Oscar 2025: dois concorrentes chegam aos cinemas

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Por Marcelo Minka

Ainda estou de queixo caído com as indicações de Ainda Estou Aqui nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, no Oscar. Não que eu achasse que o filme não merecesse, mas pensava que a panelinha hollywoodiana, feita para hollywoodianos, não se abriria tanto assim. Essas indicações ao Oscar é um reconhecimento não apenas do trabalho de Walter Salles e Fernanda Torres, mas também de toda a equipe envolvida na produção do filme.

É um momento de grande orgulho para o cinema brasileiro, que se destaca em um cenário internacional cada vez mais competitivo. A temática do filme, centrada em questões pessoais e históricas, pode não se alinhar com o desejo de determinados grupos que buscam filmes que promovam explicitamente suas causas ou ideologias. Para esses, chorem. Ou para aqueles que acham que não merecemos porque têm “síndrome do cão vira lata” (expressão criada por Nelson Rodrigues para definir sentimento de inferioridade em relação a outros países ou culturas). Para esses, desejo melhoras na auto-estima. Mas vamos aos lançamentos da semana, onde dois concorrentes ao prêmio fazem sua estreia.

Conclave – onde tem poder, tem podridão

O thriller político “Conclave”, que estreou nos cinemas brasileiros nos transporta para os bastidores do Vaticano, mergulhando em um dos eventos mais secretos da Igreja Católica: a eleição de um novo Papa. Com um elenco de peso liderado por Ralph Fiennes, o filme dirigido por Edward Berger nos apresenta uma trama repleta de suspense, intrigas e disputas por poder.

Baseado no romance de Robert Harris (Conclave – 2016), narra a história do Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), encarregado de conduzir o conclave. A partir desse momento, somos arrastados para um jogo de xadrez onde cada cardeal possui suas próprias ambições e estratégias para eleger um novo líder espiritual. As negociações secretas, as alianças improváveis e as traições se entrelaçam, revelando as complexidades do poder e da fé.

A direção de Edward Berger é impecável, criando uma atmosfera densa e claustrofóbica que reflete a tensão presente nos corredores do Vaticano. A fotografia primorosa e a trilha sonora envolvente intensificam ainda mais a experiência cinematográfica, nos transportando para o coração da ação e nos fazendo questionar nossos corações a respeito da nossa própria fé.

O elenco de “Conclave” está impecável. Ralph Fiennes entrega uma performance magistral como o cardeal Lawrence, um homem dividido entre a fé e a política. Stanley Tucci, John Lithgow e Sergio Castellitto completam o elenco principal, interpretando cardeais com personalidades distintas e ambições conflitantes.

Além do suspense político, “Conclave” também levanta questões importantes sobre fé, poder e a natureza humana. O filme nos convida a refletir sobre o papel da Igreja na sociedade contemporânea e sobre o impacto das decisões tomadas por seus líderes.

Indicado a vários Oscars, inclusive de Melhor Filme e Melhor Ator. Vale a pena.

Anora – um conto de fadas contemporâneo

Estrearam nos cinemas brasileiros dois concorrentes ao Oscar, Conclave e Anora, que merecem ser vistos
Fotos: Divulgação

A estreia de “Anora” nos cinemas brasileiros nos trouxe uma experiência cinematográfica singular, que mescla comédia, drama e uma crítica social sutil. Dirigido pelo aclamado Sean Baker (Red Rocket – 2021), o filme acompanha a jornada de Ani, uma stripper do Brooklyn que casa-se impulsivamente com o filho de um oligarca russo. O que parecia ser um conto de fadas moderno rapidamente se transforma em um drama complexo, repleto de muitas reviravoltas e dilemas morais.

Mikey Madison (A Mulher no Lago – 2024), no papel principal, entrega uma performance visceral e magnética, capturando a vulnerabilidade e a força de Ani com maestria. A atriz consegue transmitir a complexidade da personagem (não ao nível de Fernandinha, é claro), que se vê dividida entre o desejo por uma vida melhor e a necessidade de manter sua identidade. Mark Eydelshteyn (Monastery – 2022) como o jovem e impulsivo Vanya, contracena com maestria, complementando a química explosiva do casal.

A direção de Sean Baker é impecável, capturando a atmosfera vibrante de Nova York e a opulência e podridão do mundo dos oligarcas russos. A fotografia, com cores vibrantes e contrastes marcantes, realça a beleza estética do filme e contribui para a construção de uma atmosfera rica em detalhes. A trilha sonora, por sua vez, é uma mistura eclética que acompanha a jornada da protagonista, intensificando as emoções em cada cena.

“Anora” é um filme que vai além da história de amor convencional. A trama explora temas como a busca por identidade, a exploração sexual, as diferenças sociais e a corrupção. O filme não se furta a abordar questões polêmicas, como o trabalho sexual e as relações de poder desiguais, mas o faz de forma sensível e sem julgamentos, nos convidando a refletir sobre os valores da sociedade contemporânea, sobre o papel da mulher e sobre o impacto da riqueza na vida das pessoas. A história de Ani serve como um espelho, refletindo as nossas próprias ambições, medos e desejos.

Mas nossa torcida é mesmo para que Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui desbanquem todos eles no Oscar.

Marcelo Minka

Lobisomem, apesar de alguns defeitinhos, é uma jornada visceral e introspectiva sobre a natureza humana, numa experiência cinematográfica intensa.

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas. Me siga no Instagram: @marcelo_minka e @m_minka_jewelry

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