Por Edra Moraes
No artigo anterior, discutimos a falta de consciência política da classe criativa, que, apesar de sua significativa presença em Londrina — considerando os mais de dez principais segmentos da economia criativa —, ainda não se percebe como agente ativo no processo político. Esta classe não elege representantes e, quando comparada a outras categorias, carece de maior organização e engajamento. Outras categorias defendem suas demandas de forma incisiva, atuando como cobradoras ativas no cenário político. Já nós, da classe criativa, seguimos sem conquistar representação direta.
Dando continuidade ao tema, ressaltamos a importância da economia criativa para o desenvolvimento de Londrina e propomos uma análise do plano de governo do prefeito eleito na área de cultura. O objetivo é trazer essas reflexões à comunidade, mobilizando a classe criativa para atuar de forma unida. Ainda que não nas urnas, ao menos durante a gestão, é fundamental que cobremos promessas, apontemos caminhos alternativos e sugiramos as mudanças necessárias.
Como se diz em política: “Negociata é aquela reunião para a qual você não foi convidado.” Não espere ser chamado. E, por favor, abandonemos a postura de “críticos de espetáculo pronto”. É hora de interferir no processo, garantindo que ele atenda ao menos o mínimo de nossos interesses e aspirações.
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Resumo do Plano de Governo do prefeito eleito
O plano de governo reconhece a importância da cultura e das indústrias criativas como motores econômicos, responsáveis por 3,11% do PIB brasileiro em 2020 — superando a indústria automobilística. Para Londrina, uma cidade com vocação cultural evidente, o plano apresenta propostas como:
- Reforma e reabertura de espaços culturais.
- Parceria público-privada para o Teatro Municipal.
- Revitalização do Centro Histórico.
- Valorização das culturas locais e rurais.
- Incentivo ao turismo cultural.
Embora a visão seja abrangente e prometa transformar Londrina em uma referência cultural e turística, a análise aponta que muitos aspectos cruciais ficaram de fora ou carecem de aprofundamento.
Pontos negativos do plano
1. Falta de detalhamento financeiro e operacional
As intenções são claras, mas faltam explicações sobre como garantir os recursos necessários para as reformas e incentivos. Por exemplo, o custo do Teatro Municipal, estimado em R$ 100 milhões, exige maior detalhamento sobre a viabilidade de parcerias e a sustentabilidade do projeto. Afinal, temos exemplos de teatros entregues à iniciativa privada cujo valores de ingressos se tornam inviáveis para a maioria da população, atendendo a uma classe social privilegiada.
2. Ausência de estratégias para sustentação de Políticas Culturais
O plano não menciona a recuperação financeira do PROMIC, que perdeu recursos significativos desde sua criação e sofre com ações populistas que frequentemente querem redirecionar sua verba para outras áreas. Além disso, a Secretaria de Cultura trabalha com uma equipe defasada, sem menção a concursos públicos ou reestruturações.
3. Desconsideração da cultura digital
Não há propostas para a cultura digital ou novas mídias, um setor em ascensão. Investir nessa área atrairia jovens talentos e geraria novas oportunidades econômicas para Londrina.
4. Foco insuficiente em formação e capacitação
Apesar de mencionar escolas de balé e circo, o plano carece de estratégias abrangentes de formação cultural, como oficinas, cursos e parcerias com universidades. A ausência dessas ações denota desconhecimento sobre iniciativas já existentes e limita o foco à produção cultural, ignorando a formação de novos talentos.
5. Centralização das ações no centro e distritos específicos
Embora haja apoio a eventos nos bairros, o plano é centralizado nos espaços culturais históricos e no Centro. Falta clareza sobre como alcançar comunidades afastadas ou menos privilegiadas.
6. Ausência de indicadores de sucesso
Sem metas claras — como aumento de público, número de eventos ou impacto econômico —, fica difícil propor mudanças, acompanhar o progresso e cobrar resultados.
Plano de Cultura frágil
O plano de governo apresenta propostas relevantes, como a reabertura de espaços históricos e a valorização da cultura local. No entanto, para ser mais eficaz, ele precisa incluir:
- Maior detalhamento financeiro.
- Estratégias para sustentabilidade de políticas culturais.
- Investimento em áreas emergentes, como cultura digital.
- Ações de formação de novos talentos.
- Metas e indicadores claros para medir o impacto das iniciativas.
A classe criativa de Londrina tem o potencial de ser uma força política e cultural expressiva. Mas, para isso, é preciso organização, engajamento e pressão contínua para garantir que o plano se transforme em ações concretas.
Conheça o plano: https://dep.tiagoamaral.com.br/planodegoverno/
Edra Moraes
Profissional de marketing, produtora cultural e escritora. Agitadora cultural e idealizadora do Movimento Londrina Criativa. Prêmios: Obras Literárias Digitais 2020, “Antologia Poética | Seleção da Autora, Memorial Vivência, Literatura, Livro e Leitura Unespar, Cultura nas Redes 2020 e FCC Digital 2020. Me siga nas redes sociais: Facebook, Instagram @edra_moraes, YouTube @edra-moraes27. Contatos: e-mail edra.moraes27@gmail.com e fone/whatsapp: (41) 997722447.
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