Por Telma Elorza
“Olá, tenho 18 anos e um monte de dúvidas. Não me sinto bem falando sobre isso com ninguém, por isso espero que me ajude. Eu sou virgem e nunca me relacionei sexualmente nem com homem ou com mulher. Na verdade, vejo meus amigos todos loucos atrás de sexo e não sinto a menor vontade de transar. Nem me masturbo porque não sinto necessidade, tesão. Já gostei de uma menina, mas queria apenas conversar com ela e, no máximo, abraça-la. Meus amigos me acham um cara estranho e me cobram. Falam para eu me assumir gay. Só que não sou nem isso. O que acontece comigo? Sou normal? Tenho como corrigir esse problema? Vou passar minha vida inteira sozinho? Obrigado pela atenção.”
Vou confessar uma coisa para vocês, leitores. Eu adoro quando vocês vem me pedir ajuda, quando não conseguem falar das suas dúvidas, fantasias e problemas nem com as pessoas mais próximas. Isso significa que estabeleci uma relação de confiança com meus leitores, expondo e respondendo seus anseios sem expor suas identidades. E acredito que a coluna tem ajudado muita gente, porque, para cada um que cria coragem e me escreve, tem dez outros que não conseguem superar a barreira e buscar a ajuda.
O caso desse rapaz é um exemplo. Muita gente pode ter uma libido baixa e se questiona sobre isso. Essas dúvidas geram insegurança e medos, principalmente numa sociedade que ainda cuida muito da vida do outro, o que ele está fazendo, com quem está se relacionando ou porque não se relaciona. Se todos se focassem em cuidar da própria vida, metade dos problemas desapareceriam. As pessoas não se sentiriam obrigadas a fazer coisas que não querem por uma suposta “normalidade”. Afinal, como definiu Caetano Veloso na música Vaca Profana, de perto, ninguém é normal.
Para o leitor, eu recomendo, primeiro de tudo, buscar uma avaliação médica. A falta de desejo sexual na adolescência e início da vida adulta pode estar relacionada com problemas genéticos ou hormonais. Baixos índices de testosterona, por exemplo, podem comprometer o desenvolvimento sexual, já que é o principal hormônio masculino. As mulheres também precisam de testosterona, só que, no caso delas, é chamada de testosterona feminina. Sua principal função está relacionada com o aumento do desejo sexual, favorecendo o período de reprodução. Mas, nas mulheres, é produzida 25 vezes menos que nos homens.
Nos homens, o hormônio precisa estar estabilizado dentro de um índice de referência entre 300 e 900 nanogramas por decilitro de sangue. Abaixo disso, a parte do cérebro que é responsável pelo desejo sexual não é ativada e, portanto, nada de vontade de transar. Há outros hormônios que também influem no desejo sexual, mas a testosterona é o que mais pega. Procure um médico ANDROLOGISTA (que atua mais na área da sexualidade que o urologista) e faça uma investigação. Se a causa realmente for baixos índices hormonais, talvez possa ser revertida com reposição hormonal. Mas só o médico poderá realmente verificar se o caso é físico e recomendar o tratamento. Nada de tomar hormônios sem acompanhamento profissional, por favor. Pode acabar com mais problemas que os que já tem.
Descartados os problemas físicos, é hora de começar a pensar que você pode ser uma pessoa assexual. Atenção: há uma enorme diferença entre assexuado e assexual. Assexuado é uma árvore, por exemplo. Ela não precisa de contato sexual para se reproduzir. Assexual é quem não sente atração por nenhum dos gêneros sexuais. Ou seja, ela não tem interesse por sexo, seja hetero ou homo. Não há estimativas oficiais sobre a assexualidade, mas algumas pesquisas científicas apontam que, pelo menos, 1 em cada 100 pessoas, são assexuais. Ou seja, uma boa parcela da população mundial não tenha nenhum interesse por sexo. No Brasil, com mais de 200 milhões de pessoas, pelo menos 2 milhões seriam assexuais. E elas nascem assim, assim como os homossexuais nascem homossexuais (não viram gay, para ficar mais claro).
Boa parte das pessoas assexuais (sim, podem ser homens, mulheres, cys ou trans) também não tem interesse romântico, mas muitas outras, por pressão da sociedade ou por vontade própria, buscam o carinho e companheirismo com um(a) parceiro(a). E nem sempre é compreendido por ele(a), afinal, para a maioria da população, sexo é vida. Além da reprodução, é importantíssimo na relação a dois. Então, muitos se OBRIGAM a fazer sexo (embora não com frequência), o que é uma violência sem fim contra si mesmo. É quase como se fosse estuprado todas as vezes, porque não está fazendo aquilo porque quer e tem vontade. Está fazendo obrigado para satisfazer outra pessoa.
Para quem precisa e quer se relacionar com alguém, o ideal é que se busque um parceiro também assexual. Hoje, com a internet, deve ter grupos de pessoas que se identifiquem com a assexualidade e procurem fazer amigos e, até, algo mais sério. O que não pode nunca é tentar fingir ser o que não é e esconder a assexualidade de um possível parceiro ou parceira. Só traz sofrimento para ambos.
Espero ter ajudado.
Tem dúvidas? Escreva para o email telma@olondrinense.com.br
Quem é Telma Elorza, a Tia Telma?
Jornalista, divorciada, xereta por natureza e que sempre se interessou muito por sexo. Com a vida, aprendeu várias coisas, mas a principal é que sexo é uma coisa natural e deve ser sempre prazeroso.