Não sou fã de Emicida, mas o fato de eu gostar ou não gostar não muda a importância da personalidade e sua relevância social, também não muda a pertinência do estilo musical em questão. Quando me convidaram para assistir, torci o nariz, vi a contragosto mas, no final, agradeci o convite, emocionado.
Apesar de não ser um lançamento, estreou semana passada no streaming Netflix, este documentário deve obrigatoriamente ser visto por quem quer entender melhor o difícil momento sociocultural que estamos experienciando, este buraco sem fundo em que estamos em queda livre.
Dirigido por Fred Ouro Preto (diretor de videoclipes), Emicida: AmarElo é impecável do começo ao fim. No roteiro simples e intenso, o rapper e ativista discute e celebra o legado da cultura negra brasileira, nos bastidores do show no Teatro Municipal de São Paulo, ligando os pontos históricos, artísticos e antropológicos com uma linguagem simples, exigindo a urgência necessária para o fim dos preconceitos de todos os tipos.
Como dizia minha avó: contra fatos não há argumentos. Sem entrevistas chatas e fora de contexto ou uso de argumentos verborrágicos, AmarElo apresenta fatos históricos (apagados propositadamente de nossa memória histórica), nos convidando a um repensar, nos chamando a um resgate que se faz mais que necessário neste momento turbulento. Uma super aula de história sem esquecimentos.
O documentário tem uma fotografia linda, depoimentos emocionantes, um timing eletrizante e mais que isso: é um golpe de martelo forte na cabeça deste tipinho de arte excludente, intelectualóide (sic) e arrogante, alto-considerada superior.
Com certeza um dos melhores documentários brasileiros que já vi, com qualidade técnica impecável e com incrível capacidade de gerar mudanças em nosso modo de pensar o social e o artístico, o que é o cerne de todo o movimento do rap e deste rapper.
Uma obra cheia de energia que dialoga diretamente com o público e que consegue evocar do nosso ser algo impensável neste momento histórico: o interesse e o amor pela arte brasileira. Imperdível.
Marcelo Minka

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.
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