Por Renato Munhoz
É comum encontrarmos em quintais nas cidades brasileiras pessoas que plantam algum tipo de alimento. Muitas pessoas conseguem organizar hortas em pequenos espaços.
Estas hortas urbanas nos quintais de casa – ou até mesmo em terrenos que antes eram ocupados pelo mato, insetos e pela sujeira – representam um movimento que cresce no Brasil e no mundo trazendo consigo o resgate de uma série de valores, que contribuem desde uma melhor convivência com as cidades até mesmo apontar para a superação de diversas vulnerabilidades, garantindo acesso a alimentação e promovendo a soberania alimentar através da difusão da cultura da alimentação saudável.
A Agricultura Urbana tem se tornado um instrumento estratégico na construção da cultura da sustentabilidade, tendo em vista a promoção de uma série de ações que levam em conta a preservação destes espaços diretamente e indiretamente de todo o entorno.
Existem experiências de hortas comunitárias constituídas próximas de rios e nascentes em que as comunidades tem utilizado técnicas para a preservação e utilização da água na irrigação do espaço inclusive. Mas acima de tudo, o que é sensível destas experiências é a possibilidade de contato com a terra. Tocar a terra, preparar a terra, plantar na terra, tem servido inclusive como elemento de cura para os problemas de saúde mental, tão presentes hoje na vida das pessoas.
A cultura da terra, que é o sentido da agricultura, têm devolvido para as cidades a possibilidade de fazer com que as pessoas vivam melhor. Existem projetos no Brasil que tem tido o alcance inclusive na superação da fome. Muitas pessoas encontram, nas hortas urbanas, a possibilidade de produzir seu alimento, mas também de comercialização deste, promovendo assim a geração de renda.
Em muitos projetos, além da produção de alimentos e da geração de renda, existem programas pedagógicos bem estruturados. Possibilitando, além do processo de Educação Ambiental,o resgate da cultura coletiva. A cultura do encontro, os mutirões. Isso vai construindo um caminho onde não apenas a terra é transformada, mas as relações humanas. A partilha do alimento, a distribuição do excedente para a comunidade, vai virando a chave da solidariedade, acionando o motor da transformação social.
A Agricultura Urbana é muito mais do que simplesmente ocupar os ócios urbanos e plantar, ela está posta como um instrumento dentro dos 17 objetivos sustentáveis, os chamados ODS, apresentados pela ONU. Favorecendo a construção de uma outra forma de perceber a cidade. De conviver com os espaços, tendo neles a possibilidade de desenvolver projetos superadores de todas as mazelas ambientais e sociais. Fortalecendo a ideia das chamadas cidades sustentáveis e inteligentes.
São soluções endógenas. Aquelas que nascem de dentro para fora. As comunidades tem condições de perceber a solução para a maioria dos seus problemas. Foi assim que nasceu a ideia da Agricultura Urbana e é assim que ela tem se mantido. A partir das forças geradas pela criatividade e capacidade de cada pessoa que abraça a terra e tem transformado a realidade brasileira.
Renato Munhoz
Professor, teólogo historiador. Pós Graduando em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Coordenador de Projetos do COPATI (Consórcio para Proteção Ambiental do Rio Tibagi).
Foto: Instituto Colmeia de Cidadania
Uma resposta
Parabéns pelo artigo, pertinente, atual, informativo, incentivador, de um mundo possível. A partir de iniciativas individual e coletiva, para superação da fome, individualismo, patologias até. Obrigado Renato.