Grupo da UEL desenvolve solução de reciclagem para material usado em cirurgias

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O desafio foi proposto por rede internacional de sustentabilidade e NINTER sugere fazer sacolas e almofadas com material conhecido como SMS



Reinaldo C. Zanardi /Agência UEL

O que fazer com resíduos hospitalares que precisam ser descartados corretamente, sem prejudicar o meio ambiente? Esse é o desafio proposto pela Learning Network on Sustentability (LeNS) – Rede Internacional de Aprendizagem em Sustentabilidade, que reúne mais de 140 universidades pelo mundo todo. O desafio foi aceito por professores do Núcleo Interdisciplinar de Resíduos (NINTER) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Eles fizeram um diagnóstico para levantamento de problemas na área de saúde e elegeram um material para dar solução: o Spunbond Meltblown Spunbond (SMS), vendido pela indústria como um não tecido. Esse material embala os instrumentos cirúrgicos usados em hospitais e consiste em campos esterilizados para as cirurgias e outros procedimentos.

A solução encontrada pelo grupo de professores – que reúne docentes dos cursos de Administração, Design de Moda, Enfermagem e Engenharia Civil – propõe o uso desse material na confecção de sacolas para condicionar exames e medicamentos para os pacientes e a fabricação de almofadas, com o uso de espuma descartada pela indústria moveleira.

Segundo a professora Danielly Negrão, do Departamento de Enfermagem, o desafio foi feito pela LeNS Brasil, que integra a rede internacional. Os professores do NINTER já fazem um trabalho de discutir a destinação de resíduos e materiais recicláveis. Danielly afirma que há muitos desafios para a destinação de resíduos de serviços de saúde (RSS). “É gerado muito material que não tem solução para o seu descarte”, afirma.

Segundo a professora, a indústria vende o SMS como 100% reciclável, mas Londrina não tem um processo de reciclagem para o produto, que acaba descartado em valas específicas como lixo hospitalar. “No desafio que aceitamos, temos de dar uma solução inovadora e sustentável para o SMS, descartado no Hospital Universitário”, diz Danielly Negrão.

No desenvolvimento das ações, está prevista a elaboração de um protocolo para a utilização do SMS, gerado como resíduo no Hospital Universitário de Londrina. “Vamos elaborar um banco de SMS, com modelo de separação do material nas salas de cirurgia”, comenta a professora. O material contaminado, com sangue por exemplo, não pode ser utilizado, e tem de ser desprezado.

Danielly Negrão explica que a destinação planejada pelo grupo – sacolas e espumas – utiliza ferramentas de design para gerenciar o produto como solução sistêmica para o resíduo gerado no hospital. “Estamos em negociação com empresas para viabilizar a produção desses itens”. Conforme a professora, essa solução tem potencial para ser ampliada para outros hospitais públicos de Londrina e região. “Trata-se de uma solução inovadora e sustentável na área de saúde”.

SMS

No HU/UEL são geradas cerca de 4 mil mantas do SMS, o material usado para embalar material cirúrgico e outros equipamentos que precisam ser esterilizados. Renata Aparecida Belei, coordenadora de Enfermagem da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HU/UEL, afirma que a central de material do hospital destina os equipamentos para os centros cirúrgicos e outras unidades.

Ela lembra que o material, apesar de reciclável, não é aproveitado em Londrina porque não há entidade ou empresa que faça esse trabalho. “Mesmo não tendo contaminação biológica ou química, temos de descartar o SMS como resíduo infectante”. Com isso, o material é embalado em sacos brancos, coletado pela empresa terceirizada pelo HU/UEL que processa e tritura o resíduo para reduzir o volume, depositando-o no aterro sanitário de Siqueira Campos, distante cerca de 200 km de Londrina.                       

CURSO

Como parte das atividades do NINTER e do desafio de buscar uma solução para materiais da área de saúde, professores e estudantes participaram do curso de extensão “Design de sistemas produto-serviço aplicado à saúde pública e resíduos”, realizado na segunda quinzena de setembro. O curso foi coordenado pelo professor Cláudio Sampaio, do Departamento de Design.

Conforme o professor, esse curso foi realizado, de forma simultânea, em cinco universidades do país. Além da UEL, participaram a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Estadual Paulista de Bauru (UNESP), Estadual de Minas Gerais (UEMG) e da Região de Joinvillle (Univille). Cada instituição criou seu grupo interdisciplinar para pensar soluções inovadoras para material da área de saúde, com foco no usuário e na sustentabilidade.

Pela UEL, entre professores, alunos de Mestrado/Doutorado e de graduação,. participaram pelo Departamento de Administração, Lilian Aligleri, Marli Verni e Samara Headley; do Departamento de Engenharia Civil, Caio Rodrigues; do Departamento de Enfermagem, Danielly Negrão, Desiree Sanchis, Giovana Santos, Larissa Carvalho; do Departamento de Design, Suzana Martins, Ana Julia Ramos, Fernanda Massi e Brunna Ramos. Também participou a bolsista IC Jr (Ensino Médio) Fernanda Tomoi.

A estudante Fernanda de Oliveira Massi, do 2º ano de Design de Moda, conta que decidiu participar do projeto por causa da oportunidade de trabalhador com profissionais mestres e doutores. “Todos buscando solucionar um mesmo problema, porém cada um com a visão da sua área”, afirma a estudante. “Essa experiência com certeza contribuiu muito na minha formação. Aprendi muita coisa com os profissionais de outras áreas e também como o Design pode contribuir com a melhoria de várias esferas da sociedade, e não só da moda em si, como estou acostumada a ver na graduação”, relata.

NINTER

O Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos (NINTER UEL) tem como objetivos combater o desperdício de materiais; reduzir o impacto ambiental, social e econômico provocado pelo desperdício; promover a inovação a partir de resíduos e criar novas cadeias de valor. O Núcleo reúne pesquisadores, atualmente, de seis áreas: Design, Administração, Engenharia Civil, Microbiologia e Física. A coordenação das atividades é da professora Lilian Aligleri e do professor Cláudio Sampaio.

Na atuação dos integrantes do NINTER, o foco está em resíduos de diferentes naturezas como rejeito, orgânico, reciclável e resíduos sólidos urbanos. Há também trabalhos em resíduos industriais, da construção civil e agrossilvopastoril. Hoje são quatro grandes projetos, e um deles congrega outros cinco. É o que trata da reciclagem de baterias de íons de lítio e gestão de unidades de desenvolvimento e inovação tecnológica. Mais informações sobre o NINTER, em sua página na internet.

Foto: Divulgação/UEL

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