Restaurante com mais de 25 anos de história na cidade mostra porque a comida mineira é a preferida entre os brasileiros
Telma Elorza
O LONDRINE̅NSE
Eu AMO comida mineira. Não desmerecendo as comidas das outras regiões do Brasil, ela é o melhor exemplo de confort food que existe. Tanto que, em 2023, foi eleita a melhor do país e ficou entre as 30 melhores do mundo. E Londrina está de parabéns por ter o Minerin, um dos melhores restaurantes de comida mineira que já provei na vida. E a história de como fui parar nele é até engraçada. Senta que vou contar.
Há muitos anos, desde o início dos anos 2000, sempre que tinha que almoçar no Centro de Londrina, escolhia um restaurante simples, na avenida Rio de Janeiro, chamado Mineirinho, onde servem o melhor da comida mineira. O restaurante super simples e barato, que atende os trabalhadores da região com muito sabor e capricho. E eu adoro, principalmente porque outros que também servem este tipo de comida na cidade não chegam nem aos pés da qualidade deste. Este ano, levei minha sócia para almoçar lá, um dia. Ela gostou muito, mas disse que tinha outro na cidade que era tão bom quanto. Lógico que duvidei. E lá fomos nós conferir o Minerin, na JK, 1991.
Minha surpresa foi enorme ao conversar com a proprietária Inês Mazzione dos Reis e descobrir que os dois restaurantes são da família (o marido cuida do restaurante de Rio de Janeiro e ela, o da JK) e as receitas de ambos são as mesmas e seguidas à risca. Ao saber disso, fiquei muito mais feliz. Sabia que ia comer comida boa, bem temperada, de qualidade.

O Minerin da JK foi aberto uma semana antes de começar a pandemia (sim, foi um sufoco para sobreviver; Inês teve até que voltar a trabalhar na cozinha) num espaço amplo que ficou marcado na memória dos londrinenses por um outro restaurante mineiro muito bom, que fechou há muito tempo.
“A gente recebe, até hoje, antigos fregueses desse restaurante”, conta Inês. A escolha do local foi para atender as escolas e empresas da região, com o mesmo capricho e sabor do primeiro restaurante. E sim, apesar do espaço ser o triplo do tamanho e mais bem decorado e planejado do que seu irmão mais velho, os preços continuaram acessíveis: R$45,90 o quilo, no sistema self-service.
“O Minerin é resultado de um planejamento que a gente tinha, queríamos ter um outro restaurante mais espaçoso, com uma cozinha planejada de acordo com nossas necessidades. Mas, nos dois restaurantes, a gente preserva a tradição de receitas típicas, passadas de mãe para filha. Nós somos de família mineira, meus avós são de lá, minha mãe foi ensinada assim e ela me ensinou. Eu comecei a cozinhar muito nova. Com 8 anos de idade já cozinhava, fazia pães. E isso foi passado para minha filha, para minha sobrinha. É um costume de família se reunir em torno de uma mesa farta. Nossos clientes não imaginam que, nos nossos pratos, têm história e muito amor. O frango com quiabo, por exemplo, é uma das receitas que aprendi com minha sogra, também mineirinha, para agradar meu marido. Peguei ele pelo estômago”, brinca Inês.

O principal diferencial, em todos os pratos dos restaurantes, fala muito sobre a tradição mineira de sempre cozinhar com produtos de qualidade. Ali, praticamente tudo é artesanal (com raras exceções como um doce de leite vindo de Minas, por exemplo) e produzido no dia, dos legumes e hortaliças que chegam fresquinhos todos os dias até as massas e molhos artesanais feitos no próprio restaurante. Aliás, quem for almoçar lá pode ver a cozinha, por janelas de vidro, no centro do espaço.

“A gente não tem fritadeira, por exemplo. É tudo feito no tacho, o que garante que não reaproveitamos o óleo. Cerca de 90% do que servimos é produzido aqui. Cozinhar não é só fazer uma comida, é entender o que o público espera. O milho, por exemplo, a gente compra caixas, descasca, corta. Não é milho congelado que a gente vê nos atacadistas. Quando você come o milho congelado, não é o mesmo sabor, você não vai lembrar da sua vó, da sua mãe cozinhando. Já teve gente que chorou aqui, por causa das lembranças. Não tem como substituir um produto fresco”, explica.
Aliás, destaque para os fornecedores: a maioria são os mesmos de quando Inês e o marido começaram com o primeiro restaurante, há 25 anos. “São todos de confiança e verificados. Eles nos separam os melhores produtos. Até defumam os pés e rabos de porco para nossa feijoada”, diz. Aliás, tanto cuidado com o que servem e com a limpeza do local rendeu ao Minerin um Selo de Qualidade e Atendimento ao Turista, do Sebrae. “Ou seja, somos o local ideal para quem quer trazer um parente, um amigo, um profissional. A gente atende muitos gringos que vem para Londrina e eles ficam encantados com tudo”, conta
Minerin na fartura
E não é só no sabor que o Minerin é especialista. Na fartura também. São tantos pratos que tivemos que ir dois dias para provar um pouco de tudo e ainda ficou coisa de fora, porque simplesmente não cabia mais.

