Por Telma Elorza
“Tenho fama de ser grossa e mal educada, porque não tenho travas na língua e sempre falo a verdade, doa a quem doer. Se eu não gosto de uma situação ou me nego a fazer algo que vão contra meus princípios, sou sempre vista como uma vilã. Já sofri muito com isso e até tentei mudar a pedido de algumas pessoas próximas, mas decidi me prioriazar. Estou errada em querer minha paz de espírito?”
Amiga, eu a entendo muito. Vivemos em uma sociedade onde, muitas vezes, as aparências enganam. E uma das maiores distorções que acontece diariamente é confundir assertividade com grosseria. “Ela é grossa” ou “Ele não tem educação” são frases frequentemente ditas sobre pessoas que, na verdade, apenas têm limites claros e não levam desaforo para casa. Mas, será que ser firme e não aceitar que passem por cima de você é realmente sinônimo de ser rude? Eu, sinceramente, acho que não. Principalmente porque também sou assim e, como você, ganhei fama de grossa.
Conheço muitas outras pessoas, e talvez você também, que se enquadram nesse perfil: são aquelas que, à primeira vista, parecem duras, inflexíveis ou até mesmo sem paciência. Mas, ao conhecê-las de verdade, você descobre que, por trás dessa fachada, existe um coração gigante, uma alma generosa e uma vontade imensa de ajudar os outros.
O que acontece é que a assertividade incomoda. Vivemos em uma cultura que, muitas vezes, prefere a passividade ou a “educação” que engole sapos e sorri enquanto é desrespeitada. Quem é firme com sua opinião ou postura é mal interpretado. As mulheres, em particular, sofrem muito com esse julgamento. Quando um homem é firme, ele é visto como assertivo ou até admirado por sua liderança. Mas quando uma mulher age da mesma forma, é rapidamente rotulada como “grossa”, “arrogante” ou “difícil de lidar”. Duplo padrão nesta sociedade machista que vivemos? Com certeza.
Grossa não, apenas não leva desaforo para casa
Agora, vamos pensar: qual é o problema em não levar desaforo para casa? Se alguém pisa no seu calo, por que é mais aceitável que você abaixe a cabeça e finja que está tudo bem, ao invés de responder à altura e colocar um ponto final na situação? Dizer o que pensa e se posicionar não deveria ser visto como uma falta de educação, mas como uma forma saudável de manter o respeito. E aqui está o ponto mais importante: as pessoas que são vistas como “grosseiras” geralmente não estão sendo desrespeitosas de fato. Elas apenas não aceitam ser tratadas de forma injusta.
Por outro lado, muitos que criticam essas pessoas acabam se beneficiando do comportamento passivo da maioria. Afinal, quem é que gosta de ser confrontado, né? Quando alguém simplesmente responde com um “não” ou mostra descontentamento, o que causa incômodo não é a resposta em si, mas o fato de a outra pessoa não estar acostumada a ser contrariada. E aí vem a crítica: “Fulana é grossa”, quando, na realidade, ela só está exercendo o direito de ser tratada com dignidade.
Um fato curioso é que, muitas vezes, quem é julgado como “grosso” ou “grosseira” acaba sendo aquela pessoa que mais ajuda os outros. É o tipo de pessoa que, quando alguém está com um problema, vai ser a primeira a estender a mão, a dar conselhos sinceros e a se colocar à disposição. Mas como essa ajuda não vem acompanhada de sorrisos forçados ou palavras açucaradas, muitas vezes passa despercebida. O que não entendem é que essa sinceridade é uma forma de amor – e talvez a mais genuína de todas.
É importante lembrar que ser amável não significa ser submisso. Ser carinhoso não é sinônimo de concordar com tudo. E ser educado não quer dizer que você deva aceitar qualquer tipo de comportamento. O amor verdadeiro, a generosidade autêntica, muitas vezes vêm em embalagens que não são as mais agradáveis à primeira vista, mas que, ao serem abertas, revelam uma riqueza de valores que vai além das superficialidades.
Então, da próxima vez que você for julgada como “grossa”, tente enxergar quem está lhe julgando. Pode ser que você esteja diante de uma pessoa que simplesmente não sabe ouvir um NÃO, que lhe quer submissa e prestativa e que valoriza apenas a própria voz, sem espaço para os outros. Inverta a situação e julgue também se vale a pena manter contato.
Respeitar os próprios limites e exigir respeito não é grosseria. É amor próprio. E, no fim das contas, as pessoas que parecem mais “duras” são, muitas vezes, aquelas que mais amam – nós só aprendemos a não deixar que nos pisem no caminho. Continue assim e seja feliz.
Espero ter ajudado.
Tem dúvidas sobre relacionamentos? Mande um e-mail para telma@olondrinense.com.br
Quem é a Tia Telma
Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.
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