Por Ângela Diana
Voltamos com a série Feiras Culturais, mas agora também compreendendo também feiras, bazares e empreendedorismo feminino! Arte também é empreendedorismo e empoderamento! E nada como ter representantes e exemplos vivos de como isso acontece, lidando também com o absurdo dos absurdos, que é o RACISMO, num país como o Brasil, aonde, tirando os povos primeiros (donos da terra, a meu ver, os indígenas), somos 99,99,99% todos os povos no nosso DNA.
O Coletivo Black Divas nasceu da necessidade de combater a desigualdade de gênero e raça, discutir as políticas públicas para TODAS as mulheres… Ah! As atrasadas tais “políticas públicas!
O nome condiz com o movimento! Sim, já não é apenas um coletivo. Essas mulheres, como a Edmara (primeira mulher negra a ser modelo em Londrina), somam suas forças e fazem nesses 21 anos do movimento (em julho) , uma onda…Sandra Aguilera está como uma das coordenadoras e o coletivo promove a Feira Black de Empreendedorismo, voltada principalmente para mulheres pretas, com o apoio do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres (CMDM) e a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres(SMPM).
Bom, até agora essas são as infos básicas sobre a feira, as ações e tudo o que essas mulheres estão fazendo há anos…
Divas e poderosas
Agora, gostaria de falar sobre o impacto dessas divas! Desde a primeira feira que eu e Ana Paula (colunista do O Londrinense, escrevendo as colunas Moda e Crônicas de Uma Cidade, minha parceira de negócios na Oficina Bijorhca) fomos a feira Criou (que hoje já trabalha como movimento também), me chamou a atenção mulheres com uma aura e energia muito fortes e trabalhos de fino artesanato… Na segunda feira que participamos, aliás, de outro movimento encabeçado por outra grande mulher, a Ana Berehulka (Feirão de Resistência do MARL), me deparei de novo com mulheres negras lindíssimas , com turbantes coloridos (como coroas!).
Perguntei pra Ana Paula (sempre antenada) quem eram elas. Como eu nunca soube disso? E admito, fiquei constrangida de chegar e conversar com elas! Logo eu que falo até com a TV (meu marido que o diga).
Parecia que eu estava na frente de rainhas! Incrível, como elas conseguem resgatar toda uma história de soberania negra! É, como sempre digo, tem gente que ainda acha que Cleópatra, uma das mais inteligentes estrategistas , química, rainha do Egito, era branquinha como a Elizabeth Taylor!
A energia da beleza de você ser que você É, empodera! E com o poder de volta para suas mãos vem a energia que faz com que atinja outras mulheres a quererem sair de suas “caixinhas”, a colocar a mão na “massa” , a trabalhar em prol de outras mulheres!
Uma pedrinha jogada num lago vira uma onda… uma semente pode virar uma árvore centenária. As Black Divas que, antes eram 10, 30, 80, hoje são quase trezentas!
Fazendo as feiras, abrindo para que outras etnias de mulheres mostrem seus trabalhos, aliviam as cargas que são colocadas nas costas das mulheres de conseguir seu próprio dinheiro, de mostrar suas obras, de trocas… De combate à violência contra mulheres!
Tem uma outra questão delicada, não para mim, mas por muitas pessoas: na minha família metade veio da África, como pessoas escravizadas e metade da Itália e Áustria… Eu fui descobrir o que era o racismo, quando cresci pois, para mim, ter orgulho de todas as minhas raízes sempre fez parte do meu dia a dia…somos uma família de muitas cores e para nós isso nunca fez diferença.
Mas, quando fui buscar minhas antepassadas e antepassados africanos, cadê as informações? De onde vieram, de que região da África, quais os dialetos? Meu Deus, cadê essas raízes? Até hoje só consegui chegar até meu biso!
Antes dele, nada! Nenhum documento, nenhuma forma de descobrir quem eles e elas foram!
Queridas Divas, vocês me trouxeram memórias atávicas. A primeira vez que vi vocês na feira, me deu um choque! Como se alguma das minhas antepassadas estivessem na minha frente!
Posto isso, lembro sempre de uma mana negra (tenho muitas manas do coração que a vida me deu), que falava que o cabelo dela era “ruim”! O QUÊ? Eu ficava tão indignada com ela, porque queria tanto ter aquele cabelo cheio e lindo! Ainda bem que hoje ela já SABE que é maravilhosa, professora de artes, enganjada em movimentos em prol de outras pessoas!
Você quer saber mais sobre as BLACK DIVAS? Acessarem o Instagram @coletivoblack.divas e nosso querido Google!
Quero deixar aqui hoje também, minha gratidão a outras pessoas que fazem o trabalho de muitas artistas e artesãs renderem, que participam de todas as formas para empoderar mulheres. Grata ao Wagner do BAZAR DA MADRE; à Fábia, da FEIRA OKUPA, à Ana Berehulka do FEIRÃO DA RESISTÊNCIA DO MARL e a todas, todes e todos que realizam esse trabalho em prol das mulheres, artistas, artesãs e artesãos!
Fiquei sabendo por todos eles e elas que as edições recentes desses eventos foram S.U.C.E.S.S.O!!
PRESTIGIE, GENTE! Melhor dica de hoje!
Obrigada, Coletivo BLACK DIVAS!
Pax vobiscum
Aos racistas , sigam nos seus próprios infernos…
Eu tenho que contar isso: tenho meu amigoirmão Frutuoso, que sempre foi doador de sangue, além de um artista plástico, músico e NEGRO. A gente sempre dá risada ao pensar nos racistas quando ele vai doar sangue. Eles estão, sem saber, sendo salvos com o sangue de um negro! Melhor exemplo da lei do retorno! E da igualdade! Sangue é a prova que somos todos humanos!
Ah! Ainda não consegui me encontrar com uma das divas, mas convidados estão para um café ! E na próxima feira, eu vou lá conversar com TODAS!
Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos. Instagram angela_dianarte
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Fotos: Acervo pessoal
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