Por Fábio Luporini
Pode ser que eu corra o risco de ser redundante, mas, novamente, vejo-me impelido a falar sobre a morte. Ou sobre a vida. Diante do triste e chocante acontecimento do acidente que vitimou a cantora e compositora Marília Mendonça, além de outras quatro pessoas que estavam no avião com ela, não encontro por onde fugir do assunto nem das reflexões às quais fui submetido na semana passada. Coincidentemente, eu já havia escrito a coluna da segunda-feira anterior, sobre a morte.
Para além da dor da perda, da ruptura da separação e da saudade que fica, a morte, sobretudo, é um sinal de vida. Mas, como assim? Os que acreditam em filosofias, ideologias e religiosidades acerca da vida eterna sabem que, embora a morte seja dolorida, existe vida além desta. Mesmo assim, quero chamar a atenção para a vida que fica. Alguns dos ocupantes que morreram deixaram filhos, por exemplo. Tal qual Marília Mendonça. O DNA deles já está eternizado nas crianças. Mais que isso, o legado poderá sobreviver para a posteridade.
As centenas de músicas escritas e gravadas pela cantora e compositora, assim como as milhares de visualizações fazem-na viver para sempre no imaginário popular. E, embora eu não a acompanhasse artisticamente, não se pode negar a força que ela tinha. Suas músicas e letras vivem em seu público e fãs. Ouvi dizer que ela era a rainha da sofrência, que suas músicas cantavam dores de amor. Só por isso suas músicas sobreviverão na trilha sonora de muita gente. E, por conseguinte, a própria Marília Mendonça.
A dor, a tristeza, a incompreensão que muitos estão sentindo nesse momento, em relação à tragédia e a todos os que morreram, são naturais e importantes dentro de um processo de luto. Mas, para além de tudo isso, cada uma das vítimas vive em suas famílias, em suas histórias, em seu legado. Por isso, é preciso sempre olhar para a morte buscando enxergar a vida. Talvez a saudade seja amenizada. Talvez não. O certo é que cada um que se vai deixa um pouquinho de si.
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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