Como uma ideia simples salvou um restaurante

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Festival do Camarão deu fôlego ao Restaurante Kyoto durante a pandemia e faz sucesso todo final de semana

Telma Elorza

O LONDRINENSE

Confesso: sou fã incondicional de camarão. Adoro esse crustáceo que tem um sabor único, maravilhoso e vai bem em todos tipos de pratos salgados. No entanto, não é sempre que posso desfruta-lo. Os preços proibitivos o afastam do meu bolso. Assim, quando vi a postagem do restaurante Kyoto no Facebook, ofertando um Festival do Camarão por R$49,90 por pessoa, corri aproveitar. Imagina, comer todo o camarão que puder aguentar por um precinho acessível? Paraíso.

Fiz reserva e fomos, eu e a irmã. Foi um dos melhores jantares que já comi em Londrina. Camarão de todos os tipos, dos pequenos aos médios, em vários formatos, fritos, empanados, no coquetel, no risoto, no sushi, enfim, tudo que possa imaginar feito com o bichinho. Me deliciei.

Mas por trás de toda essa felicidade gastronômica para os apreciadores, há uma história interessante. Fiquei amiga, no Facebook, do Sebastião Soares, o Sebá, proprietário do Kyoto. E fiquei sabendo que foi o festival que conseguiu salvar o restaurante – que está há 13 anos em Londrina – da crise gerada pela pandemia de covid-19. E, melhor, conseguiu manter todos os 22 empregados recebendo o salário em dia. O sucesso foi tanto que está contratando temporários – atualmente cinco – para atender os dias de festival.

Sebá conta que, quando foram instaladas as medidas restritivas em Londrina, pela prefeitura, o Kyoto foi fechado como todos os outros restaurantes e comércios. “Foi desesperador, não consegui dormir por uma semana. Pensei, agora acabou tudo”, conta. O iFood ajudou um pouco, já que o delivery aumentou. “A gente se agarrou no iFood para continuar. Como tenho 10 funcionários acima de 60 anos e eles não podiam trabalhar, eu tive que assumir muitas funções. Estava até desacostumado a trabalhar tanto. Eu fiz entrega, ajudei na cozinha, fiz de tudo”, brinca.

No entanto, o delivery sozinho não conseguia manter as despesas. “Eu tive sorte porque tenho outros três negócios, peixarias em Londrina e Maringá, e uma distribuidora de peixes, que não foram afetados pelos decretos e até aumentaram as vendas. Mas o restaurante tem um custo fixo mensal muito alto. Então, tive que investir o dinheiro das outras empresas para mantê-lo. Usei todos os recursos que tinha para salvar o restaurante e os empregos. Pensava muito nisso, nas pessoas que dependem desse emprego. Foi um sufoco, porém, perto do que outras empresas estão passando, facilitou. No entanto, eu não ia conseguir manter muito tempo assim”, conta. Dois meses depois, ele tinha investido mais de R$100 mil no restaurante sem ter retorno.

Conversou com amigos do mesmo ramo e fez reuniões com parceiros para achar tentar achar uma solução. Mas ela veio por acaso. Um dia, visitando o depósito da distribuidora, notou que tinha muito camarão em estoque já que os grandes consumidores do produto, buffets e empresas de eventos, também estavam fechados. “Pensei que iria perder tudo. Porém, conversando com um amigo parceiro de Barra Velha (SC), ele sugeriu: por que você não faz alguma coisa com esse camarão no seu restaurante? Fazer dinheiro com ele. Aí eu inventei: vou fazer um festival. Como sou distribuidor, o custo para mim é menor e posso repassar isso para o cliente”, lembra.

O primeiro festival de camarão que fez foi um fiasco. “A gente errou tudo! A gente não sabia quantas pessoas viriam, se perdeu no preparo. Foi um horror”, brinca. Sebá, no entanto, não desistiu. No segundo, corrigiu todos os erros. Passou a fazer reservas para calcular a quantidade de pessoas e comida, e foi acertando. Aumentou os dias do festival para sexta e sábado, criou o Festival do Salmão na quinta-feira e agora mantém uma média vendas para 170-180 pessoas por dia de festival. “Poderia até atender mais, mas por causa das medidas restritivas, mantemos reduzida a lotação, com os horários pré-determinados”, explica.

“Conseguimos inventar uma coisa que está dando renda para salvar o restaurante. Meu intuito é esse: pagar as contas, energia, água, aluguel, salários. E se continuar do jeito que está, a gente está livre do colapso”, afirma. A prioridade, para ele, é manter todos os funcionários. E os clientes, felizes. “Eles só tem elogios, passam no caixa e falam que gostaram muito”, diz. Uma coisa que Sebá percebeu e lhe deu forças para continuar foi o fato de muita gente estar torcendo para o restaurante se salvar. “Tem muita história legal, de clientes que ligam pedindo para a gente não fechar. Um deles me disse que almoça ali, sempre aos sábados, com os pais. Sabe, uma preocupação, um carinho deles pra gente não fechar. É muito bom.É muita gente feliz de saber que o restaurante conseguiu sobreviver “, afirma.

Serviço: O Festival de Camarão acontece às sextas-feiras e sábados, das 17 às 22 horas, por R$49,90 por pessoa, para comer à vontade. Reservas devem ser feitas pelo whatsapp (43) 98832-9819 ou pelo telefone fixo (43) 3029-1950. O Kyoto fica no Com Tour Shopping, no segundo pavimento.

Fotos: Acervo pessoal

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