Por Chantal Manoncourt
Da paixão de Louis Cartier por objetos de arte oriental nasceu um estilo de joalheria conhecido em todo o mundo. Em Paris, o Musée des Arts Décoratifs (Museu de Artes Decorativas) reconstitui essa jornada de leste a oeste, da Espanha à Índia, por meio de 500 obras e joias de uma modernidade deslumbrante. A exposição “Cartier et les Arts de l’islam la modernité” tem como objetivo retratar o processo criativo da Maison Cartier. Para tecer a ligação entre a inspiração oriental e a criação do Ocidente.

Visitantes maravilhados olham para as janelas como uma viagem à terra das Mil e Uma Noites. Uma profusão de diamantes, mas também esmeraldas, safiras, turquesas, rubis, lápis-lazuli, ametistas, pérolas que cabem em colares e tiaras, pulseiras e broches. A exposição centra-se no início do século XX. A Europa então dá uma olhada mais erudita nas artes do Islã, que são essencialmente mais figurativas.
Na Cartier, ao estilo Guirlande, essas joias neoclássicas formando arabescos de diamantes sobre platina, encantaram aristocratas europeus e vão aos poucos dando lugar a temas mais lineares, abstratos, estudados principalmente em livros ornamentais e de arquitetura árabes. O joalheiro, em busca de novas inspirações, mantém distância da “Art Nouveau” e prefere padrões geométricos, formando um repertório pioneiro denominado “Art Déco” alguns anos depois. O magnífico colar em ouro, platina, diamantes, ametistas e turquesa encomendado pelo Duque de Windsor para sua esposa, a Duquesa de Windsor, em 1947 é um excelente exemplo disso.

Lembremos que para a coroação do rei Eduardo VII de Inglaterra em 1902, o rei encomendou 27 tiaras da Cartier e concedeu sua primeira patente como fornecedor oficial da corte e apelidou o famoso criador de “joalheiro dos reis e rei dos joalheiros”. Muitas cortes reais em todo o mundo irão imitar o Rei da Inglaterra. O príncipe Rainier de Mônaco encomendou, em 1957, um colar de ouro trançado com pérolas finas. Na Índia, os marajás gostavam de joias e a Cartier era uma de suas melhores clientes. O retrato de Fath Ali Chah em seu trono ricamente decorado é prova disso.

Descobrimos, além das jóias, cerâmicas magníficas como este prato de Iznik na Turquia datado de 1575, espelhos entalhados, caixas ricamente decoradas. Um dos menores desses tesouros é uma cigarreira criada em 1930, com seus círculos de lápis-lazúli marcados por micro retângulos de turquesa medindo apenas 8,7 cm de altura, 5,6 cm de largura por 1,9 cm de espessura. Uma maravilha…
Prato de Iznik – Foto: (c)MAD, Paris/Christophe DELLIERE Cigarreira -Foto: (c)MAD, Paris/Christophe DELLIERE Colar hide de 1963 com ouro, esmeraldas, diamantes, safiras e rubis – Foto: (c)MAD, Paris/Christophe DELLIERE
Serviço:
Musée des Arts Décoratifs, 107 rue de Rivoli 75001 Paris
Cartier et les Arts de l’Islam – a exposição vai até 22 de fevereiro de 2022.

Chantal Manoncourt
Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro
Foto:Tiara em platina, diamantes e turquesas/(c)MAD, Paris/Christophe DELLIERE