Me mandem pra Cuba, quero ver a vida lá

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Adoro quando a boiada que defende o desgoverno, me manda “ir pra Cuba”. Mal sabe ela o quarto eu queria ir. Desde quando Caetano, que voltou do exílio, queria ver a vida lá. Nessa época em que o Messias era só um desconhecido, que roubava goiabas do vizinho. O ano era 1983, e pasmem, quem comandava o Brasil era João Figueiredo, um militar! E em Cuba não era diferente. Fidel reinava absoluto por lá.

Todos os pessoas que conheço e foram à ilha, voltaram encantados. Os fotógrafos trouxeram na câmera exposições para os mais renomados museu. E tive um colega, que ganhou prêmio em vídeo ao acompanhar uma excursão de músicos ao país. Terras dos Buena Vista Social Clube, contou ele, tem música em cada encruzilhada.

Quando o Brasil fez parceria com os médicos cubanos, um casal foi selecionado para a cidade em que eu morava. Foi recebido com festa pela prefeitura e fiz a manchete do jornal em que trabalhava. A doutora fazia parte de uma ONG internacional e tinha trabalhado em vários países. O currículo da mulher tinha passagem por universidades e hospitais que qualquer médico doaria um rim para estar. Mas lá estava ela, recebendo aquele enorme salário (não chegava a 3 mil reais), no interior de São Paulo, morando em uma casa alugada pela prefeitura, a milhares de quilômetros de sua família. E o atual governo simplesmente enviou os doutores cubanos de volta. Por pura birra.

Também tive a oportunidade de entrevistar o criador de uma das imagens mais icônicas do mundo. Alberto Korda, o fotógrafo que clicou Che Guevara, a mesma que estampa camisetas e bandeiras mundo afora. Foi em São Paulo, no final dos anos 90.

A imagem ficou conhecido como “Guerrilheiro Heróico”. A cena imortalizada pelo Korda aconteceu no dia 5 de março de 1960. Korda fotografava para o jornal cubano Revolucion. Ao lado de várias autoridades cubanas, numa tribuna, Guevara participava de um memorial às vítimas de uma explosão de barco que matara 136 pessoas. Foram apenas 45 segundos para o fotógrafo perceber que o tinha imortalizado uma bela expressão.
Jamais preveria, no entanto, que se transformaria no autor do mais forte ícone dos movimentos de esquerda de todo o mundo. A imagem só se popularizou porque o artista plástico irlandês Jim Fritzpatrick estampou a foto em monotipia e a colocou em domínio público. Se não fosse isso, certamente o fotógrafo teria morrido rico em 2001, somente com os direitos autorais.

Cuba, junto com os Lençóis Maranhenses e as Ilhas Galápagos estão entre os três destinos preferidos dos fotógrafos. E eu, que também fotografo, não conheço nenhum. Se quiserem me mandar, vou adorar ir para qualquer um deles.

Raquel Tannuri Santana

Foto: Acervo pessoal

É jornalista, fotógrafa e cronista. Escreve esta coluna de segunda, com assuntos de primeira.

Foto: Falkenpost por Pixabay

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