O que o Movimento Londrina Criativa está fazendo na mesa Curitiba Mais Criativa?

Por Edra Moraes

Essa foi a pergunta que eu mesma me fiz ao ver o convite para integrar a mesa “Curitiba Mais Criativa”, durante o World Creativity Day 2025. Confesso que, por um instante, achei que estava me intrometendo. Sabe aquela visita que chega com bolo, poesia, dados e ideias na cabeça? Esta sou eu, Londrina Criativa em forma de gente.

A mesa reunirá representantes de projetos inspiradores de Curitiba, como o programa Interações Estéticas nas Regionais, da Fundação Cultural, o Hub Criativo do Bairro Novo e ações potentes do Pinhão Hub e da Rede de Economia Criativa do Paraná. Tudo muito bem estruturado, com aquela aura de capital. E lá estarei eu, falando de um movimento independente que começou há 11 anos, movido a cafés, parcerias improváveis e uma fé danada no potencial criativo de Londrina, quase uma obsessão por uma cidade que é berço, e inspiração para mim.

Mesa-redonda: Curitiba Mais Criativa: o papel de todos para o desenvolvimento da cidade

Quando lancei o Movimento Londrina Criativa, não havia manual. Havia um incômodo — e uma inspiração que nasceu lá atrás, em 2007, quando iniciei meus estudos em Economia Criativa na Irlanda do Norte. Foi ali que me encantei com uma visão completamente diferente da que eu via no Brasil: lá, a criatividade não era apenas expressão simbólica ou pior, considerada coisa de vagabundo, mas uma estratégia econômica real de desenvolvimento. Falava-se em mapear, identificar e potencializar os ativos criativos como motores do crescimento local.

Aquilo me atravessou. E ao voltar para Londrina, comecei a me perguntar: como uma cidade com tantas cabeças brilhantes, artistas, makers, empreendedores culturais, universidades públicas e privadas, ainda não se via como um território criativo? Uma cidade com mais de 14 festivais de cultura, consolidados. A ideia era simples: conectar. Pessoas, projetos, ideias, vontades. Ao longo desses anos, fizemos mapeamentos, fóruns, oficinas, rodas de conversa. E erramos, claro. Mas sempre seguindo.

O curioso é que, ao preparar minha fala para esta mesa em Curitiba, tive uma revelação importante: o movimento deu frutos. Talvez não exatamente como eu imaginava no início — com grandes eventos e participação ativa em todas as frentes —, mas deu frutos humanos. Hoje, vejo pessoas que participaram dos nossos encontros ocupando espaços estratégicos na cidade: na gestão pública, no mercado, na universidade, em coletivos culturais, todas defendendo a ideia de que Londrina tem, sim, uma vocação criativa. Soma-se a isso a Coluna Economia Criativa, no jornal O Londrinense, que escrevo há um ano, e por meio da qual seguimos nossa missão de divulgar a importância da criatividade para o desenvolvimento da cidade.

​Londrina tem testemunhado uma série de iniciativas voltadas para o fortalecimento da economia criativa nos últimos anos. Em 2019, a Prefeitura instituiu o Comitê Municipal de Economia Criativa (CMEC) com o objetivo de estabelecer diretrizes para o desenvolvimento de atividades nesse setor, por meio de estudos culturais, econômicos e sociais. Em maio de 2023, foi inaugurado o e-Cria Hub no Espaço Villa Rica. Este centro de inovação busca apoiar e estruturar os setores criativos da região, oferecendo consultoria, mentorias e espaços de coworking. Além disso, eventos como o E-Cria têm promovido debates sobre temas atuais, como o impacto da inteligência artificial no setor criativo. Por fim, soma-se a isso a feirinha Londrina Criativa, uma feira de artesanato que, inclusive, já quis proibir o uso do nome pelo Movimento que nasceu antes. Gentilmente, liberamos o uso do nome, pois não tínhamos interesse comercial, depois fomos questionados.

Ao refletir sobre essas iniciativas, percebo que, apesar dos esforços contínuos para engajar diversas entidades e buscar apoio para o Movimento Londrina Criativa, o Movimento não foi convidado a participar dessas atividades. Essa constatação me leva a questionar como as conexões são estabelecidas e como os esforços individuais podem ser integrados de maneira mais eficaz nas iniciativas coletivas da cidade, quando a inciativa não está sentada a mesa do poder?

A economia criativa é um vetor estratégico para o desenvolvimento — disso a gente sabe. Mas ela não floresce sozinha. Ela precisa de solo fértil: políticas públicas consistentes, ecossistemas colaborativos e uma cultura de valorização do simbólico. No Paraná, temos visto avanços. E Londrina não está atrás.

Então, o que Movimento Londrina Criativa está fazendo numa mesa chamada Curitiba Mais Criativa?

Na mesa, o Movimento Londrina Criativa mostrará que criatividade não tem CEP. Demonstrará que não é preciso estar na capital para inovar. Provará que o interior também inventa, conecta, movimenta. Que faz política pública a partir da base, com afeto e estratégia. Que propõe modelos híbridos, onde universidade, comunidade e gestão pública andem de mãos dadas — nem sempre no mesmo ritmo, mas na mesma direção.​

No fim da mesa, talvez uma jovem empreendedora criativa de Curitiba se aproxime e diga: “Obrigada por falar do que acontece fora do eixo”. Então, sorrirei e pensarei: missão cumprida.​

O Movimento Londrina Criativa será, sim, uma visita ousada à mesa dos anfitriões. Mas como toda boa visita, chegará somando, rindo, compartilhando histórias e deixando a provocação: vamos criar juntos?​

Porque o futuro não se inventa sozinho. E porque, se depender de nós, o Paraná todo ainda será conhecido como o estado mais criativo do Brasil.​

Edra Moraes

Profissional de marketing, produtora cultural e escritora. Agitadora cultural e idealizadora do Movimento Londrina Criativa. Prêmios:  Obras Literárias Digitais 2020, “Antologia Poética | Seleção da Autora, Memorial Vivência, Literatura, Livro e Leitura Unespar, Cultura nas Redes 2020 e FCC Digital 2020. Me siga nas redes sociais: Facebook, Instagram @edra_moraes, YouTube @edra-moraes27. Contatos: e-mail edra.moraes27@gmail.com e fone/whatsapp: (41) 997722447.

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