Pombas! Os pombos do Bosque de novo

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Por Ana Paula Barcellos

Sou dos anos 1980, poderia facilmente ter dito “pombas” mesmo, a despeito do trocadilho infame. Mas, na verdade, o que eu disse foi um palavrão. A prova de que o Centro de Londrina está completamente abandonado é a infestação de pombos nos arredores do Bosque e do Calçadão, problema antigo que uma administração vai passando para outra e nenhuma resolve porque não quer gastar e ter trabalho.

O Bosque fica no que chamamos de “coração do Centro” de Londrina. Se o coração está assim, todo fedido, cagado e infestado, imaginem o resto! Depois que o foco do dinheiro público da cidade virou Gleba e afins, o Centro, que continua sendo uma das melhores regiões da cidade para se viver, e onde nem custa tão barato morar, está que só piora. Largado aos pombos mesmo!

No caso dessa infestação, o problema não é apenas estético, não é apenas o mau cheiro, é questão de saúde pública – que em Londrina também está sempre mal das pernas.

Pois li ontem que a nova administração municipal propõe algumas ações “imediatas” para solucionar o problema, incluindo a poda das árvores e a limpeza das áreas invadidas pelos excrementos dos pombos. A limpeza, mais que necessária, não pode ser feita uma vez só, precisa ser frequente. Já a poda, a princípio, pode parecer uma solução prática, uma forma de restabelecer o equilíbrio naquele ecossistema. Mas é preciso considerar que as árvores não são apenas fonte de sombra, elas servem como refúgio para muitas outras espécies, incluindo predadores naturais que ajudam a controlar a população de pombos. Essa manutenção da poda das árvores, embora necessária, deve ser feita de modo a não comprometer a fauna local.

Os pombos do Bosque voltaram à pauta do dia, de novo. Entra administração, sai administração e não resolvem o problema.
Fotos: Wirestock para Freepik

Como faz, mata todos os pombos, então?

Uma medida mais controversa em discussão é o abatimento dos pombos – sempre assuntam essa medida, e eu sempre reviro os olhos. Porque essa “estratégia” até pode oferecer alívio rápido ao problema, mas esbarra em questões éticas, legais (matar pombos é crime ambiental) e práticas. O abate não resolve o problema da superpopulação dessas aves em sua origem. O problema, em grande parte, se deve à facilidade de acesso a uma alimentação abundante deixada por cidadãos e cidadãs sem consciência. Além disso, o impacto ambiental deve ser considerado. Cada ação dentro do Bosque repercute em seu equilíbrio ecológico, que é delicado, e o abate pode gerar uma série de efeitos colaterais.

O Gavião Carijó, espécie predominante no Brasil e presente em nossa região, é predador natural dos pombos urbanos. Imagem: Wikipédia

A manutenção frequente do Bosque surge como uma necessidade urgente. Não apenas em termos de limpeza, mas também na implementação de programas educativos para a população, ensinando sobre a importância de não alimentar os pombos, entre outras medidas sanitárias, e como preservar a biodiversidade do local. Outras alternativas ecologicamente corretas podem incluir a instalação de barreiras físicas que desencorajem os pombos de nidificar em determinadas áreas, além da promoção de um habitat propício a aves predadoras, que naturalmente controlariam a população de pombos.

Acontece que, pelo visto nos últimos dias, a nova administração é mais uma que enxerga os pombos apenas como um problema, e não como parte de um ecossistema maior que precisa ser cuidado e respeitado. Uma abordagem holística, que considere tanto a saúde do Bosque quanto a convivência pacífica com as aves, pode transformar o desafio dos pombos em uma oportunidade de educação ambiental e consciência ecológica na cidade. Mas aparentemente o poder público não se importa com isso, não está disposto a investir no que realmente importa e a resolver o problema de fato. E aí, mais uma vez perdemos todos, nós e os pombos.

Pombos transmitem doenças, os seres humanos também. E algumas muito piores que as desses penosos que apenas vivem guiados pelo instinto. A gente pensa, raciocina, e faz e adoece muito pior!

Pesadelo real é a extinção de secretarias municipais tão importantes, como a da Mulher, do Idoso e da Cultura. E é só o começo.

Ana Paula Barcellos

É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente a opinião do jornal

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Uma resposta

  1. Moro em Cuiabá MT. Uma das primeiras alternativas é prática e simples: acabar com a comida fácil desses desocupados e proliferadores de doenças (veja com especialistas quem morreu por doença de pombos – mas passa desapercebido por pneumologistas). Lixeiras da rua e de casas tampadas. Restringir ração para gatos (colocam demais e sobra para os malas); proibir wue coloquem ração nas ruas (pra gatos principalmente) durante o dia, então somente à noite. Gatos tem hábitos noturnos nas ruas. Pombos são diurnos- observem. Nas casas as pessoas também têm que acordar e saber dos ladrões de rações com asas e controlar adequadamente. Economizei uns 30% de ração quando parei de colocar em local com acesso fácil aos pombos. Aliás eles sumiram do meu quintal. Vejam que pombos não ficam em árvores, mais em fios de energia e telhados. Outro detalhe: já observaram que nos fins de semana oa pombos somem? Exatamente porque não tem comida de graça!!! Alberto Romeu – Cuiabá MT

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