Por Cassiano Russo, professor de filosofia
Não sei se alguém lerá esta crônica. Creio que as pessoas têm mais o que fazer do que ler esses meus textos curtinhos que só tratam de um universo maldito. Sei disso. Minhas crônicas não são alegres, mas amargas. Coloco nelas todo o meu dissabor com esta minha vida de desocupado que, na falta do que fazer, pensa que é escritor. E, assim, escrevo sobre a minha tragédia pessoal de ser apenas mais um no mundo da crônica.
Por isso, afirmo que não sei se alguém lerá esta crônica.
Está certo que ganhei um concurso literário com um conto, mas isso não é lá grande coisa, pois o que tento escrever nada tem de belo e encantador. Pelo contrário, o objeto das minhas crônicas costuma se apresentar de maneira horrível, coisa feia mesmo.
Melhor seria escrever crônicas para descontrair o público leitor, como nos livros de cronistas famosos que sempre têm algo engraçado a dizer. Mas sou triste e não posso fingir ser outro. Então o que me resta? Registrar a minha visão amarga do que observo ao meu redor, mesmo que isso cause algum tipo de repulsa nos leitores – se é que há leitores para uma crônica como esta.
Li muitos autores amargos, minha dissertação de mestrado foi sobre niilismo. Vejam, pois, como é difícil escapar dessa negatividade que permeia a minha escrita. No fundo, lemos e escrevemos aquilo que somos. E eu sou pessimista. Se isso é desagradável, tudo o que posso fazer é pedir desculpas. Afinal, esse é o meu jeito, nasci assim e morrerei com essa minha negatividade, esse meu pessimismo que, às vezes, resvala no niilismo.
Mas, pensando bem, estou me justificando. E para quem?
Afinal, não sei se possuo leitores.
Não, não é possível que alguém leia essas minhas tristezas.
Acho que ninguém lerá esta crônica hoje.
Talvez amanhã, quando eu me tornar alegre.
Hoje, não.
Porque hoje é tempo de amargor na escrita.
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