Por Telma Elorza
“Estou casada há menos de um ano e, pra mim, tudo tem sido maravilhoso, principalmente na parte sexual do casamento, com relações frequentes. Mas meu marido veio, agora, com um papo dizendo que não podemos cair na rotina e que precisamos “movimentar” nossa vida sexual com fantasias. E me propôs um ménage, com um amigo dele. Para você entender melhor, devo confessar que casei virgem (por questões que não vem ao caso aqui), depois de apenas 1 ano de namoro e noivado, e que a proposta dele me assustou muito. Isso é normal na vida de casada? Não me sinto confortável para aceitar a ideia dele, mas tenho receio de perde-lo se me recusar. O que faço?“
Amiga, senta que lá vem textão. Porque essa história aí, sinceramente, é um clássico do combo “macho com ego inflado e senso zero de empatia”
Primeiro de tudo: parabéns por reconhecer que você não se sente confortável com a ideia de um ménage. Esse é o ponto focal de sua mensagem. Já mostra que você tem instito e respeito por si mesma, coisa que, aparentemente, seu marido anda deixando de lado.
E vamos por partes: você casou há apenas um ano, sem experiência sexual nenhuma. Está feliz, satisfeita e aprendendo a curtir o sexo com seu parceiro. Tudo ótimo. E, de repente, fora da curva, o cara vem com o papo de “não podemos cair na rotina”? Como assim? Não há rotina no primeiro ano de casamento, tudo é novidade, tudo ainda precisa ser explorado (inclusive no sexo), a intimidade ainda está sendo construída. Um ano de casado e ele já tá preocupado com rotina sexual? Ou ele anda assistindo pornografia demais ou tá com a cabeça em outro planeta. Não houve tempo de criar “rotinas!”.
Esse discurso de “vamos movimentar a relação” faria sentido depois de alguns bons anos de casados, tipo de uns cinco a 10 anos, quando vocês já tivessem filhos, por exemplo (que, por mais legal que seja, prejudica muito a vida sexual do casal). No primeiro ano, volto a dizer, não tem rotina. O que deve ter é muito tesão, com vocês transando frequentemente e loucamente, várias vezes ao dia até, em qualquer canto da casa/apartamento.
Pra mim, ele escondeu seus próprios fetiches (como o de ser um cuckcold, por exemplo), talvez por você ser virgem. E não tem nada de errado nisso. A menos que venha acompanhado de pressão e chantagem emocional – dada a sua inexperiência -, porque aí vira pura manipulação. Fantasiar e realizar as fantasias é ótimo, natural, todo mundo tem curiosidades. Mas transformar a fantasia em obrigação conjugal é outra história.
E o que ele propôs não é uma fantasia qualquer, tipo usar uma lingerie diferente ou testar um lugar novo, uma posição difícil, coisas assim. É um ménage com o amigo dele. Só o fato dele já ter escolhido um amigo e não alguém completamente fora do círculo de vocês já é uma RED FLAG. Ele quer “movimentar” a relação ou quer realizar uma fantasia escondida até dele mesmo usando o casamento como desculpa?
Falar em abrir relação, transar com outros de fora do casamento, experimentar coisas novas, viver fantasias, tudo isso exige uma certa maturidade, segurança e, principalmente, consentimento. Você tem que ter uma experiência maior que apenas um ano de atividade sexual – você ainda está engatinhando no sexo – oferece para ter o discernimento necessário para saber se está pronta para viver um ménage com um conhecido.
Ménage exige preparo emocional
Ménage é uma prática que exige preparo emocional e sexual dos dois lados. Muita gente acha que é sinônimo de liberdade, mas, na real, costuma gerar ciúmes, comparações e inseguranças, principalmente quando não há igualdade na decisão. Sem confiança total e vontade genuína de ambos, vira um campo minado.
Portanto, esse consetimento só pode ser feito quando você se sentir completamente segura de si. Ele deve ser livre, leve, por causa da curiosidade própria e sem medos ou insegurança. Nunca por medo de perder o companheiro. Porque, se você topar por medo, não é escolha, é coerção.
Não ter muita experiência sexual não é defeito (embora eu sempre recomende à todas que façam muito sexo antes de dizer “sim”, porque, depois, se pegar um cara ruim de cama, fica mais complicado se livrar dele, kkk) e nem faz você ser menos mulher. Mas faz, sim, com que a proposta de ménage seja ainda mais delicada para você. Porque o que deveria ser uma descoberta íntima, natural e construída sobre uma parceria entre o casal, o cara está transformando numa espécie de “teste de limites”. E você acha certo ser testada assim?
A mim, que sou vivida e já passei por quase tudo que uma mulher pode experimentar no sexo, me parece que ele está mais interessado em realizar a própria fantasia do que respeitar seu ritmo. E o casamento, minha querida, é uma sociedade de dois, não um parque de diversões onde um se diverte e o outro, com medo, se submete.
Se ele quer fantasia, ótimo. Que comece fantasiando um pouco de respeito, empatia e diálogo. Que tal ele começar a perguntar o que você quer, o que você sente curiosidade de tentar, o que você gosta? Porque se a única imaginação dele é trazer outro cara pra cama, tem algo muito errado no conceito de parceria aí.
E vamos ser sinceras: se um homem ameaça deixá-la porque você não quer fazer sexo a três, ele nunca a quis de verdade. Quis a fantasia, o controle, o poder de moldá-la ao gosto dele. Talvez esteja aí a pressa em casar, depois de apenas um ano de namoro e noivado. E casamento que se sustenta em chantagem e culpa já nasce totalmente podre.
O que você pode fazer
Fale a verdade, com todas as letras: “Não quero, não estou pronta e não me sinto bem com isso”. E pronto. Não precisa ficar se justificando, inventando desculpas. O não é completo, não precisa vir com nota de rodapé.
Se ele respeitá-la e amá-la, vai entender. Se fizer drama, virar as costas, culpá-la ou ameaçá-la com o fantasma da “rotina”, aí você já tem a resposta: ele não é parceiro, é egoísta.
Aí você aproveita para pensar: será que esse casamento que parecia tão “maravilhoso” é mesmo equilibrado? Ou você está tão encantada com a ideia de ter um marido amoroso que ainda não percebeu as pequenas manipulações por trás? Casamento feliz não é aquele que tem sexo o tempo todo, é o que tem diálogo, carinho e respeito constante.
Você tem todo o direito de explorar sua sexualidade no seu tempo. De dizer sim, de dizer não, de mudar de ideia. O corpo é seu, o prazer é seu, a escolha é sua. E se o amor dele depende do quanto você topa se anular pra satisfazer uma fantasia alheia… então esse amor vale menos que um sabonete usado.
Não caia na armadilha do “vou perder se não aceitar”. O que você perde, na verdade, é a própria paz se aceitar algo que não quer. E casamento nenhum vale esse preço.
Espero ter ajudado.

Tem dúvidas sobre sexo? Mande sua pergunta para telma@olondrinense.com.br
Quem é Tia Telma?

Telma Elorza é jornalista, divorciada, xereta por natureza e que sempre se interessou muito por sexo. Com a vida, aprendeu várias coisas, mas a principal é que sexo é uma coisa natural e deve ser sempre prazeroso.
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