Por Chantal Manoncourt
O incêndio na Catedral de Notre-Dame comoveu o mundo inteiro. Hoje, engenheiros, cientistas e artesãos trabalham incansavelmente em sua restauração.
Em 15 de abril de 2019, por mais de quinze horas, as chamas devastaram Notre-Dame. Uma multidão de turistas e vizinhos do bairro prende a respiração. A flecha da catedral pega fogo e se inclina perigosamente, riscando o céu com milhares de faíscas. E de repente é a queda. Alguns estão gritando, outros estão chorando paralisados por este desastre. No entanto, suas duas torres ainda estão lá, imutáveis como símbolo da eternidade.


Construída no século XII, na época de sua construção era a catedral mais alta do mundo com 70 m no topo das torres. Marca a entrada da arquitetura gótica numa nova era, revelando um gigantesco vaso de pedra onde a matéria se esvai ao serviço do espaço. É uma obra-prima de harmonia e equilíbrio, mas esse equilíbrio de 850 anos foi completamente destruído pelo fogo, a flecha com as abóbadas e a estrutura. E apesar dessas enormes fraturas, a catedral não desabou para grande surpresa dos arquitetos. Hoje recupera a aparência de um canteiro de obras medieval; dentro e no pátio mais de 350 artesãos, telhadores, pedreiros, escultores, carpinteiros, mestres vidreiros, restauradores de pinturas ou esculturas trabalham diariamente.




Feliz coincidência ou pequeno milagre as 16 estátuas, dos apóstolos e dos evangelistas, localizadas ao pé da flecha, foram removidas, quatro dias antes do incêndio, para serem restauradas. Eles são instalados no museu da Cité de l’Architecture antes de retornar ao seu local original.


Dos 846 milhões de euros em donativos, já foram gastos cerca de 150 milhões. No transepto norte, a primeira reconstrução de uma abóbada acaba de ser concluída, a limpeza e restauração simultânea dos 42.000 m2 e de todas as 24 capelas estão bem avançadas. Se o órgão, datado de 1733, não tivesse sofrido diretamente com o incêndio, era preciso desmontar 8.000 canos cobertos de pó de chumbo e se por algum milagre nenhum dos vitrais fosse quebrado, expostos à fumaça deveriam ser totalmente limpo como muitos afrescos e pinturas. O canteiro de obras titânico para a glória de Notre-Dame.

E, se por magia, pudéssemos voltar no tempo e descobrir a história da sua construção? Isso é possível graças à experiência imersiva Eternelle Notre-Dame (Eterna Notre-Dame), onde o visitante é convidado a viajar em realidade virtual para mergulhar o mais próximo possível dos construtores, presenciar o lançamento da primeira pedra, aproximar-se dos artesãos, deixar-se guiar por um mestre construtor, descobrir instalação dos vitrais, subir nos andaimes, caminhar sob a estrutura, vibrar ao som dos sinos ou, ainda, admirar a Paris da Idade Média do alto das torres… Uma viagem fascinante de 45 minutos onde todos saem impressionados e maravilhados com a proeza dessas novas tecnologias. No pátio da catedral até o final de 2024.

Por fim, duas grandes exposições são oferecidas ao público, até o final de 2024, para melhor entender o projeto de restauração da catedral:
- Notre-Dame, no coração do canteiro de obras, sob o pátio da catedral, que destaca o trabalho e o saber-fazer dos artesãos.
- Notre-Dame de Paris, dos construtores aos restauradores, que permite descobrir a história da catedral desde a sua construção até o atual canteiro de obras na Cité de l’Architecture, praça do Trocadéro 75016 Paris
Fotos: © David Borges ; Franck Renoir Cité de l’Architecture ; Patrick Zachmann

Chantal Manoncourt
Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro.