Por Alessandra Diehl e Rogério Bosso
Como já dito na canção da banda de reggae brasileira, Cidade Negra, “todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite”, mas, vamos concordar que um relacionamento tóxico não cabe nessa “alguma coisa”, certo? Várias mídias estão, esta semana, discutindo o caso do BBB 23 e este tema ganhou espaço e nos dá a oportunidade de discutir mais sobre ele.
O que buscamos em um relacionamento?
Ao buscar por um relacionamento, geralmente e minimamente, imaginamos encontrar um relacionamento que deixe a vida mais leve, saudável, com um funcionamento de uma via de mão dupla, baseado, principalmente, no respeito. Sabemos que as experiências emocionais humanas, tais como o amor, ocorrem de forma natural através da interação espontânea e dinâmica da contingência de seres humanos com outros seres humanos.
Todos os relacionamentos são saudáveis?
Existem relacionamentos que vão afetar, ao invés de positiva, muito negativamente a vida das pessoas, seja através de danos mentais, emocionais e ou até mesmo físicos. Esses relacionamentos prejudiciais são conhecidos como relacionamentos tóxicos.
Algumas pessoas tem a ideia de que, para estar em um relacionamento tóxico, precisa existir, exclusivamente, uma agressão física, o que não é correto. Nem sempre a agressão física, embora seja um dos sinais de uma relação tóxica, está compondo o relacionamento tóxico no momento. Raramente um relacionamento tóxico inicia-se com agressões físicas como tapas, murros ou grandes ameaças de morte. As agressões podem acontecer de outras maneiras, como, por exemplo, a psicológica, que vai causar tantos danos ou mais que os causados em uma agressão física. Mesmo quando existe agressões físicas, essas podem acontecer de forma sutil e ser difícil de ser percebida.
Um fator importante de ser mencionado é que, quando inseridos em um relacionamento tóxico, algumas pessoas podem não entender que estão vivendo essa situação e não percebam os abusos que estão sofrendo. Algumas vezes, ela se mantém nessa relação até mesmo por não ter vivencido experiências de um relacionamento não abusivo. Dessa forma, não existem parâmetros para comparação do que é um relacionamento abusivo e de como seria um relacionamento saudável.
Por esse motivo, é comum que pessoas permaneçam por longos períodos nesse relacionamento tóxico, ou, em alguns casos, quando a pessoa toma consciência, se sente culpada por não conseguir fazer com que no relacionamento saia como ela gostaria. Esta pessoa se esquece que um relacionamento é do casal e, sendo assim, ambos precisam fazer com que o relacionamento seja saudável. Em um relacionamento tóxico, existe uma dependência importante na parceria, que pode envolver o emocional, físico e até mesmo financeiro. Ao perceber essas fragilidades, o agressor faz a parceria se sentir sem habilidades para fazer qualquer coisa e cada vez mais acreditar que precisa do agressor em sua vida.
Sinais de um relacionamento tóxico
Cada vez mais, se faz importante ficar atento aos sinais de um relacionamento tóxico. São eles:
- Falta de diálogo no relacionamento, ou, quando existe tentativas de diálogo, acontece de forma unilateral de forma rude, e por vezes, aos gritos,
- Uso da sedução para manipular a (o) parceira (o);
- Críticas exageradas que aparecem disfarçadas de elogio;
- Presença de ansiedade;
- Presença de medo;
- Apoio unilateral;
- Ciúmes exagerado;
- Controle excessivo de onde vai, com quem vai, o que gasta. Existe a intenção do agressor de estar “apenas exercendo um cuidado”
- Violência, podendo ser de cunho físico, psicológico, sexual, patrimonial, verbal ou moral;
- Ameaças e dependência;
- Forte sentimento de culpa por quem está sendo manipulado.
Talvez você esteja namorando um suieito narcisista?
Seu namorado tem “mania de superioridade”? Ele parece ter a crença de que é melhor do que as outras pessoas, portanto, ele merece toda a atenção e sucesso? Ele sempre precisa se sentir “por cima” dos outros e de você? Ele se acha uma pessoa muito especial e admirada por terceiros? Bem, então pode ser que este relacionamento toxico possa estra ocorrendo com uma pessoa que tem um transtorno de personalidade narcisista.
Esse transtorno de personalidade costuma existir em concomitância com outras condições, como a depressão, ansiedade. É igualmente comum que pessoas narcisistas desenvolvam dependência química em algum momento de suas vidas. Portanto a presença de álcool e outras drogas tende a piorar as relações. Por conta dessas características, as pessoas narcisistas costumam ser difíceis de lidar e podem afetar a saúde mental dos indivíduos com quem convivem.
Como buscar ajuda?
Ao identificar alguns destes sinais, é importante buscar por ajuda profissional. Um psicólogo poderá ajudar a compreender e clarear os sinais tóxicos da relação e pensar em estratégias de como lidar com a situação. Durante o acompanhamento psicológico, será possível identificar padrões e gatilhos que fazem a manutenção dessa relação tóxica, além de auxiliar nos cuidados com as consequências causadas pelo relacionamento tóxico. Em alguns casos, será necessária a ajuda de um médico psiquiatra, pois o relacionamento tóxico pode causar intensos sintomas de depressão e ansiedade que farão com que seja necessário o uso de medicações.
Terapia de casal pode ajudar?
A terapia de casal, em alguns casos, pode trazer resultados positivos para o casal, onde ambos irão aprender a lidar com a situação. Mas, nem sempre, quando existe uma relação tóxica, o agressor aceita o tratamento. Para o agressor, pode ser difícil ceder os ganhos que tem em uma relação tóxica e, nesses casos, a terapia de casal não trará resultados positivos e indica-se para a pessoa que está sendo manipulada, o distanciamento físico e emocional.
Ligue 180
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgão competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento.
Não perca mais tempo! Busque ajuda!
(*) Alessandra Diehl – É psiquiatra em Londrina e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD). Rogério Bosso – É psicólogo em Campinas e coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Campinas – Taquaral.
Foto: Reprodução/Instagram
1 comentário
Esse artigo além de ser uma análise real a respeito da toxidade nos relacionamentos, é informativo, para que todos tenham conhecimento sobre uma temática que, embora exista desde sempre, atualmente parece ser “normal” para vários casais. Parabéns para os autores.