Nós na fomos na quarta – que tem uma das especialidades, o pernil à pururuca (uma loucura total, sabe que aquela pele crocante? Então!) – e no sábado, só para provar a feijoada (e outras coisinhas também). Aliás, no sábado, o pessoal que almoça lá durante a semana geralmente leva a família. Inês conhece a maioria dos clientes frequentes, conversa com todos, sabe os gostos de cada um. “Tem gente que vem aqui apenas para comer meu arroz com feijão”, brinca Inês. É uma variedade enorme, de pratos (cerca de 35 pratos quentes, incluindo as massas) e mais um bufê de saladas e outro de doces mineiros.

E ali com certeza, o cliente vai enfrentar um dilema: o que por no prato, pelo amor de Deus! Olha, tem tanta coisa gostosa que é capaz de você misturar lasanha com feijoada. Além do pernil à pururuca, todos os dias (ou quase todos) tem tutu à mineira, feijão tropeiro, frango com quiabo, dobradinha, couve refogada, canjiquinha (ou quirerinha), frango frito, frango empanado, mandioca frita, ovo frito, milho refogado, polenta cremosa, polenta frita, abóbora cabotiá cozida, bifes acebolados, posta branca cozida ao molho, carne de panela, farofa de calabresa, linguiça frita, banana a milanesa e muito mais que, sinceramente, não lembro. Ah, claro, o torresmo a pururuca, que é um clássico deles. Nossa, estou escrevendo com água na boca, só de lembrar. “O torresmo é feito com a parte da lombar do porco, que faz ele pururucar que é uma beleza”, entrega Inês.

No primeiro dia, montei um prato de saladas, com salpicão, que estava uma loucura; maionese de batata e vegetais diversos. Depois passei para o fogão a lenha, que mantém tudo quentinho: fui no frango com quiabo, canjiquinha, tutu de feijão, cabotiá, mandioquinha frita, milho e, claro, o pernil com a pele crocante e desfiando por dentro. Sem contar o torresmo, que eu quase me matei de tanto comer. No sábado, me propus a comer só a feijoada e seus acompanhamentos. Que estava tudo maravilhoso. Mas quem disse que eu resisti a deixar pegar o milho cozido de novo (e realmente, gente, é de um sabor incrível) e mais um pedaço do pernil à pururuca? Quase, mas foi quase mesmo, não joguei um frango com quiabo no meio. Suzi, minha sócia, ficou espantada com a banana a milanesa acompanhando a feijoada. Eu, logicamente, disse que é um acompanhamento comum. Não me desmintam, por favor.

E claro que Suzi me tentou com o rondelli de figo, damasco, queijo e nozes. Lógico, tive que provar também. O rondelli, quando aparece no restaurante, sai rapidinho. A bandeja é reabastecida constantemente. Ela, além da feijoada, ainda comeu um pouco de risoto de alho poró, que, segundo sua opinião, estava divino. Eu não consegui provar, porque estava já bem cheinha e não cabia mais nem um grão de arroz.

E as sobremesas? Sim, nós temos que falar das sobremesas. Se estiver de dieta, ignore. Mas se eu fosse você, não ignorava. Você não faz ideia do que é aquilo. Tem compotas de abóbora (em pedaços e também aquela com coco, sabe?), de mamão, de cidra. Tem cocada mole preta (sério, você tem que provar), cocada mole branca, tem estrogonofe de abacaxi, tem pudim de leite, goiabada, brigadeirão, ambrosia, pavê, sagu, de tudo um pouco. E, claro, o doce de leite importado de Minas. Me perdi nessa mesa.

Para encerrar, não deixe de provar os licores caseiros (todos feitos lá), com especial destaque para o Leite de Onça, e, claro, o cafezinho que não poderia faltar.
Agora, para o Natal, o restaurante está aceitando encomendas de alguns pratos e doces. Vou anexar, aqui embaixo, o cardápio dos pratos que serão preparados, para quem quiser conferir. As encomendas vão só até dia 20, então corre!
O restaurante tem capacidade para atender 170 pessoas confortavelmente e também aceita reservas para confraternizações para o horário de almoço. Ele fica na JK, 1991 e as reservas podem ser feitas pelo telefone 043-33221998.
Fotos: Suzi Bonfim e Telma Elorza
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