Por Fábio Luporini
Ser chato é legal? A reflexão sobre a chatice pode parecer meio antagônica, mas, é preciso entender e compreender seus meandros a fim de que possamos definir se a chatice é chata ou legal. Em primeiro lugar, vamos diferenciar alguns tipos de chatos. Um deles é aquele que gosta de perturbar, de aporrinhar, de encher o saco mesmo. Esse é o chato-mor, o chato nato, o chato por essência e excelência. Esse tipo de chato é o mais chato que tem. Não é objeto da minha reflexão neste espaço.
Por outro lado, existe o chato que se torna chato porque gosta das coisas muito certinhas. É aquele que vive corrigindo o português dos outros, que vive com mania de arrumação, que tem toque de limpeza, de quadro torto. Esse tipo de chato é chato, de fato, quando passa a incomodar o outro por causa de sua chatice. É aquele tipo de pessoa para qual dizem “ninguém vai querer se casar com você” ou “quero ver quando ficar mais velho”. Entretanto, se chatice dessa pessoa não interfere em que vive e convive com ela, tudo está bem.
Mas, existe ainda outro tipo de chato. É aquele que, vez em quando, “estraga prazeres”. É aquele que pondera, que coloca empecilhos, que faz pensar. Eu, por exemplo, sou esse tipo de chato. Outro dia, estávamos na praia em um grupo de oito pessoas. Vimos uns pescadores voltarem do mar e estávamos pensando em comprar alguns peixes frescos para cozinhar à noite. Delícia, não? Mas, ponderei que ficaríamos mais umas quatro horas dentro do carro, que não tínhamos local adequado para condicionar o peixe e que o veículo ficaria infestado de um cheiro horrível. Desistimos de comprar os peixes porque eu “estraguei o prazer”.
Esse chato como eu é aquele que fala a verdade quando ninguém espera ouvi-la, que pondera as coisas e acaba fazendo as pessoas pensarem melhor naquilo que gostariam. Esse chato, na realidade, é legal. Porque, no fim das contas, é um chato que contribui, que ajuda, que pensa no outro. Mas, para entendê-lo, precisamos definir o seu contrário, ou seja, aquele que é legal. A pessoa legal, que concorda com tudo, que só diz coisas que o outro quer ouvir, que é simpática demais, na realidade, é alguém que dissimula, que nem sempre diz a verdade, que apenas fala o que será aprovado por seu interlocutor. Isto é, só quer agradar.
Então, com diz o filósofo londrinense Mário Sérgio Cortella, quem é excessivamente simpático acaba sendo chato. Portanto, o mundo precisa de mais chatos legais e menos legais chatos.

Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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