Por professor Renato Munhoz
O ODS 5 não deixa de ser um alfinete na consciência de todos nós, reconhecendo em seus indicadores a grave situação da violência de gênero, como um dos elementos que fazem com o desenvolvimento humano seja fortemente afetado.
Repensar a sociedade em que vivemos onde, segundo dados do Fórum de Segurança 2021, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas se faz urgente e necessário.
Não é possível conviver com a ideia de que um LGBT seja vítima de violência a cada hora no Brasil. Conviver com a intolerância e o preconceito nos afastam de um desenvolvimento democrático e cidadão. Uma nação sustentável, segundo os objetivos do milênio, passa por: “Eliminar todas as formas de discriminação de gênero, nas suas intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial para as meninas e mulheres do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas”.
O próprio ODS reconhece o termo empoderamento como caminho necessário para a superação desta triste realidade. Aponto duas formas de empoderar que podem contribuir para que possamos nos encontrar com uma nova realidade de gênero em nosso país.
Empoderamento de Renda: é importante considerar que muitas situações de violência estão presas a situação de dependência financeira, sobretudo das mulheres. É proeminente pensar projetos e políticas públicas, que elevem as condições financeiras das mulheres e da comunidade LGBTQ. Para que possam construir, por si só, as condições necessárias para sua sobrevivência e sua liberdade.
Diversos projetos de Economia e Finanças Solidária Brasil afora, tem colaborado diretamente para autonomia de renda e construção de outras realidades possíveis, que apontem para a superação da violência e a dependência masculina. Superando de uma vez por todas a cultura do “provedor”, dando lugar à cultura da solidariedade pela “sororidade”. Mulher fortalece mulher.
Empoderamento de Político: em uma sociedade onde mais de 50% é de mulheres e a representação política no Congresso Nacional não passa de 15%, demonstra claramente que a pauta do empoderamento feminino tem encontrado cada vez menos espaço na representação política nacional. Políticas públicas voltadas para a superação das realidades de violência de marginalização de mulheres e comunidade LGBT pouco fluem, em um espaço predominantemente masculino. E não bastasse ser um ambiente “androcêntrico”, poucos tem a sensibilidade de reconhecer o protagonismo e empoderamento das mulheres. Replicando muitas vezes aquilo que vem sendo cada vez mais reconhecido como violência institucional.
É preciso que haja a coragem de mudarmos as leis de representatividade em nossa nação. Garantindo espaços, mas sobretudo fortalecendo a consciência de organização das mulheres para que busquem sua representatividade política pelo voto feminino. E, mais que isso, através de suas belas lutas feministas da atualidade possam continuar conquistando os espaços por força da organização feminina e de todas as categorias tidas como minorias.
Há muito o que se fazer. Mas há muito já iniciado. Os ODS nos apontam, mas não nos levam. É preciso caminhar. Fazer acontecer. Se organizar cada vez mais em torno do outro mundo possível.

Professor Renato Munhoz
Teólogo e Historiador. Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade.
Foto: Observatório do Terceiro Setor