A sociedade imediatista na qual estamos mergulhados na contemporaneidade é a mesma que provoca nas gerações mais novas uma crise existencial profunda aliada a uma indecisão sobre o que se quer e o que se deve fazer. Os exemplos e referências que se têm hoje em dia são aqueles que ganharam dinheiro muito rápido, os que viajam na hora que querem, aqueles que compram os melhores carros da noite para o dia. São esses perfis que seguimos pelas redes sociais, aos quais almejamos ser parecidos.
O que se esconde por detrás da vitrine da vida fácil é o esforço que se faz ou se fez para alcançar o sucesso, a fama ou o dinheiro. Elementos, na realidade, nada preponderantes para a existência humana. Daí o vazio e a falta de sentido pelos quais as gerações mais novas padecem. Sofrem porque a expectativa não corresponde com a realidade. E se frustram porque percebem que a realizada está muito distante da expectativa. É aí que bate aquela dúvida: o que devo fazer para chegar onde o outro chegou?
Medicina? Ser médico dá um bom retorno financeiro, ninguém pode negar. Mas, demora demais para uma geração acostumada com tudo na mão o tempo todo na hora que quer. Realizar o sonho de ser músico, ou de ser gamer, ou então ganhar dinheiro viajando? Pode até ser, mas depende de fatores que independem de cada um. E aí os obstáculos são enormes e intransponíveis, pois, afinal, as pessoas não foram preparadas para vencê-los.
Espelha-se, portanto, em gente que deu uma sorte danada, ou aproveitou uma oportunidade única, ou ainda teve um feeling perspicaz: um caso em 1 milhão. Está na hora de as pessoas colocarem os pés um pouco mais no chão e perceberem o valor das coisas, não o quanto elas custam. O carro custa um preço que, se eu juntar uma grana, vou comprar. Mas, qual é o valor dele? Qual foi o esforço que eu tive de fazer para poder encará-lo como valor, não como custa. Ou melhor, o quanto custa para se obter algo de valor? Percebe a diferença?
É por isso que se proliferam cursos, produtos e serviços que prometem ganhos extraordinários em pouco tempo, “trabalhando uma hora por dia, pelo celular ou computador”. Talvez até funcionem. Mas, qual o sentido disso tudo? Outro dia comprei um curso online para potencializar as estratégias de marketing. Ok. É legal, tem coisas bacanas, algumas das quais eu já sabia. Mas, abre-nos a possibilidade de vender o curso e ganhar comissão em cima. Tudo bem. Não tem problema. Entretanto, os jovens atraídos para esse dinheiro fácil mal sabem do que se trata o curso. Querem apenas vender e ganhar dinheiro.
Falta à nossa sociedade a paciência de se esperar o melhor resultado, o significado e sentido das coisas e a valorização dos resultados obtidos por meio do esforço. Será que é pedir muito?
Foto: Pixabay
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
1 comentário
Parece que os maiores sonhos dos brasileiros são: carteira assinada e se aposentar! Parece que falta uma ambição genuina..se é que se pode chamar assim, de ter uma carreira que realmente goste e ser melhor como pessoa e profissional…ou seja…o brasileiro não percebe que o esforço por um trabalho que não gosta seria minimo se realmente escolhesse uma profissao que ama…apenas acho!