Moraes

Profissional de marketing, produtora cultural e escritora. Agitadora cultural e idealizadora do Movimento Londrina Criativa. Prêmios: Obras Literárias Digitais 2020, “Antologia Poética | Seleção da Autora, Memorial Vivência, Literatura, Livro e Leitura Unespar, Cultura nas Redes 2020 e FCC Digital 2020. Me siga nas redes sociais: Facebook, Instagram @edra_moraes, YouTube @edra-moraes27. Contatos: e-mail edra.moraes27@gmail.com e fone/whatsapp: (41) 997722447.
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