Minha mãe conheceu meu pai numa noite de São João. E durante os 54 anos em que convivemos juntas, toda vez que chegava essa época do ano, a ouvia cantar uma música sobre o tema, de autoria de Noel Rosa, que diz assim: “Nosso amor que eu não esqueço, e que teve seu começo, numa festa de São João”. E não é que a música é a história do amor deles? Não consigo nem ler a letra, sem ouvir a voz dela cantando.
Vinda de uma família fincada no catolicismo, e morando em cidade pequena, participar durante todo o mês de junho das festas, era inevitável. As do colégio são inesquecíveis. Pipoca, quentão, pamonha. Era o mês todo correndo atrás das comidas e da montagem das barracas. A do beijo sempre a mais disputada. A cidade toda se mobilizava nas doações das “prendas”, brindes de barraquinhas como a de pescaria e de tiro ao alvo, também minhas prediletas. Tinha gincana, tinha quadrilha, tinha casamento caipira. Tinha cadeia. Tinha poesia.
A pandemia levou as festas para dentro das casas. O brasileiro não desiste. Vi na internet um monte de gente, que fez questão de comemorar em casa. Nem que fosse para fazer fotos para postar na internet. A tradição foi mantida. Amanhã é dia de São Pedro, e como ele encerramos as festas religiosas. A origem da festa junina é pagã, ou seja, é contrária à doutrina cristã, porque as festas que deram origem às festas juninas homenageavam os deuses da natureza e da fertilidade e pediam fartura nas safras, pois era nessa altura que começava o período da colheita de cereais. Na Europa era o solstício de verão e no Brasil, o de inverno.
Mas, como a igreja não conseguia acabar com a popularidade dessa festa – que surgiu há centenas de anos -, acabou aderindo a ela e atribui-lhe um caráter religioso. Tradicionalmente, as festas juninas começam no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, e encerram no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Já nos dias 23 e 24 é celebrado o dia de São João.
No Brasil, as festas juninas foram introduzidas pelos portugueses no período colonial. Em Portugal, a festa junina tinha o nome de Festa Joanina, possivelmente pelo fato de acontecer em junho ou talvez por causa de São João, que é o principal santo da comemoração. É por esse motivo que as festas juninas também são chamadas de Festa de São João.
São João teria nascido em 24 de junho e é um santo muito popular entre os portugueses, que tiveram muitos reis com esse nome. São Pedro, martirizado em 29 de junho, é considerado o primeiro Papa da igreja. Santo Antônio, por sua vez, que morreu no dia 13 de junho, nasceu em Lisboa. Esses são, portanto, os três santos portugueses mais populares.
Desde que as festas juninas foram trazidas pelos portugueses, a comemoração sofreu influências das culturas africanas e indígenas e, por isso, ela possui características peculiares em cada parte do Brasil. Aqui no Paraná, por exemplo, as danças lembram muito o Fandango e nas comidas a presença forte do pinhão. Eu adoro! E não vejo a hora de poder entrar num vestido de chita, pular fogueira e tomar quentão. E roubar aquele beijo na barraca. Porque hoje em dia, quadrilha, só no Planalto. E bem que gostaria de ver todos na cadeia! Viva São João, São Pedro e Santo Antônio! Viva!
Raquel Tannuri Santana
É jornalista, fotógrafa e cronista. Escreve esta coluna de segunda, com assuntos de primeira.
Foto: Pixabay