Por Fábio Luporini
A morte faz parte da vida. E já falamos muito desse tema por aqui. Digo mais: vamos voltar a falar inúmeras outras vezes, sempre que for necessário e importante. Não apenas por ser um assunto inesgotável, mas, sobretudo, por ser importante discuti-lo e rediscuti-lo a fim de amadurecermos nossa compreensão e racionalidade. Entretanto, o que me leva a retomá-lo, desta vez, é uma triste e sucessiva série de acontecimentos que deixaram o Brasil mais calado e menos feliz, nas últimas semanas.
Em pouco tempo, morreram Gal Costa, Rolando Boldrin e Eramos Carlos. O Brasil perdeu, nesse curtíssimo espaço temporal, algumas de suas mais marcantes vozes na música. Ou, para citar também o humor, a figura do eterno Sargento Pincel, o humorista Roberto Guilherme, que divertiu minha infância interpretando o personagem no programa dos Trapalhões. Embora a morte, repetindo a primeira frase do texto, seja algo natural na trajetória da vida, quando ela acontece em demasiado, causa-nos comoção e impacto emocional.
Em primeiro lugar, qualquer pessoa que passa pela dor e pelo sofrimento da perda de um ou mais amigos ou familiares em sucessão – seja de um ou dois anos ou de menos tempo – tem licença para viver o luto, para passar pelas fases da revolta, da incompreensão, da anestesia. Afinal, não há saúde mental que aguente muitos baques de uma vez só. Quando isso acontece com artistas e personalidades que povoam o imaginário de uma nação, que fazem parte da vida do público e que contribuíram para a construção de uma cultura nacional, então o baque se torna coletivo.
Isso significa dizer que o moral brasileiro está abalado porque muitas pessoas se sentem sensibilizadas com a morte de gente tão importante de modo tão próximo. Aconteceu assim com a artista Marília Mendonça, embora naquele caso o baque tenha sido mais pela incredulidade e pela juventude ceifada, pela magnitude da morte, que por qualquer outro motivo. Então, é como se todo esse trauma ficasse marcado na alma nacional. E a gente vai vivendo a vida tendo que lidar com a morte.

Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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