Por Marcelo Minka
A cada semana que passa estou indo menos ao cinema e o único motivo é a falta de bons lançamentos, ou mesmo de lançamentos, sem adjetivos. Nas salas da cidade dominam Wakanda (texto da semana passada, leia aqui) e, ainda, Adão Negro, além de umas bobagens para encher ainda mais os bolsos das produtoras – como o relançamento de E.T. o Extraterrestre.
O que chamou a atenção dos cinéfilos, mas no streaming Netflix, foi a estreia de 1899, dos mesmos criadores do estimulante Dark, Baran bo Odar e Jantje Friese, disponível no mesmo streaming. Desta vez não se trata de viagens no tempo, mas a série de oito episódios promete mistérios de sobra, suspense, ação e muitas histórias que se entrecruzam.
Vale lembrar que o alemão Dark foi o primeiro sucesso global em língua não-inglesa, com fãs que, ainda hoje, vivem absortos nas teorias sobre viagens no tempo. Falta de uma data para capinar, diria minha avó. Mas para quem assistiu a série, não é o caso da minha avó, sentiu na pele o impacto dessas teorias. E para o deleite da plateia, Odar e Friese não seguiram o caminho fácil e óbvio de requentar Dark e garantir um sucesso fácil, optaram pelo difícil caminho da criatividade e inovação.
Vamos a uma breve sinopse, sem spoilers, para nos localizarmos, porque Dark tive que assistir duas vezes, tamanho o número de personagens e subtramas, e parece que 1899 não vai ser diferente. O roteiro conta a história de um navio abarrotado de imigrantes europeus em uma viagem de sete dias, procurando uma vida mais digna nos Estados Unidos (rsrsrs). Até que, no meio do trajeto, surge à deriva o navio Prometheus, dado como misteriosamente desaparecido há muito tempo. A partir deste ponto o bicho pega, coisas estranhas começam a acontecer com os tripulantes, impactando a rotina do navio.
Uma dica, o que eu deveria ter feito em Dark, é um bloquinho de anotações para não nos perdermos com nomes, rostos, acontecimentos e nas histórias que se entrecruzam. Se você já experienciou mais de quarenta invernos, pode esperar de 1899 uma mistura de Twin Peaks (1990 a 1991) com Lost (2004 a 2010). Só vamos rezar para o final desta série não ser desastrosa como dessas duas citadas.
A produção é meticulosa, com um elenco de várias nacionalidades diferentes onde os atores falam inglês e suas línguas natais; francês, polonês, japonês, alemão, espanhol e até português. Participam Andreas Pietschmann (Dark – 2020), Clara Rosager (Morbius – 2022), Miguel Bernardeau (Elite – 2018), Ben Ashenden (Jurassic World – 2015), José Pimentão (Al Berto – 2017), Lucas Lynggaard Tønnesen (The Rain – 2020), entre outros, muitos outros. Por trás das câmeras participam tradutores especializados nos idiomas para garantir acertos absolutos nas traduções da época em que se desenrola a história.
Ou seja, uma super produção com um cuidado nos mínimos detalhes. Não perca (com bloquinho de notas), e se você não assistiu a Dark, assista (também com bloquinho).

Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.
Foto: Divulgação/Netflix