Cara, eu nasci e cresci em plena ditadura e com ela tinha a famosa censura. Eu era criança e não entendia que “parada loca” isso significava, só sei que era proibido e isso devia ser mais legal.
Fui começar a me ligar quando pegava as capas das bandas nacionais, e lá estava escrito: “Vetada, proibida a execução pública pela Censura Federal”. Eu, curioso, perguntava para os meus pais o motivo que não podia tocar aquela música, então eles me explicavam que a letra podia ter algum palavrão, duplo sentido ou falando mal do governo. Foi nessa que eu viciei em discos com músicas censuradas. Quando tinha uns trocados, lá ia eu comprar discos de bandas nacionais com músicas censuradas, e o mais “loco” é que eram bandas ou cantores que na época gostava, lógico que eu queria ouvir o som que os donos da moral e dos bons costumes me impediam de ouvir no rádio.
Quando tinha 14 anos, não sei direito se a idade está correta, mas é quase, Lulu Santos lançou um LP chamado Lulu, onde tem as músicas Casa, Condição, Minha Vida. Cara! Lá estava escrito a frase mágica “censurada”, comprei o disco, por que o resto já ouvia na rádio, e nessa mão, ouvi o que pra mim é a melhor música do Lulu Santos, a censurada “RO-QUE-SE-DA-NE”, sim! Tudo maiúsculo, um Rock and Roll foda, com uma letra mais foda ainda. Fiquei muito agradecido aos senhores da censura, pela dica.
Outro foi o do Camisa de Vênus. Não lembro dos primeiros Lps pois não tenho mais, mas o LP Correndo o Risco teve uma que foi censurada, que é Mão Católica. Puta letra ácida, que até quando ouvi fiquei de cara, era novo e aquilo me chocou. E o mais legal que a censura fez, que ajudou a vender bastante, foi no LP Viva do Camisa, gravado ao vivo em Santos-SP em 86. De 9 músicas, 7 foram censuradas. Eu não sei se foi sobre esse disco que Marcelo Nova comentou, mas teve um episódio em que ele viu em uma loja de discos o pessoal chegando e recolhendo todos os discos dele, e o que é proibido é mais gostoso…… o Viva vendeu muito, esse foi um grande exemplo.
Fora outros artistas que tiveram uma ou mais músicas censuradas, a qual não tive oportunidade de comprar. E bandas como Legião Urbana com Conexão Amazônica, RPM com Revoluções por Minuto, Raul Seixas com Rock das Aranhas, que tiveram essas barradas pela censura.
E na minha opinião a máxima da censura foi no primeiro disco da Blitz, As Aventuras da Blitz. Esse, os senhores da moral alheia se superaram.
Os caras, além de colocarem na capa do disco “Impróprio para menores de 18 anos”, tiveram as manhas de mandar inutilizar as duas últimas faixas do lado B, SIM! Os “maluco” mandaram riscar a “parada” toda (veja na foto principal). Cara, como eu tentei escutar alguma coisa que pudesse me dizer o que de tão sério tinha naquelas duas músicas que ninguém podia escutar, mas só tive prejuízo com agulhas que estragaram naquela maldita tentativa de descobrir.
Depois de algum tempo a Blitz veio fazer um show aqui em Londrina, eu fui nesse evento e o Evandro Mesquita jogou um EP pra galera, que diziam as boas línguas, eram as músicas censuradas. Eu não sabia, mas o LP também foi lançado em fita cassete, só que essa a censura não conseguiu inutilizar as faixas, fiquei sabendo muito tempo depois.
As músicas censuradas eram: Ela Quer Morar Comigo na Lua e Cruel Cruel Esquizofrenético Blues.
A primeira, uns falam que foi censurada porque era uma analogia, digamos “fugir do Brasil”, outros falam que era uma apologia as drogas. A verdade, é que esses caras da censura eram uns paranóicos ridículos.
A segunda foi censurada porque a letra tinha uma frase de duplo sentido e, puta que pariu, no meio da letra. E olha o tanto que esse disco vendeu e onde chegou a Blitz.
Conheci muita gente que comprava discos pela mesma curiosidade e porque sabia que tinha um algo a mais ali, o censurado, aquele que ninguém iria escutar nas rádios.
Censura, desejo que você nunca volte. Mas que você vendeu um monte de disco, ah sim! E como vendeu! Valeu.
A censura, única entidade que ninguém censura. (Plebe Rude)
Bora pro Rock, sem censura!
Rogerio Rigoni
Foi comerciante a vida toda, se rebelou e assumiu seu lado de escultor. A música que sempre foi sua paixão! Rock and roll na vida e na arte!
Foto: Acervo pessoal