Por Marcelo Minka
Fim de semana chegando sem sabermos se iremos derreter no calor ou tremer no frio. Temos dois bons lançamentos de filmes nas telas da cidade: o primeiro para quem gosta de biografias, a segunda para quem gosta do gênero terror.
Vamos aos bons filmes
O Aprendiz: Um retrato perturbador e atemporal do cenário político atual
“O Aprendiz” transcende a mera biografia de Donald Trump, revelando-se um estudo profundo da ascensão de um narcisista ao poder. A habilidade de Sebastian Stan (Capitão América 2 – 2014) em personificar a jovem e ambiciosa figura de Trump me surpreendeu. É notável, capturando a essência de um homem moldado pela figura paterna e pela busca incansável pelo sucesso, a qualquer custo.
A narrativa envolvente e, às vezes, ágil demais, nos conduz por uma jornada que ecoa perigosamente no cenário político contemporâneo. A manipulação da mídia, a construção de uma persona pública cuidadosamente elaborada e a desumanização do outro são elementos que ressoam com alarmante familiaridade, tanto lá como aqui.
O filme, ao invés de apenas retratar um passado, parece profetizar um futuro sombrio, onde a demagogia e a polarização dominam o discurso público.
A direção do iraniano Ali Abbasi (Border – 2018) é magistral, explorando a psicologia complexa dos personagens e construindo uma atmosfera opressiva e claustrofóbica. A fotografia e a trilha sonora intensificam a tensão, criando um ambiente propício à reflexão sobre os perigos da ambição desmedida e do poder corrompido.
“O Aprendiz” não é apenas um filme, mas um alerta. Ao desnudar os mecanismos que levaram um homem comum a tornar-se uma figura tão controversa, o longa convida o espectador a uma profunda reflexão sobre a sociedade em que vivemos e os valores que a norteiam. É um filme que incomoda, que provoca e que, por isso mesmo, é essencial.
Sorria 2: Um riso que leva ao terror
“Sorria 2” aprofunda a fenda aberta por seu antecessor, mergulhando em um terror psicológico visceral e explorando os abismos da fama e da solidão. O filme, como um espelho distorcido, reflete a pressão sufocante da indústria do entretenimento, onde a máscara do sucesso esconde angústias profundas. Este é um daqueles raros casos onde a continuação supera, em muito, o filme antecessor.
A direção de Parker Finn (Sorria – 2022) evoluiu, tornando a experiência ainda mais claustrofóbica e inquietante. A câmera, como um voyeur intruso, acompanha a protagonista Skye Riley em sua descida aos infernos, revelando a fragilidade da mente humana diante do desconhecido. A trilha sonora, hipnótica e opressiva, intensifica a sensação de pavor, ecoando nos corredores da alma.
Em comparação com outros filmes do gênero, “Sorria 2” se destaca por sua originalidade na abordagem do terror sobrenatural. Ao invés de apostar em sustos baratos, o filme constrói uma atmosfera de suspense constante, explorando a paranóia e a desconfiança da protagonista. A maldição, aqui, não é apenas uma entidade externa, mas uma metáfora para os demônios internos que assombram cada um de nós.
A atuação de Naomi Scott (As Panteras – 2019) é impecável, transmitindo a angústia e a desesperança de uma mulher à beira do abismo. Sua jornada, marcada pela fragilidade e pela luta pela sobrevivência, nos convida a refletir sobre os altos custos da fama e a importância da saúde mental.
“Sorria 2” é mais do que um simples filme de terror. É uma profunda reflexão sobre a sociedade contemporânea, onde a busca incessante pelo sucesso pode levar à destruição. Ao explorar os limites da sanidade e os perigos da obsessão, o filme nos convida a questionar nossos próprios valores e a buscar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas. Me siga no Instagram: @marcelo_minka e @m_minka_jewelry
Leia todas as colunas de Cinema
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.